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  • Daniel Arthur

Resposta ao “Tik Toker” Juan Oliveira sobre a Igreja e o Papado - Parte I

Há algumas semanas o influencer protestante Juan Oliveira publicou um e-book intitulado “Nenhum Caminho Leva a Roma: o percurso até o protestantismo”, tal livro, segundo o próprio autor, seria o “TERROR DO CATOLICISMO”. Pois bem, nós da Fraternidade Newman Brasil fizemos questão de adquirir o seu livro e submetê-lo a minuciosa análise. Baldado esforço teríamos despendido em ler tal opúsculo se acaso antes não tivéssemos entrado em acordo em cada um se responsabilizar por tal ou qual parte do livro – digo baldado esforço porque o livro não vale a pena o tempo perdido; nada traz de novo senão os erros gramáticos e lógicos para os quais o autor demonstra ter habilidade para dar e vender.



A começar pelo título e subtítulo da obra que faz alusão ao conhecidíssimo livro do casal Hahn “Todos os Caminhos a Roma”. Mas teremos que ensinar lógica básica ao nosso querido autor, haja vista que a contraditória de “Todo S é P” não é “Nenhum S é P”, mas sim “Algum S não é P”. “Todo” e “Nenhum” são contrários, não contraditórios nos exemplos dados. Qual a importância dessa sutil distinção? Ora, se tais proposições são contrárias, provando a falsidade de uma não se prova a veracidade da outra. O Catolicismo pode ser falso e nada obsta a que o(s) Protestantismo(s) também o seja. Portanto, a quantidade de “heresia” (sic) que existe no Catolicismo Romano não nos “leva logicamente ao Protestantismo”, como afirma o autor em um de seus vídeos.


Para provar a falsidade de uma universal afirmativa (todos os caminhos levam a Roma) deve-se provar a veracidade de uma particular negativa (algum caminho não leva a Roma), pois, entre duas contraditórias, uma necessariamente deve ser verdadeira e a outra falsa. Entre duas contrárias, por sua vez, embora não possam ambas serem verdadeiras, podem ambas serem falsas. Daí que a falsidade do Catolicismo não à veracidade do Protestantismo.


Pois bem, deixemos essa questão de lado no momento e foquemos no assunto do presente texto: os capítulos 1 e 2 do livro do Juan. Saibam os leitores que em menos de uma semana o livro teve 3 edições, tendo um aumento considerável de páginas entre a primeira e a terceira edição (de 53 para 124). Apesar de ter havido algumas correções nas referências e supressões de algumas citações (o autor chegou a citar o Doutor Angélico da seguinte maneira na nota 14 da segunda edição de seu livro: “Suma Teológica, art. 8”), os capítulos que trataremos aqui continuaram sendo uns dos mais superficiais e desastrosos da sua obra, como mostraremos aqui. Assim, sem mais delonga, iniciemos nossa resposta.


Fundação da Igreja e o Papado


1 . A primeira Igreja?


O primeiro parágrafo do livro dele já começa falando uma coisa totalmente sem sentido:


“Antes mesmo do cristianismo chegar em Roma, existiam diversas igrejas espalhadas pelo mundo, sendo as primeiras igrejas consolidadas em Israel. Mas até hoje a Igreja Católica Apostólica Romana teima em dizer que é a única igreja de Cristo, e que ela foi fundada por Cristo, tendo o apóstolo Pedro como o primeiro Papa.”


Eu gostaria mesmo de saber o que uma coisa tem a ver com a outra. Que haviam outras igrejas antes da igreja de Roma em nada implica que a Igreja Católica não seja a única Igreja de Cristo. Vejam bem, há igrejas com “i” minúsculo e a Igreja com “I” maiúsculo; “igreja” refere-se às comunidades locais onde os cristãos se reúnem e, nesse sentido, fala-se da igreja matriz, da igreja do bairro, da igreja dos capuchinhos, etc; “Igreja”, por sua vez, refere-se à instituição humana e divina (como seu fundador) que congrega os fiéis cristãos sobre a mesma Fé, o mesmo culto, os mesmos Sacramentos e a mesma autoridade, é a Igreja que é o corpo de Cristo (Cl 1, 18). Esta Igreja é única e sua sede, afirmamos, é em Roma.


Nesse sentido, a objeção do autor falha em compreender o tema pela raiz. Ele parece entender a expressão “Prima sedes” (Primeira Sé), com que nos referimos à Sé de Roma, ou ainda a expressão “Igreja Antiquíssima”, como se esses termos devessem ser entendidos como se o termo “prima” (primeira) significasse uma anterioridade temporal, e “Antiquíssima” como se fosse a mais antiga. Mas sejamos caridosos com nosso objetor. Ele deve conhecer  a distinção entre prioridade de tempo e prioridade de natureza, ele deve saber que constantemente nos referimos aos líderes de algum grupo como “os primeiros entre os seus”, como quando falamos que um aluno é o primeiro da turma, ele deve saber que “primeiro” também pode significar o primeiro em grau de autoridade ou honra. Não é possível, afinal, que ele literalmente ache que os católicos acreditam que a igreja fundada em Roma foi realmente a primeira igreja ou comunidade cristã do mundo. Usemos de caridade hermenêutica. Assim, vejamos o que ele tem a nos dizer no parágrafo seguinte:


“Não existe a menor possibilidade de a igreja Romana ser a primeira, visto que já havia muitas outras antes” (p. 4). 


Esqueçam tudo o que dissemos. Ele literalmente acha aquilo mesmo. O autor do livro que se vendeu como “o terror do Catolicismo” realmente confunde alhos com bugalhos. 


O termo “antiquíssima” não significa que a Igreja de Roma seja a mais antiga cronologicamente, mas que a sua posição dentro da Igreja universal merece o título simbólico de “mais antiga”. Com efeito, na Sagrada Escritura e nos escritos dos primeiros cristãos, “ancião” significa “importante” ou mesmo “ter poder”. É assim que no Novo Testamento os “Anciãos” são os sacerdotes e líderes das comunidades, sem que isso signifique necessariamente que sejam os mais velhos. De facto, São Paulo disse a Timóteo: “Ninguém te despreze por causa da tua juventude” (I Timóteo 4, 12), enquanto Timóteo é certamente um “ancião” porque é o bispo de Éfeso. E além de seu cargo episcopal, Timóteo não é qualquer um na Igreja emergente porque São Paulo fez dele o seu principal representante junto à Igreja de Corinto: 1Cor 4, 17.


2 . O Magistério


“Já o magistério da igreja é o órgão que tem o poder de dar a revelação “correta” das escrituras e de difundir os ensinamentos da tradição.” (p. 7)


Aqui fica claro a total ignorância do autor sobre a Doutrina Católica. Dar a revelação correta, senhor Juan? Que história é essa? Isso só pode sair da mente de alguém que não domina o básico sobre Catolicismo, que se informa por grupo de WhatsApp (como ficou demonstrado na Introdução) e que palpita como se tivesse autoridade sobre o assunto. Vejamos o que realmente a Igreja Católica ensina sobre a Revelação e o Magistério. Primeiro a Revelação:


A Economia cristã, portanto, como aliança nova e definitiva, jamais passará, e já não há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo.” (Dei Verbum, n. 4)

E o Catecismo da Igreja complementa:


Todavia, embora a Revelação esteja terminada, não está explicitada por completo; caberá à fé cristã  captar gradualmente todo o seu alcance ao longo dos séculos. No decurso dos séculos houve revelações denominadas “privadas”, e algumas delas têm sido reconhecidas pela autoridade da Igreja. ELAS NÃO PERTENCEM, CONTUDO, AO DEPÓSITO DA FÉ. A função delas não é “melhorar” ou “completar” a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a viver dela com mais plenitude em determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o senso dos fiéis sabe discernir e acolher o que nessas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou de seus santos à Igreja. A fé cristã não pode aceitar “revelações” que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação da qual Cristo é a perfeição. Este é o caso de certas religiões não cristãs e também de certas seitas recentes que se fundam em tais “revelações”. (CIC, n. 66-67)

Agora sobre o Magistério:


“O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo” (DV, 10), isto é, foi confiado aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma. “Todavia, tal Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino, com a assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe, e deste único depósito de fé tira o que nos propõe para ser crido como divinamente revelado” (DV, n. 10). Os fiéis, lembrando-se da palavra de Cristo a seus apóstolos: “Quem vos ouve a mim ouve” (Lc 10, 16), recebem com docilidade os ensinamentos e as diretrizes que seus Pastores lhes dão sob diferentes formas. (CIC, n. 85-87)

Qualquer leitor honesto chegará à única conclusão possível: para a Igreja Católica, a Revelação acabou com os Apóstolos! De lá para cá só o que temos são revelações privadas, revelações estas que não pertencem ao Depósito da Fé, ou seja, não somos obrigados a crer nelas. A função do Magistério, portanto, não é nos dar novas revelações ou corrigir a Revelação dada, mas sim fielmente interpretar a única e definitiva Revelação dada a nós em Cristo Jesus. Ainda na mesma página, o autor diz:


“O problema é que a grande maioria das tradições católicas e dos entendimentos do magistério conflitam diretamente com as escrituras.”


O grande intelectual Juan Oliveira é incapaz de pensar um segundo sequer fora da caixinha a qual o Protestantismo pôs sua mente. Será que ele não consegue compreender que a afirmação “Isso contraria as Escrituras”, na verdade, quer dizer apenas “Isso contradiz a minha interpretação das Escrituras”. Pois vejam que os próprios protestantes não conseguem chegar a uma interpretação que chegue ao menos perto de uma unanimidade sobre os pontos principais da Fé Cristã. Por que isso? Justamente porque essa história de que a Bíblia interpreta a própria Bíblia é uma das maiores mentiras que existem. Nenhum livro interpreta a si mesmo! Sempre será necessário que alguém leia o seu conteúdo e o interprete, e mesmo se uma passagem interprete a outra, ainda assim será necessário interpretar a interpretação. Desse modo, é logicamente necessário que Cristo tenha nos deixado algum meio de interpretar sem erro as Escrituras, ou seja, alguma autoridade.


Então, senhor Oliveira, sob qual autoridade o senhor arroga para si a capacidade de julgar o que contraria as Escrituras? O senhor Juan, como bom protestante que é, defende o livre exame, i.e, que todos os fiéis, “guiados pelo Espírito Santo”, teriam a capacidade de examinar e entender as Escrituras. Mas como os protestantes não entram em acordo sobre a interpretação da Bíblia, esse princípio cai por terra. Eles tratam a Bíblia como se fosse o livro mais fácil do mundo, ao ponto de citarem um único versículo bíblico para “refutar” toda uma Doutrina Católica (como é o caso do Purgatório que eles julgam refutar citando Jo 19, 30). Ademais, a pretensão de que a Bíblia é simples, é desmentida pela própria Bíblia. Longe de apoiar essa ideia,  São Pedro, falando das epístolas de Sã Paulo, declara que  nelas há "coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e versáteis deturpam, como o fazem também  com as outras escrituras, para a sua própria ruína"  (2 Pd 3, 16) [1]


Assim, lemos nos Atos  dos Apóstolos que, quando Filipe achou o Etíope lendo  a Bíblia, disse-lhe: "Pensas que entendes o que lês?"  E o homem respondeu: "E como posso eu entendê-lo se ninguém mo mostra?" Então Filipe, em nome  da Igreja, interpretou para ele as Escrituras (At 8,  27-39).  A BÍBLIA NÃO INTERPRETA A SI MESMA!!!


Aqui vale uma observação: Poderíamos seguir todos os passos do senhor Juan Oliveira, refutando todos os parágrafos errados desse seu primeiro capítulo, no entanto, isso não será necessário, uma vez que ele repete praticamente toda a página 8be parte da 9 nas páginas 42 e 43 de seu PDF. Portanto, deixaremos para tratar de 2Ts 2,15 e sobre os bereanos no capítulo referente à Sola Scriptura.


3 . Pedro, o primeiro Papa


No segundo capítulo de seu livro, Juan se põe a tentar demonstrar o porquê de Pedro não ter sido o primeiro Papa, além de que a interpretação católica sobre quem seria a pedra de Mt 16, 18 estaria errada. Vamos nos concentrar primeiro sobre a interpretação dele de Mt 16, 18 e depois dar a verdadeira interpretação católica.


“Os católicos romanos, para enfatizar que Pedro foi o primeiro papa, usam como base o livro de Mateus 16.18-19” (p. 10)


Sim e não. Usamos sim essa passagem, mas não usamos somente essa passagem. Incrível que ao longo do seu capítulo ele não aborda as passagens capitais tais como Lc 22, 31-32 ou Jo 21, 15-17 que também são vastamente usadas na literatura apologética católica. 


“Entretanto, se formos fazer uma análise melhor do contexto bíblico deste capítulo, veremos que isso não favorece a crença dos católicos romanos. Primeiro temos que analisar uns versículos antes, em Mateus 16.13-17, que diz: ‘E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem?; E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas; Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou?; E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo; E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus’”. (pp. 10-11)


Ok, até aqui nenhum erro, ele apresentou a passagem em seu devido contexto. O problema começa quando ele se propõe a interpretar a passagem. Aí, meus amigos, começa o show de horrores. Primeiro porque ele não traz absolutamente nada de novo ao debate, segundo, ele ainda traz algo em uma qualidade ainda inferior àqueles que o precederam. Se o Pe. Franca pôde dizer que Ernesto Luiz de Oliveira era menor do que Eduardo Carlos Pereira, podemos dizer que o Juan Oliveira é menor do que todos os que vieram antes dele. E isso sem exagero, tanto pelos motivos que expomos na introdução, como pelo que demonstraremos aqui.


“Perceba que Jesus se tratou de uma revelação, que não partiu de Pedro, mas do Deus Pai. E logo em seguida Jesus afirma: ‘Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela’. A pedra é o próprio Cristo, Jesus estava se referindo a revelação que Pedro recebeu, de que Jesus era o Cristo e filho do Deus vivo. É sobre essa pedra (Cristo) que a igreja seria edificada. No livro do próprio apostolo Pedro, em 1 Pedro 2.4, Pedro chama Jesus de pedra viva e eleita por Deus: “E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa”. Mais adiante, no versículo 6, Pedro reafirma que Jesus é a pedra em que devemos crer, é a pedra que a igreja deve crer: ‘Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido’”. (p. 11)


Primeiro, de onde o Juan tirou que os católicos creem que a Revelação venha de Pedro ou que o Papa tenha poder para dar alguma nova Revelação. Esse é um expediente repetido pelo nosso autor: atribui coisas aos católicos que eles nunca defenderam. Já demonstramos qual seja a Doutrina Católica acerca disso. Portanto, bater na tecla que o que Pedro proclamou foi uma revelação que ele recebeu do Pai não leva a lugar nenhum. Mas o mais importante vem em seguida: a identidade da Pedra.


4 . A Pedra de Mt 16, 18.


Juan, contrariando os próprios eruditos protestantes, afirma que Jesus e não Pedro seja a pedra da passagem em questão. Aqui daremos as razões IRREFUTÁVEIS de por que a pedra é Pedro. O Aramaico não faz distinção entre “Pedro” e “pedra.


Muitas vezes os protestantes, para fugirem do inevitável, buscam argumentar que, em grego, “Petros” significaria “pedrinha”, enquanto “petra” significaria “rocha”. Com isso eles argumentam que Pedro não poderia ser a pedra sobre a qual Jesus edificou sua Igreja, pois Pedro é a pedrinha, mas Jesus edificou sua Igreja sobre a rocha. Entretanto, lembremos que o evangelho de Mateus não foi escrito originalmente em grego, mas sim muito provavelmente em aramaico, como atesta Santo Irineu no séc II: "Mateus também redigiu um Evangelho, escrito entre os hebreus e NO PRÓPRIO DIALETO DELES, enquanto Pedro e Paulo estavam pregando em Roma..." (Contra as Heresias 3.1.1), e Eusébio o confirma: "Então Mateus escreveu os oráculos em IDIOMA HEBRAICO, e todos os interpretavam como podiam" (História Eclesiástica, Livro 3. 39).


Faz-se mister aqui esclarecer um ponto: o tal “dialeto deles” (dos hebreus) o tal “idioma hebraico” era uma forma comum de referir-se ao aramaico. Vejam o que diz a passagem de At 21, 40, por exemplo:


Dando-lhe a permissão, Paulo, de pé sobre os degraus, fez sinal com a mão ao povo. Fazendo-se grande silêncio, dirigiu-lhes a palavra EM LÍNGUA HEBRAICA.


E o que diz-nos a nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém? Vejamos:


b) Provavelmente  aramaico (cf. 26, 14). Ou seja, o idioma ou língua hebraica era uma maneira comum de referir-se ao aramaico, que era falado pela maioria esmagadora dos judeus da palestina. É o que afirma-nos Daniel Rops:


Uma importante mudança lingüística teve origem nesse período: o aramaico falado pelos sírios passou a predominar através de quase todo o Oriente Próximo , e particularmente na terra de Canaã, onde penetrou mais facilmente porque logo depois os israelitas foram deportados de seu país por Nabucodonosor. Quando voltaram da Babilônia os exilados encontraram os arameus vivendo na Palestina e a língua aramaica em uso corrente: eles adotaram-na – uma volta curiosa às suas origens. (ROPS, 2008, p. 48)

Portanto, qual era a língua que Jesus falava? A língua falada por Ele era o aramaico. Ora, em aramaico não há essa distinção de palavras para Pedro e pedra. Assim, é utilizada uma única e mesma palavra, a palavra “kepha”. Portanto, originalmente nem Mateus em seu evangelho e nem Jesus em sua fala utilizaram os termos “Petros” e “petra”. Como se trata da mesma palavra em aramaico, a passagem fica mais ou menos assim: “Tu és Pedro (Kepha) e sobre esta pedra (kepha) edificarei a minha Igreja”.


E para que não nos acusem de afirmar algo sem provar, recorramos ao PROTESTANTE Craig S. Keener em seu comentário ao Novo Testamento. Vejam o que ele diz:


"Em aramaico, 'Pedro' e Rocha são a mesma palavra; em grego (aqui), são termos cognatos usados ​​de forma intercambiável neste período" (KEENER, 2014, p. 86)

O livro é esse, a ediçãoAbaixo a passagem destaque na página 86 e o livro na edição de 2014:




Tudo isso para que ninguém possa acusar-nos de falsificação. É assim, senhor Juan, que se faz apologética! Não é usando Chat GPT. É por isso que os protestantes tentam de todas as formas fugir do aramaico, pois ele não lhes permite usarem de sua evasiva. Recorrem, assim, ao grego para tentarem sustentar suas posições. Mas nem assim eles têm sucesso. Vamos ao grego.


5 . Mas e o grego?


Como dito, já que o aramaico não lhes deixa brecha, os protestantes recorrem ao texto grego, mas nem isso lhes ajuda. Eles criam em suas cabeças a falsa dicotomia entre “Petros” e “petra”, como se Jesus estivesse simplesmente fazendo um trocadilho com o nome de Pedro: “Tu és uma pedrinha, mas eu edificarei a minha Igreja sobre a rocha”. Observem o absurdo dessa posição. Qual seria o motivo de Cristo ter dado um novo nome a Simão que significa justamente  pedra (Jo 1, 42), se com isso Ele não tivesse nenhuma outra intenção senão apenas fazer um trocadilho com o novo dado e indicar que a Igreja não seria edificada sobre Simão.


Qual o sentido disso? Quem pode sondar os pensamentos do Juan e decifrar o que se passa ali? No fundo, o que Jesus teria feito seria apenas uma grande pegadinha com Simão! Vejam o ridículo da interpretação protestante que distorcem o texto para que Cristo diga: “Simão, tu és pedra, mas não edificarei sobre ti a minha Igreja porque és pedrinha, mas sim sobre mim que sou rocha forte”. E o que mais se estranha é que tais palavras proferidas por Cristo a Simão seriam recompensas por sua profissão de Fé. Como dito, tal interpretação faz com que o próprio nome de Pedro não passe de uma brincadeira de mal gosto, de um flatus vocis, nada mais.


Mas, como eu disse, sequer o grego pode vir em ajuda do Juan nesse momento, pois é perfeitamente possível identificar Pedro com a pedra mesmo no texto grego. E digo mais: é a única via possível pela gramática grega!!! Mas deixemos os eruditos protestantes com a palavra, além do supracitado Craig S. Keener.


"Embora seja verdade que 'petros' e 'petra' podem significar 'pedra' e 'rocha' respectivamente no grego anterior, a distinção é amplamente confinada à poesia" (GAEBELEIN, 1984, p. 368) [4].

Agora o próprio Calvino:


"Admito que em grego Pedro ('Petros') e pedra ('petra') significam a mesma coisa, exceto que a primeira palavra é ática [do antigo dialeto grego clássico da região da Ática], a segunda da língua comum". (Calvin's New Testament Commentaries: The Harmony of the Gospels Matthew, Mark, and Luke, vol. 2. trad. THL Parker, ed. David W. Torrance e Thomas F. Torrance. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1972, p. 295) [5].

E o que nos diz o famosos léxico grego de Strong tão usado pelos protestantes? Vejamos primeiro o que ele nos diz sobre a “petra” na página 1591:


4073 πετρα petra do mesmo que 4074; TDNT - 6:95,834; n f 

1) rocha, penhasco ou cordilheira de pedra

1a) rocha projetada, penhasco, solo rochoso  

1b) rocha, grande pedra

1c) metáf. homem como uma rocha, por razão de sua firmeza e força de espírito


Vejam que ele diz “petra” é o mesmo que idem 4074 do  léxico. Ora, qual seria o idem 4074? Vejamos na página seguinte que diz sobre “Petros”:


“4074 πετρος  Petros aparentemente, palavra primária; TDNT - 6:100,835; n pr m Pedro = “uma rocha ou uma pedra”  "um dos doze discípulos de Jesus”


Assim, segundo o grande estudioso protestante, James Strong [6], “Petros” e “petra” são intercambiáveis. Para encerrar esse tópico, citemos apenas mais uma obra protestante:


“O trocadilho óbvio que tem feito o seu caminho para o  texto grego também sugere uma identidade material entre petra e Petros, tanto mais que é impossível diferenciar estritamente entre os significados das duas palavras.” (FRIEDRICH et al, 1968, pp. 98-99)

Assim, provamos com a opinião de especialistas TODOS PROTESTANTES que as palavras :Petros” e “petra” devem significar a mesma coisa. Agora tratemos de provar outro ponto., que será o tema do próximo tópico:

Duas palavras gregas diferentes são usadas porque não se pode usar um substantivo feminino para o nome de um homem.


Resta agora a seguinte questão que o senhor Juan Oliveira poderia nos fazer em uma possível tentativa futura de responder nosso livro. Pois adiantando seus movimentos, o colocaremos em check antecipadamente; prevendo suas investidas, refutamo-las desde já. Pois bem, o senhor Oliveira provavelmente nesse momento deve estar a pesquisar em blogs e em livretos de apologética o que objetar a nós, pois não se envergonhe, ó terro do Catolicismo, nós lhe ajudaremos e lhe entregaremos de graça a seguinte objeção: se Pedro e pedra, em grego, tem o mesmo significado, então por que não é utilizada uma única e mesma palavra como ocorre no aramaico?


Ora, isso não apresenta dificuldade alguma. Isso se deve ao fato de que a palavra “petra” é feminina e uma vez que não é comum um homem grego ter um nome próprio feminino, os autores gregos, assim como provavelmente os próprios interlocutores dos evangelhos, declinavam o substantivo feminino “petra” para o seu masculino, “petro”. Mas assim como não há mudança de significado entre “professor” e “professora” em português, assim também no grego não há mudança de significado entre as duas palavras, mas tão somente de gênero.


“No texto grego, como em português, aparecem duas formas em 'tu és Pedro  (Petros), e sobre esta pedra (petra). Ambas as palavras significam “rocha”, sendo a forma masculina, Petros, apropriada para se referir a um homem. A  forma feminina, petra, corresponde à  forma feminina,  Kepha. É quase certo que Jesus tenha falado em aramaico e não em grego. Entre as evidências que demonstram esta declaração está o paralelo de João 1:42: “Tu és  Simão, filho de João; tu serás chamado  Cefas (que quer dizer Pedro).” Tanto  quanto se conhece, nenhum jogo de palavras era possível com “rocha”, em ara­maico, em que uma só palavra servisse  para Petros e petra. A declaração aramaica teria sido: 'Tu és Kepha e sobre esta Kepha'" (Comentário Bíblico Broadman’, Juerp, Rio de Janeiro, 1983, Vol.VIII,  p.217)

Abaixo uma foto do trecho do livro do Comentário Bíblico PROTESTANTE:


 

Agora voltemos ao protestante Gaebelin: 


"O grego faz a distinção entre 'petros' e 'petra' simplesmente porque está tentando preservar o trocadilho, e em grego o feminino 'petra' não poderia servir como um nome masculino". (GAEBELEIN, 1984, p.368)

E quanto ao Richard France, o que ele tem a nos dizer?


"Este novo nome, Petros, representando o aramaico Kepha, ‘pedra’ ou ‘rocha’ é virtualmente desconhecido como nome pessoal no mundo antigo, o que torna mais provável que Jesus o tenha escolhido para Simão tendo em vista o seu significado literal. Ele deve ser uma ‘Rocha’. E uma função importante de uma rocha, como 7:24-27 nos lembra, é fornecer um alicerce firme para um edifício. Portanto, sobre esta pedra Jesus edificará a sua igreja, e ela estará segura para sempre." (FRANCE, 2007, pp 619-620), 

E diz mais


"Se Jesus estivesse falando em aramaico, não haveria diferença alguma, com kepha ocorrendo em ambos os lugares. A razão para a forma grega diferente é simplesmente que Pedro, como homem. precisa de um nome masculino, por isso a forma Petros foi cunhada. Mas o fluxo da frase deixa claro que o jogo de palavras pretende identificar Pedro como a rocha." (Idem, p. 620)

Assim está provado cabalmente a verdade cristalina que emerge do texto límpido. Até os eruditos protestantes o admitem!!! SIM, SENHOR JUAN OLIVEIRA, PEDRO É A PEDRA DE MT 16, 18!!! Não adianta espernear, gritar, babar ou usar chat gpt, a verdade é apenas uma. É o que diz-nos o protestante Gerard Maier:


“Hoje em dia emergiu um amplo consenso que - de acordo com as palavras do texto - aplica a promessa a Pedro como pessoa. Neste ponto, teólogos liberais (HJ Holtzmann, E. Schweiger) e conservadores (Cullmann, Flew) concordam, bem como representantes da Exegese Católica Romana" (MAIER, 1984, pp, 37-38.).

Não basta? Pois então citemos mais um comentário bíblico PROTESTANTE:


"A MAIOR PARTE DOS ERUDITOS CRÊ QUE O PRÓPRIO PEDRO É A PEDRA" (Novo Comentário Bíblico Contemporâneo - Mateus, Editora Vida, 1996 , p. 172).

É essa a verdade, senhor Juan. Não se esconda atrás de outros apologistas, assuma a sua bronca! Admita a sua ignorância e abandone a apologética. Deixe que os adultos tratem-na. O quê? Ainda não está bom para você? Pois que não seja por isso, que tal ainda Rohden:


"...exímios luminares do protestantismo como Bengel, Barns...Godet, Broadus, Bonnet, Bruce, Plummer, David, Smith, Meffat, Cook, Farrar, Sunday...e o príncipe dos comentadores reformados Meyer - SUSTENTAM, com o grosso dos atuais exegetas católicos romanos, QUE A PEDRA É PEDRO" (ROHDEN, 1946, p. 197)

Dentre os autores citados por Rohden se encontra o batista Broadus. Vejamos na íntegra a sua opinião:


"Como Pedro significa pedra, A INTERPRETAÇÃO NATURAL É QUE "SOBRE ESTA PEDRA" SIGNIFICA "SOBRE TI". Nenhuma outra explicação até ao presente seria tentada, não fosse o fato que A EXPLICAÇÃO EVIDENTE tem sido pervertida [sic!] pelos papistas, no apoio da sua teoria. Mas não devemos permitir que o abuso de uma verdade nos afaste do seu legítimo uso; nem deve a conveniência da controvérsia religiosa, determinar a nossa interpretação do ensino da Escritura.


As outras interpretações que têm sido propostas, são, que a pedra foi a confissão de Pedro (ou a sua fé), e que a pedra é Cristo.

Ora, à parte a perversão romanista [sic!], fazem-se outras objeções à INTERPRETAÇÃO NATURAL. Alguns argumentam que um jogo de palavras como "tu és Pedro, e sobre esta pedra", é indigno de Nosso Senhor. Mas há de fato um jogo de palavras, qualquer que seja a interpretação que se lhe dê. E esse jogo de palavras se torna muito mais forçado e áspero se entendermos que a pedra é Cristo; enquanto que se torna quase despercebido se a pedra for considerada a confissão de Pedro...


...O fato que "pedra" em outras partes da Escritura é algumas vezes aplicada a Deus e nunca ao homem...pode-se explicar com o outro fato que Nosso Senhor deu a este mesmo homem o nome de pedra (João 1:42), e aqui empenha-se em chamá-lo por tal nome...


...Muitos insistem na distinção entre duas palavras gregas, "tu és petros e sobre esta petra", argumentando que se a pedra tivesse significado Pedro, então "petros" ou "petra" teria sido usado de ambas as vezes, e que "petros" significa uma pedra solta, ou um fragmento tirado da rocha, enquanto que "petra" é a rocha maciça. Mas essa distinção é quase inteiramente circunscrita à poesia...Também se "petros" tivesse sido usado de ambas as vezes no grego, teria significado "tu és Pedro, e sobre este Pedro", sem mostrar distintamente o jogo de palavras; E NÃO TERIA SIDO NATURAL PARA MATEUS ESCREVER "TU ÉS PETRA (FEMININO), quando ele tem estado constantemente escrevendo o nome do apóstolo Simão Pedro (masculino).


Mas a resposta principal aqui é que Nosso Senhor inquestionavelmente falou em aramaico, que não tem meios conhecidos de fazer uma tal distinção. A Peshito (aramaico ocidental) traduz: "TU ÉS KIPHO E SOBRE ESTE KIPHO". No aramaico oriental (falado na Palestina no tempo de Cristo) deveria necessariamente ter dito de modo semelhante: "TU ÉS KEPHA E SOBRE ESTA KEPHA."...Beza chamou a atenção ao fato que é assim semelhantemente em francês: "TU ÉS PIERRE E SOBRE ESTA PIERRE"; e Nicholson sugere que nós podíamos dizer: "TU ÉS PIERS (Pedro no inglês antigo) E SOBRE ESTA PIER."

NOTE-SE QUE JESUS NÃO PODIA AQUI REFERIR-SE A SI MESMO COMO A PEDRA, coerentemente com a figura na qual ele é o edificador. Dizer: "Eu edificarei...Eu sou a rocha sobre a qual edificarei", seria uma figura confusa. A sugestão de alguns expositores, que ao dizer "tu és Pedro, e sobre esta pedra", referia-se a ele [Jesus] , envolve um artificialismo repulsivo a qualquer mentalidade." (BROADUS, 1948, pp. 86-87).


Desse modo, ficou mais do que provado que a exegese superficial do senhor Juan Oliveira não se coaduna com a gramática grega da passagem, não se sustenta à luz do atual status quaestionis na Academia e é totalmente alheio às opiniões do especialistas protestantes no tema.


Em suma, são considerados estes pontos pelos ERUDITOS PROTESTANTES, dentre os quais não podemos elencar o senhor Juan:


• Não há distinção de significado entre "petros" e "petra".

• Duas palavras gregas diferentes são usadas porque não se pode usar um substantivo feminino para o nome de um homem.

• "Esta pedra" refere-se a Pedro.

• A identidade da rocha ("petra") é afirmada pelo aramaico que Jesus estava falando.

Aqui poderíamos citar ainda dois outros pontos:

• As chaves simbolizam autoridade sobre a casa.

• A posição de Pedro é como a do mordomo em Is 22, 22.


Mas para não ficar um texto demasiadamente prolongado, contentamo-nos com o que nos foi já apresentado. Assim prossigamos em nossas razões para afirmamos o primado petrino do bispo de Roma na parte 2 de nossa resposta.


NOTAS


[1] RUMBLE, L. A Teoria de “A Bíblia somente”. Disponível em:Aqui. Acesso em 23 de set. de 2023.


[2] Comentário Bíblico Broadman’, Juerp, Rio de Janeiro, 1983, Vol.VIII,  p.217.


[3] A versão digital da obra pode ser consultada aqui: Aqui.  Acesso em 24 de set. de 2023.


[4] Pode ser lido aqui: Aqui. Acessado em 24 de set. de 2023.


[5] Disponível em Aqui. Acesso em 22 de set. de 2023


[6] Os leitores interessados podem saber mais sobre a opinião dos eruditos protestantes consultando o seguinte link: Aqui Acesso em 23 de set. de 2023.


BIBLIOGRAFIA


BROADUS, Jhon A. Comentário do Evangelho de Mateus, v. II, Casa Publicadora Batista, 1948.


Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Edições Loyola, 2000.


FRANCA, Leonel. A Igreja, a Reforma e a Civilização. 1ª ed. São Paulo: Calvariae, 2020


FRANCE, Richard Thomas. The Gospel of Matthew. Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans Pub. 2007.


FRIEDRICH, Gerhard, et al. Theological Dictionary of the New Testament, vol. VI. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1968.


GAEBELIN, Frank E. The Expositor's Bible Commentary: Volume 8 (Matthew, Mark, Luke). Grand Rapids, MI: Zondervan, 1984.


KEENER, Craig S. The IVP Bible Background Commentary New Testament. Downer's Grove, IL: Intervarsity Press, 2014.


MAIER, Gerard, "The Church in the Gospel of Matthew: Hermeneutical analysis of the current debate". trad. Harold HP Dressler, IN: DA Carson, ed., Biblical Interpretation and Church Text and Context. Flemington Markets, NSW: Paternoster Press, 1984, pp, 37-38.


Novo Comentário Bíblico Contemporâneo - Mateus, Editora Vida, 1996.


REGA, Lourenço Stelio, BERGMANN, Johannes. Noções do grego bíblico : gramática fundamental. — São Paulo : Vida Nova, 2004.


Comentário Bíblico Broadman’, Juerp, Rio de Janeiro, 1983, Vol.VIII.


ROHDEN, Humberto. Agostinho, Epasa, Rio de Janeiro, 1946.

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