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  • Lucas Sousa

Porque devemos venerar e pedir a intercessão dos Santos

"Culto aos Santos", do Tratado de Mariologia do Pe. Joseph Pohle.


“O primeiro e mais importante ponto a ser observado em relação ao Dogma católico do culto aos santos é que tanto a Dulia, ou seja, o culto que prestamos aos santos em geral, quanto a Hiperdulia, ou seja, aquele culto específico que prestamos em particular à Santíssima Virgem, diferem formal e essencialmente do culto Divino devido ao Deus Todo-Poderoso (Latria).


A diferença entre Dulia (incluindo Hiperdulia ) e Latria é tão vasta quanto o abismo que separa a criatura de seu criador. A relação entre dulia e latria, como aquela entre criatura e Criador, é puramente analógica.¹ Seus objetos formais são separados e distintos. O objeto formal da latria é a Virtus Religionis; a de dulia, a Virtus Observantiae.² Essa distinção é suficiente para refutar a acusação odiosa, às vezes feita contra os católicos, de que eles adoram a Virgem Maria e os santos. Por sua própria natureza, o culto que prestamos aos santos não tem nada em comum com a idolatria.³ A Dulia assume a forma de veneração ou invocação. A veneração (veneratio) é o respeito e a reverência mostrados aos santos por eles mesmos. Invocação (invocatio) é pedir-lhes ajuda para promover nosso próprio bem-estar.


Deve-se notar, no entanto, que a invocação inclui logicamente, ou pelo menos pressupõe, certo respeito e reverência pela pessoa a quem é dirigida e, consequentemente, implica veneração. Honra e veneração não são termos sinônimos e não devem ser empregados de forma intercambiável. Deus honra seus santos, mas não os venera. A veneração conota logicamente um reconhecimento da excelência superior e humilde submissão à pessoa a quem é exibida. Daí o termo Dulia, de δουλεία, ou seja, serviço.


O cultus duliae que exibimos à pessoa de um santo é absoluto, em contraste com o culto meramente relativo que prestamos às relíquias e imagens sagradas. Outra diferença essencial é que relíquias e imagens, sendo objetos inanimados, podem ser veneradas, mas não invocadas. “Honra ou reverência”, diz São Tomás de Aquino, “é devida unicamente a criaturas racionais; aqueles desprovidos de razão podem ser honrados ou reverenciados apenas com respeito a alguma natureza racional”.⁴


É lícito e útil venerar e invocar os Santos e honrar as suas relíquias. Este é um dos dogmas mais antigos da Igreja Cristã. Ridicularizar e condenar a veneração dos Santos e suas relíquias, portanto, equivaleria a acusar a Igreja Primitiva de idolatria. O ensinamento católico a respeito do culto aos santos está sucintamente exposto na tese anexa.


Tese: Os santos do céu têm direito ao cultus duliae, e podemos, com proveito para nós, implorar-lhes que intercedam por nós junto a Deus. Esta tese incorpora dois artigos de Fé distintos.


PROVA DA PRIMEIRA PARTE


O Concílio de Trento define: “A honra que lhes é dada [as imagens] refere-se aos originais que elas representam; de tal maneira que, pelas imagens que beijamos e diante das quais descobrimos nossas cabeças, ou nos ajoelhamos, adoramos a Cristo e veneramos seus santos, cuja semelhança eles carregam”. então, a fortiori, deve ser permitido venerar os próprios santos.


a) É verdade que a Sagrada Escritura, enquanto louva e aprova o culto dos anjos⁶, nada diz sobre a veneração dos Santos. Mas o que diz dos anjos pode ser aplicado com segurança aos santos no céu. A Bíblia até nos fala de veneração religiosa prestada a pessoas santas na terra.⁷ Ao advertir os colossenses contra o “culto dos anjos” (Col 2,18), São Paulo tinha em mente a adoração de æons como praticada por certos judeus e gnósticos.⁸ Uma dificuldade real contra nossa tese parece surgir de Ap. 19,10, onde o anjo aparecendo a São João declina a adoração oferecida a ele. "Prostrei-me aos seus pés para adorá-lo, mas ele me diz: “Não faças isso! Eu sou um servo⁹, como tu e teus irmãos, possuidores do tes­temunho de Jesus. Adora a Deus". Corretamente interpretada, no entanto, esta passagem confirma, em vez de refutar, a licitude da veneração dada aos anjos.


Pois quando São João “prostrou-se aos seus pés para adorar” o anjo, ele acreditou que o próprio Cristo estava diante dele e, nesse caso, era dever do anjo dissuadi-lo de seu erro e recusar a adoração oferecida; ou estava ciente de que a aparição era um anjo, e então julgou ser lícito e próprio “prostrar-se a seus pés para adorá-lo”, caso em que 𝘢𝘥𝘰𝘳𝘢𝘳𝘦 é evidentemente usado no sentido de venerari. Mas por que o Anjo recusou a adoração oferecida a ele? Ele mesmo dá a razão. Porque São João, sendo um apóstolo de Cristo, era seu “conservo”, o igual, como mensageiro divino, dos anjos, e sem obrigação de humilhar-se diante deles (Dulia= Servitus). Paulo e Barnabé impediram o povo de Listra de honrá-los, porque o culto oferecido era idólatra. Atos 14,11 sqq.:


"Vendo a multidão o que Paulo fizera, levantou a voz, gritando em língua licaônica: “Deuses em figura de homens baixaram a nós!”. Chamavam a Barnabé Zeus e a Paulo Hermes, porque era este quem dirigia a palavra. Um sacer­dote de Zeus Propóleos trouxe para as portas touros ornados de grinaldas, queren­do, de acordo com todo o povo, sacrificar-lhos."

b) A devoção aos anjos, especialmente aos anjos da guarda, parece ser mais antiga que o culto aos santos. Mas isso se deve inteiramente a condições históricas. A Igreja nascente teve primeiro que gerar santos antes de poder honrá-los. Também é fácil ver por que os mártires foram os primeiros santos a serem venerados. Os primeiros cristãos consideravam o martírio como o clímax da virtude cristã. Dar a vida pela Fé era obter o perdão de todos os pecados, a entrada imediata no céu e o privilégio de estar para sempre identificado com a sorte da Igreja na terra. As sepulturas dos mártires ao longo do tempo tornaram-se altares, e em pouco tempo a veneração de outros santos que não eram mártires, especialmente a Bem-Aventurada Virgem Maria, tornou-se mais popular.¹⁰


Tertuliano testemunha que em sua época a memória dos mártires era celebrada todos os anos.¹¹ São Cipriano diz: “Celebramos os sofrimentos dos mártires e seus dias com comemorações anuais".¹² Santo Agostinho defende vigorosamente a antiga prática cristã de venerar os mártires. “O povo cristão”, diz ele em seu tratado contra Fausto, o Maniqueu, “celebra a memória dos mártires com solenidade religiosa, … mártires. Pois que sacerdote, de pé diante do altar onde jazem seus corpos sagrados, já disse: Oferecemos [sacrifício] a ti, ó Pedro, ou Paulo, ou Cipriano? O que é oferecido, é oferecido a Deus, que coroou os mártires, perto dos lugares memoriais daqueles que Ele coroou, para que um afeto mais forte possa surgir dos próprios lugares para intensificar nosso amor tanto por aqueles que podemos imitar quanto por Ele. por cuja ajuda podemos imitá-los.


Nós veneramos os mártires, portanto, com aquele culto de amor e associação com o qual os santos de Deus são venerados nesta vida, ... tanto mais devotamente, porque eles venceram com segurança suas batalhas ... em grego chama-se λατρεία, termo para o qual não há equivalente em latim, pois significa certa servidão que em seu sentido próprio se deve apenas à Divindade”.¹³ Uma prova sólida da razoabilidade e utilidade da prática piedosa de venerar os Santos encontra-se nas festas e liturgias, nos cantos e hinos, nas homilias e sermões a eles dedicados, e nas igrejas e capelas erguidas em sua honra desde os primeiros tempos tanto no Oriente como no Ocidente.


PROVA DA SEGUNDA PARTE


O Concílio de Trento declara que a invocação dos santos é uma prática “boa e útil”: “É bom e útil invocá-los suplicante e refugiar-se em suas orações, poder e ajuda para obter os benefícios de Deus por meio de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor, que é o único Redentor e Salvador".¹⁴ Um dos primeiros opositores dessa doutrina foi Vigilâncio, um sacerdote na Gália (402 d.C.), que afirmou que invocar os santos era um costume pagão. Suas objeções foram refutadas por São Jerônimo. Nos tempos modernos, a negação protestante do dogma levou o Concílio Tridentino a defini-lo formalmente da seguinte forma: "São culpados de impiedade aqueles que negam que os Santos que gozam da felicidade eterna no Céu sejam invocados, ou que afirmam que não rezam pelos homens ou que os invocam para que rezem por nós, mesmo individualmente, são idolatras; ou que é contra a Palavra de Deus e contrário à honra de Jesus Cristo, o único mediador entre Deus e os homens, ou que é tolice orar de boca em boca ou mentalmente aos que reinam no céu”.¹⁵


a) A licitude da invocação dos anjos e dos santos pode ser comprovada direta e indiretamente pela Sagrada Escritura.


α) O argumento indireto é o seguinte: De acordo com a Sagrada Escritura, Deus frequentemente atendeu à intercessão de homens justos e santos enquanto ainda viviam na terra. Agora, a intercessão dos anjos e santos, que alcançaram seu objetivo final, é mais poderosa e eficaz do que a dos homens, por mais santos que sejam, que ainda correm o risco de cometer pecado. Se estes podem ser efetivamente solicitados por sua intercessão, o mesmo deve acontecer a fortiori com os anjos e santos, que são amigos de Deus em um sentido mais elevado por causa de sua justiça e glória.


A premissa maior desse silogismo pode ser comprovada por inúmeros exemplos. Assim, por exemplo, Abraão orou por Sodoma, e Deus o ouviu (Gn 18,23). Moisés orou por seu povo, e o Senhor ouviu sua súplica (Ex 32,11). Jó intercedeu por seus amigos, e Javé os abençoou (Jó 42,8). São Paulo orou por duzentos setenta e seis homens que estavam em perigo de naufrágio, e “todos conseguiram chegar à terra sãos e salvos." (At 27,44).


A premissa menor é assim estabelecida por São Jerônimo contra Vigilâncio: “Se os apóstolos e mártires, enquanto estavam em sua carne mortal, e ainda necessitados de cuidar de si, ainda podiam orar pelos outros, muito mais agora que já receberam a coroa de suas vitórias e triunfos. Moisés, um só homem, alcançou de Deus o perdão para 600 mil homens armados (Ex 32, 7-14); e Estevão, para seus perseguidores (At 7, 59-60). Serão menos poderosos agora que reinam com Cristo? São Paulo diz que com suas orações salvara a vida de 276 homens, que seguiam com ele no navio (At 27, 37). E depois de sua morte, cessará sua boca e não pronunciará uma só palavra em favor daqueles que no mundo, por seu intermédio, creram no Evangelho? Não se deve objetar que os santos não têm conhecimento dos assuntos terrenos; pois o próprio Divino Salvador diz: “haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrepende.” (Lc 15,10)."¹⁶


β) O argumento direto é baseado naquelas passagens da Sagrada Escritura em que os homens são descritos como invocando com sucesso os anjos e santos. Assim, o Arcanjo Rafael disse ao santo Tobias: “Quando tu oravas com lágrimas ... eu apresentava as tuas orações ao Senhor.” (Tb 12,12). São João viu “taças de ouro cheias de perfume (que são as orações dos santos).” (Ap 5,8). “A fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de Deus.” (Ap 8,4). Judas Macabeus, em “uma visão digna de fé que os cumulou de alegria”, viu o sumo sacerdote Onias e o profeta Jeremias, (ambos mortos), “orar por todo o povo judeu”. Cfr. 2 Mc 15,12 sqq.: “Onias, que foi sumo sacerdote, homem nobre e bom... com as mãos levantadas, orava por todo o povo judeu. Em seguida, apareceu do mesmo modo um homem com os cabelos todos brancos, de aparência muito venerável e nimbado por uma admirável e magnífica majestade. Então, tomando a palavra, disse-lhe Onias: “Eis o amigo de seus irmãos, aquele que reza muito pelo povo e pela cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus”. Se os Anjos e os Santos podem nos ajudar por sua intercessão, certamente faremos bem em invocá-los em nossas múltiplas necessidades.


b) Não podemos citar nenhuma confirmação explícita de nossa tese da Tradição anterior ao ano 180. Mas Orígenes, que viveu no final do século II, e Santo Hipólito (cerca de 222), ensinam que é lícito e proveitoso invocar os bem-aventurados mártires em favor dos vivos e dos mortos. Numerosas inscrições sepulcrais mostram que era costume muito cedo orar aos mártires por sua intercessão, e também aos santos que não eram mártires.¹⁷ Encontramos o Dogma plenamente desenvolvido, tanto na teoria quanto na prática, já no século IV. Santo Ambrósio diz:

“Os anjos devem ser honrados... os mártires, dos quais parecemos reivindicar a proteção por um certo compromisso, devem ser implorados... Não nos envergonhemos de empregá-los como intercessores de nossas enfermidades”.¹⁸

São Crisóstomo, falando dos mártires, diz:


“Não apenas no dia de sua festa, mas também em outros dias, apeguemo-nos e invoquemos, e rezemos para que sejam nossos protetores, pois gozam de grande confiança durante esta vida e após a morte, sim, muito mais após a morte. Pois eles trazem os sinais das feridas de Cristo e, quando os exibem, podem persuadir seu Rei a fazer qualquer coisa."¹⁹

São Crisóstomo em outro lugar adverte seus ouvintes a trabalharem em sua própria salvação, porque “não precisamos de intercessores com Deus”; mas ao dizer isso ele não pretende negar a propriedade e eficácia de invocar os santos, mas apenas deseja fortalecer a confiança dos cristãos em seus próprios poderes, como ele mesmo explica:²⁰ “Se fizermos nossa parte, a intercessão dos santos nos beneficiará muito; mas se formos descuidados e apostarmos nossa esperança de salvação inteiramente nessa intercessão, isso não nos valerá muito; não como se os santos possuíssem menos poder, mas porque somos nossos próprios traidores por causa de nossa indolência”.²¹


c) A forte fé que os devotos católicos depositam no poder especial de certos Santos para ajudá-los em necessidades particulares, baseia-se no ensinamento de São Paulo sobre as diversas funções próprias dos diversos membros do corpo místico de Cristo. Cfr. 1 Cor 12,18: "Mas Deus dispôs no corpo cada um dos membros como lhe aprouve". Este ensinamento, que foi ecoado por Santo Agostinho,²² levou à seleção de santos padroeiros especiais para diferentes cidades, aldeias, igrejas e capelas, a invocação de padroeiros individuais e deste ou daquele santo particular para certos favores especiais.


São Tomás²³ recomenda como regra segura não invocar exclusivamente os santos maiores, mas apelar de vez em quando aos “sancti minores”. Ele dá cinco razões distintas para isso: (1) Muitos cristãos nutrem maior afeição por algum santo em particular; (2) Há necessidade de variedade, para que não nos cansemos de orar; (3) É provável que em certos assuntos a intercessão de alguns santos seja mais poderosa que a de outros; (4) É certo que todos os que reivindicam honra devem ser honrados; e (5) A intercessão combinada de vários santos é de maior eficácia do que a de um sozinho."


Conteúdo traduzido de:


  • Pe. Joseph Pohle, em "Mariology; a Dogmatic treatise on the Blessed Virgin Mary, Mother of God.", Arthur Preuss, St. Louis, Herder, 1914, páginas 140-153.


NOTAS


[1]. Cfr. Pohle-Preuss, God: His Knowability, Essence, and Attributes, pp. 165 sqq.


[2]. Cfr. St. Thomas, Summa Theol., 2a 2ae, qu. 102 sq. Art 1.

"é preciso, de certa forma, distinguir as virtudes por uma subordinação bem ordenada

conforme a excelência das pessoas a quem temos algum dever. Assim como o pai carnal participa, de um modo particular, da razão de princípio, que Deus possui de maneira universal, assim também uma pessoa que, em um determinado nível, assume com relação a nós um papel de providência, participa igualmente do caráter de paternidade, porquanto o pai é o princípio ao mesmo tempo da geração, da educação, da instrução e de tudo aquilo que contribui para a perfeição da vida humana. Ora, uma pessoa constituída em dignidade é como um princípio de governo em determinados domínios: por exemplo, o chefe da cidade nos assuntos da vida civil, o chefe do exército no domínio das operações militares, o mestre no plano do ensino, e assim por diante. Daí a razão por que tais personagens são chamados de "pais", por semelhança da função. Assim, os servidores de Naaman lhe diziam: "Pai, mesmo que o profeta te pedisse algo de difícil..." (2Rs 5,13) etc. Por conseguinte, como na religião (religione), que presta culto a Deus, se encontra, numa certa ordem, a piedade que nos leva a render honra aos pais, assim também, na piedade se encontra o respeito (observantia), pelo qual se prestam honras às pessoas constituídas em dignidade."


[3]. Cfr. H. G. Ganss, "Mariolatry: New Phases of an Old Fallacy", Notre Dame, Ind., 1897.


[4]. Summa Theol., III pars, q. 25, art. 4:

"A honra ou a veneração são devidas só à criatura racional; e só em razão da natureza racional pode ser honrada ou venerada uma criatura insensível. Isto pode acontecer de duas maneiras: ou porque representa a natureza racional, ou porque está unida a ela de alguma maneira. Da primeira forma costumam os homens venerar a imagem do rei; da segunda maneira se venera a sua roupa. Mas em ambos os casos os homens veneram esses objetos com a mesma veneração com que veneram o rei."


[5]. “Honos, qui eis exhibetur, refertur ad prototypa, quae illae [scil. imagines] repraesentant, ita ut per imagines, quas osculamur et coram quibus caput aperimus et procumbimus, Christum adoremus et Sanctos, quorum illae similitudinem gerunt, veneremur.” (Sess. XXV, "De Invocatione et Veneratione et Reliquiis Sanctorum", Denzinger-Bannwart, n. 986.)


[6]. "Abraão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele. Levantou-se no mesmo instante da entrada de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prostrou-se por terra."

- Gn 18,2

"Pela tarde chegaram os dois anjos a Sodoma. Ló, que estava assentado à porta da cidade, ao vê-los, levantou-se e foi-lhes ao encontro e prostrou-se com o rosto por terra."

- Gn 19,1

"Então o Senhor abriu os olhos de Balaão, e ele viu o anjo do Senhor que estava no caminho com a espada desembainhada na mão. Inclinou-se e prostrou-se com a face por terra."

- Nm 22,31

"Ele (o anjo) respondeu: “Não! Venho como chefe do exército do Senhor”.Josué prostrou-se com o rosto por terra e disse-lhe: “Que ordena o meu Senhor a seu servo?”.

- Js 5,14

"Davi, tendo levantado os olhos, viu o anjo do Senhor que estava entre o céu e a terra, com uma espada desembainhada em sua mão, dirigida contra Jerusalém. Então, Davi e os an­ciãos, cobertos de sacos, prostraram-se com o rosto por terra."

- 1Cr 21,16

"Tomou, pois, Manué o cabrito com uma oferta e ofereceu-o ao Senhor sobre a rocha. Coisa maravilhosa! Enquanto Manué e sua mulher olhavam subir para o céu a chama do sacrifício que estava sobre o altar, viu que o anjo do Senhor subia na chama. À vista disso, Manué e sua mulher caíram com o rosto em terra."

- Jz 15,19-20

"Ora, enquanto eu contemplava essa visão e procurava o significado, vi, de pé diante de mim, um ser em forma humana, e ouvi uma voz humana vinda do meio do Ulai: “Gabriel” – gritava –, “explica-lhe a visão”. Dirigiu-se então em direção ao lugar onde eu me achava. À sua aproximação, fiquei apavorado e caí com a face em terra"

- Dn 8,15-17


[7]. "Os filhos dos profetas que estavam em Jericó, vendo o que acontecera defronte deles, disseram: “O espírito de Elias repousa em Eliseu’’. Foram-lhe ao encontro, prostraram-se por terra diante dele"

- 2 Rs 2,15

"Eliseu chamou Giezi e disse-lhe: “Chama a sunamita”. Ele a chamou. Ela entrou e Eliseu disse-lhe: “Toma o teu filho”. Então, ela veio e lançou-se aos pés de Eliseu, prostrando-se por terra. Em seguida, tomou o filho e saiu."

- 2Rs 4,36-37

"Nesse instante, o rei Nabucodonosor atirou-se de rosto em terra, prostrado diante de Daniel; depois ordenou que lhe fossem oferecidos oblações e perfumes. Dirigindo-se a Daniel, disse o rei: “Vosso Deus é verdadeiramente o Deus dos deuses, o Senhor dos reis; é também o revelador dos mistérios, já que pudeste revelar este”. O rei elevou Daniel em dignidade, deu-lhe numerosos e ricos presentes; constituiu-o governador de toda a província da Babilônia e o tornou chefe supremo de todos os sábios da Babilônia. Daniel pediu ao rei e confiou a Sidrac, Misac e Abdênago a administração da província da Babilônia. E Daniel perma­neceu na corte real"

- Dn 2,46-49


[8]. Cfr. Eusébio, Hist. Eccl., III, 28.


[9]. Conservus, σύνδουλος.


[10]. Cfr. J. P. Kirsch, "The Doctrine of the Communion of Saints in the Ancient Church", pp. 18 sqq., 136 sqq., 212 sqq., London 1911; Fr. X. Kraus, "Roma Sotteranea", pp. 68 sqq., 460 sqq., 547 sqq., Freiburg 1901.


[11]. "De Corona", c. 3: “Oblationes pro natalibus annuâ die facimus.”


[12]. “Martyrum passiones et dies anniversariâ commemoratione celebramus.” - Epistola XXXIV, III (PL IV, 323).


[13]. "Contra Faustum Manichæum.", Lib. XX, 21 (PL 42, 384-385).


[14]. “Bonum atque utile esse suppliciter eos invocare et ob beneficia impetranda a Deo per Filium eius Iesum Christum D. N., qui solus Redemptor et Salvator est, ad eorum orationes, opem auxiliumque confugere.” (Sess. XXV. Cfr. Denzinger-Bannwart, n. 984.)


[15]. Refutando essas objeções protestantes, declara o Concílio de Trento:

"𝟯. (O primeiro Mandamento) 𝗣𝗲𝗿𝗺𝗶𝘁𝗲 𝗼 𝗰𝘂𝗹𝘁𝗼 𝗱𝗼𝘀 𝗔𝗻𝗷𝗼𝘀 𝗲 𝗦𝗮𝗻𝘁𝗼𝘀.

(𝟴) Na exposição deste Mandamento, é preciso pôr em evidência que não são contrárias às suas prescrições a veneração e a invocação dos Santos, dos Anjos, das almas bem-aventuradas que já gozam da glória celestial, nem tampouco o culto de seus corpos e relíquias mortais, na forma que sempre foi admitida pela Igreja Católica.

*a) razões para venerar os anjos e Santos em geral*

Quando um rei decreta que nenhuma pessoa apareça como rei, e consinta em receber régias homenagens, quem seria tão insensato de concluir, sem mais nem menos, que o rei com isso proíba as honras devidas a seus magistrados?

Dizem, é verdade, que os cristãos se prostram diante dos Anjos, a exemplo dos santos varões do Antigo Testamento (Gn 18,2; 19,1, Nm 22,31, Js 5,14); todavia, não se trata da mesma veneração que eles tributam a Deus (com referência as criaturas, “adorare” tem o sentido de prostrar-se ou ajoelhar-se, em sinal de reverência.).

Se por vezes lemos nas Escrituras (Ap 19,10; 22,9) que os Anjos se opuseram a que os homens os venerassem, deve entender-se no sentido de não quererem para si aquela veneração que só a Deus compete.

*b) Cultos dos Anjos* ...


(𝟵) O mesmo Espirito Santo que disse: “Só a Deus honra e glória” (1Tm 1,17), também ordenou que honrássemos os pais e as pessoas mais velhas (Ex 20,12; Dt 5,16; Lv 19,32). Além disso, como narram as Escrituras, santos varões que veneravam um só Deus, “cultuavam os reis”, quer dizer, prostravam-se suplicantes diante de sua presença (1Sm 24,9; 25,23; 2Sm 9,6-8; 1Cr 21,21).

... *pela sua dignidade* .

Ora, se os reis, por quem Deus governa o mundo”, são objetos de tão grandes homenagens, muito maiores são as honras que devemos prestar aos espiritos angelicos, que Deus quis fossem os Seus servidores (Hb 1,14), tanto mais que esses espíritos bem-aventurados excedem os próprios reis em dignidade.

E Deus serve-Se de Seu ministerio, para o governo, não so de sua Igreja, mas também de todas as outras coisas criadas. Pela assistência dos Anjos, embora invisível aos nossos olhos, somos cotidianamente preservados dos maiores perigos, tanto da alma como do corpo.

... *pelo seu amor para conosco*

Acresce ainda a caridade com que eles nos amam, e que os induz a rezar pelas províncias confiadas à sua direção, como facilmente verificamos nas Escrituras. (Dn 10,13) Sem dúvida alguma, o mesmo fazem por aqueles que são os seus tutelados, pois a Deus oferecem as nossas orações e as nossas lágrimas (Tb 3,25).

Por tal motivo, Nosso Senhor ensinou, no Evangelho, que se não devia dar escândalo aos pequeninos, “porque os seus Anjos no ceu estão contemplando, continuamente, a face do Pai que esta no ceu” (Mt 18,10).


(𝟭𝟬) Eles devem, portanto, ser invocados, já porque contemplam a Deus sem cessar, ja porque com a maior boa vontade patrocinam a nossa salvação, conforme lhes foi encomendado.

... *pelos exemplos da Bíblia*

Nas Sagradas Escrituras, apresentam-se testemunhos de tal invocação. Ao Anjo, com quem havia lutado, pediu Jacó que o abençoasse. Chegou ate a obrigá-lo, pois dizia que o não largaria, se não depois de ter recebido a bênção (Gn 32,26). Esta lhe foi dada, não só quando o Anjo estava à sua vista, mas também quando não o via de maneira alguma, pois ele disse mais tarde: “O Anjo que me livrou de todos os males, abençoe estes rapazes” (Gn 48,16. Refere-se à bênção de Jacó aos filhos de José.).


𝗰) 𝗖𝘂𝗹𝘁𝗼 𝗱𝗼𝘀 𝗦𝗮𝗻𝘁𝗼𝘀


(𝟭𝟭) Daqui também se pode tirar outra conclusão. O culto e a invocação dos Santos que adormeceram na paz do Senhor, a veneração de suas relíquias e cinzas, longe de diminuírem a glória de Deus, dão-lhe o maior vulto possível, na proporção que animam e reforçam a esperança dos homens, e os induzem a imitarem os Santos.


𝗗𝗼𝘂𝘁𝗿𝗶𝗻𝗮 𝗱𝗲𝗳𝗶𝗻𝗶𝗱𝗮...


Este efeito e encarecido pelo Segundo Concílio de Nicéia, pelos Concílios de Gangres e de Trento, e pela autoridade dos Santos Padres.

*Tradição Apostólica* ...

(𝟭𝟮) A fim de se pôr em melhores condições de rebater os adversários desta verdade, leia o pároco antes de tudo o livro de São Jerônimo contra Vigilâncio, e as obras de São João Damasceno; a cujas provas se emparelha, como argumento principal, o costume de origem apostólica, sempre mantido e conservado pela Igreja de Deus.

*Testemunhos bíblicos*

E quem poderia exigir prova mais cabal e evidente, do que o testemunho das Sagradas Escrituras, quando celebram de maneira admirável os louvores dos Santos? Na verdade, de alguns Santos há encômios de inspiração verdadeiramente divina (Sr 44,50, Hb 11). Ora, se as Sagradas Escrituras apregoam os seus louvores, por que não deveriam os homens render-lhes, de sua parte, uma honra toda particular?


𝗩𝗮𝗻𝘁𝗮𝗴𝗲𝗻𝘀 𝗱𝗼 𝗖𝘂𝗹𝘁𝗼 𝗮𝗼𝘀 𝗦𝗮𝗻𝘁𝗼𝘀


Outro motivo, talvez mais poderoso, para a sua veneração e invocação e que os Santos rezam, assiduamente, pela salvação dos homens (Ap 5,8, Denzinger-Umberg 984), e que Deus nos outorga muitos benefícios, em consideração ao seu mérito e caridade.

Se “no céu reina alegria, quando um so pecador faz penitência” (Lc 15,7), será possível que os moradores do céu não socorram os penitentes na terra? Se os invocarmos, não nos alcançarão o perdão dos pecados, e não nos garantirão a graça de Deus?

*d) objeções contra o culto dos Santos*


(𝟭𝟯) Poderá alegar-se, como de fato alguns alegam, que o patrocinio dos Santos e supérfluo, porque Deus não precisa de medianeiro para atender as nossas orações.

Estas ímpias asserções se rebatem facilmente com as palavras de Santo Agostinho de que Deus não concede muitas coisas, se não houver a intervenção de um mediador e advogado (Quaest 140[149] super ex.). Isto se prova pelos preclaros exemplos de Abimelec e dos amigos de Jó. Deus perdoou-lhes os pecados, só depois que Abraão e Jó intercederam por eles (Gn 20,17, Jó 42,8).

Podem ainda objetar que, recorrendo aos Santos como nossos mediadores e advogados, só o fazemos por ausência e debilidade de fé (Por isso a Igreja condenou a opinião de que pessoas justas não precisavam dirigir atos de amor à Virgem Maria e aos Santos - Papa Inocêncio XI, em 1687, Denzinger-Umberg 1255). Mas que resposta terão eles ao luminoso exemplo do Centurião (Mt 8,10)? Deus Nosso Senhor enalteceu a sua fé com os maiores elogios, apesar de ter o homem enviado ao Salvador os anciãos dos Judeus, para que lhe impetrassem a cura do servo doente (Lc 7,3).


(𝟭𝟰) Força nos é confessar que só nos foi dado um único mediador na pessoa de Cristo Nosso Senhor (1Tm 2,5). Só Ele nos reconciliou com o Pai Celestial, por meio do Seu Sangue (Rm 5,10, 2Co 5,18, Hb 9,12, Ap 5,9). Ele entrou uma só vez no Santo dos Santos, consumou uma Redenção eterna (Hb 9,11-12), e não cessa de interceder por nós (Hb 7,25).Mas daqui não se pode em absoluto concluir que não seja lícito recorrer à benevolência dos Santos. Se não fora permitido valer-nos da proteção dos Santos, porque Jesus Cristo é o nosso único Patrono, o Apóstolo nunca cairia no erro de desejar, com tanta instância, que seus irmãos vivos o secundassem com orações diante de Deus (Rm 15,30, 2Co 1,11). Pois, nesse caso, as orações dos vivos não fariam menos quebra à honra e glória de Cristo Medianeiro, do que a intercessão dos Santos no céu (A Igreja condenou a proposição: 'Nenhuma criatura, nem a Virgem Bem-aventurada, nem os Santos devem ocupar lugar em nosso coração; pois Deus quer ocupá-lo sozinho' - Papa Inocêncio XI em 1687; cfr. Denzinger-Umberg 1256)."

- "Catechism of the Council of Trent" (Parte III, cap. II, 8-14), Dublin 1908, Donovan, pp. 318 sqq.


[16]. "Contra Vigilantius”, 6 (PL 23, 344).


[17]. Para informações mais detalhadas sobre este ponto, ver J. P. Kirsch, "Die Akklamationen und Gebete der altchristlichen Grabschriften," Köln 1897.


[18]. “Observandi sunt angeli.… martyres obsecrandi.… non erubescamus eos intercessores nostrae infirmitatis adhibere.”

- Santo Ambrósio, "De Viduis" Liber Unus, Cap. IX, 55 (PL 16, 251).


[19]. - São João Crisóstomo, "De SS. Berenice et Prosdoce", 7 (PG 50, 640).


[20]. - São João Crisóstomo, "In Cap. XIX Genes. Homil. XLIV", 6 (PG 54, 413).


[21]. Citações adicionais dos Padres podem ser encontradas em Belarmino, "𝘋𝘦 𝘉𝘦𝘢𝘵. 𝘦 𝘊𝘢𝘯𝘰𝘯𝘦. 𝘚𝘢𝘯𝘤𝘵.", I, 19. O argumento litúrgico é bem desenvolvido por Tepe, "𝘐𝘯𝘴𝘵𝘪𝘵. 𝘛𝘩𝘦𝘰𝘭", Vol. III, pág. 727, Paris 1896; cfr. também Kellner, "𝘏𝘦𝘰𝘳𝘵𝘰𝘭𝘰𝘨𝘺", edição inglesa, pp. 203 sqq., London 1908.


[22]. Ep., 78, 3 (Migne, P. L., XXXIII, 269): “Sicut enim, dicit Apostolus (1Cor 12,30), non omnes Sancti habent dona curationum, … ita nec in omnibus memoriis Sanctorum ista fieri voluit ille, qui dividit propria unicuique prout vult.”


[23]. "Suma Theologiae", Suppl., q. 72, art. 2:

"O segundo discute-se assim. ─ Parece que não devemos invocar os santos para orarem por nós.

1. ─ Pois, não invocamos os amigos de outrem a pedirem por nós, senão por pensarmos que eles tem junto dessa pessoa o poder de alcançar mais facilmente a graça almejada. Ora, Deus é infinitamente mais misericordioso que qualquer santo; e assim a sua vontade com maior facilidade se inclina a nos ouvir, que a vontade de qualquer santo. Logo, parece supérfluo constituirmos os santos em mediadores entre nós e Deus, para intercederem por nós.

2. Demais. ─ Se devemos invocá-las para orarem por nós, tal não serão senão por sabermos que a sua oração é aceita de Deus. Ora, o mais santo dos santos terá a sua oração mais aceita de Deus, que todos os outros. Logo, deveríamos sempre constituir os santos superiores, e nunca os menores, nossos intercessores perante Deus.

3. Demais. ─ Cristo, mesmo como homem, é chamado o Santo dos Santos; e a ele devemos orar como homem. Ora, nunca invocamos a Cristo para orar por nós. Logo, também não devemos invocar os outros santos.

4. Demais. ─ Quem intercede por outrem, apresenta as orações do seu protegido aquele junto de quem intercede. Ora, é inútil fazer representação a quem tudo é presente. Logo, é inútil constituirmos os santos nossos intercessores perante Deus.

5. Demais. ─ Aquilo é supérfluo que, feito em vista de um fim, este independentemente disso se realizaria ou não. Ora, quer lhes oremos quer não, os santos rezarão ou não por nós. Pois, sendo dignos de orarem por nós, por nós rezarão mesmo sem lh'o pedirmos; sendo, ao contrário, indignos, não rezarão, ainda que lh'o peçamos. Logo, é absolutamente supérfluo invocá-las para orarem por nós.

Mas, em contrário, a Escritura: Chama, se há alguém que te responda, e volta-te para algum dos santos. Ora, chamar, é para nós, como diz Gregório, jazer humildes preces a Deus. Logo, querendo orar a Deus, devemos invocar os santos, para que peçam a Deus por nós.

2. Demais. ─ Os santos na pátria são mais queridas de Deus, que quando viviam neste mundo. Ora, devemos constituir nossos intercessores, perante Deus, os santos que estão na pátria, a exemplo do Apóstolo, que dizia: Rogo-vos, ó irmãos, por Nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito Santo, que me ajudeis com as vossas orações por mim a Deus. Logo, e com maior razão, também nós devemos pedir aos santos que estão na pátria, que nos ajudem com as suas orações a Deus.

3. Demais. ─ É costume comum da Igreja pedir, nas suas ladainhas, a oração dos santos.

SOLUÇÃO. ─ Deus estabeleceu uma ordem tal no universo, que os seres inferiores dele dependam mediante outros que são médios entre esses e ele; segundo diz Dionísio. Ora, como os santos na pátria estão mui próximos de Deus, e segundo a ordem da lei divina requer, nós que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor, a ele havemos de chegar mediante os santos. E isso se dá quando Deus nos distribui os seus dons pelo ministério deles. Ora, a nossa volta para Deus deve corresponder aos benefícios da sua bondade para conosco. Por onde, assim como por meio das orações dos santos é que recebemos esses benefícios, assim devemos corresponder-lhes, recebendo-os sempre pela intercessão deles. Por isso os constituímos nossos intercessores perante Deus, e como uns mediadores, pedindo-lhes orarem por nós.

DONDE A RESPOSTA À PRIMERA OBJEÇÃO. ─ Não é por falta de poder que Deus age mediante as ações das causas segundas. Mas para, completando a ordem do universo, nele difundir mais amplamente a sua bondade, fazendo com que todos os seres não recebam só dele os seus bens próprios, mas ainda de outras cousas. Ora, assim também, não é por falta de misericórdia, que Deus quer exercer a sua clemência para conosco mediante as orações dos santos, mas para observar a referida ordem universal.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Embora os santos superiores tenham mais influência perante Deus, que os inferiores, poderá contudo ser útil fazermos orações a estes, por cinco razões. ─ Primeiro, porque pode um ter maior devoção para com um santo inferior do que para com um superior. Ora, da devoção depende sobretudo o efeito da oração. ─ Segundo, para evitar o tédio, gerado pela repetição dos mesmos atos. Ora, rezando a santos diversos, a nossa devoção se afervora pela novidade de cada invocação. ─ Terceiro, porque certos santos nos patrocinam particularmente contra determinados males; assim, Santo Antonio, contra o fogo do inferno. ─ Quarto, para prestarmos a honra devida a todos os santos. ─ Quinto, para obtermos, pelas orações de vários santos, o que não obteríamos pelas de um só.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ A oração é um ato. Ora, os atos concernem às pessoas. Por onde, se rezássemos ─ Cristo, ora por nós ─ sem mais nada, parece que dirigiríamos essas palavras à pessoa de Cristo. E assim cairíamos no erro de Nestório, que distinguia em Cristo a pessoa do Filho do homem, da do Filho de Deus. Ou no erro de Ario, que ensinava ser a pessoa do Filho menor que a do Pai. E, para evitar esses erros, a Igreja não diz ─ Cristo ora por nós; mas ─ Cristo, ouve-nos; ou ─ Tem compaixão de nós.

RESPOSTA À QUARTA. ─ Como a seguir diremos, os santos não apresentam a Deus os nossos pedidos, como se lhe fossem desconhecidos. Mas lhe pedem que os ouça, ou o consultam sobre a verdade dessas preces, para saber como determina a sua providência, sobre o procedimento que hão de ter.

RESPOSTA À QUINTA. ─ Por isso mesmo nos tornamos dignos de um santo orar por nós, que lhe a ele recorremos com pura devoção nas nossas necessidades. E assim não é supérfluo rezarmos aos santos."

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