Os Dominicanos e a Imaculada Conceição
- Daniel Arthur
- 3 de abr.
- 33 min de leitura

Embora ainda seja muito difundida a história de que a Ordem dos Pregadores tenha sido ferrenha opositora da doutrina da Imaculada Conceição, alguns estudos desde o século passado vêm derrubando essa narrativa reducionista. Reginaldus Masson O.P, por exemplo, que participou do Congresso Mariológico Mariano Internacional de 1954 em Roma, escreveu um artigo monumental com quase toda a bibliografia catalogada produzida pelos dominicanos sobre a Imaculada Conceição da Santíssima Virgem até 1954: MASSON, Reginaldus. “De Immaculata Conceptione apud Fratres Praedicatores: Bibliographia.” Angelicum 31, no. 4 (1954): 358–406 (Pode ser lido Aqui).
Neste artigo lemos logo na introdução (pp. 358-360) esse breve resumo da controvérsia imaculista e a Ordem dos Pregadores:
"Há um século, a Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria foi definida pelo Supremo Magistério da Igreja. Com a celebração deste feliz centenário, o objetivo do autor foi reunir todas as obras dos Frades Pregadores inspiradas por este singular privilégio mariano, aperfeiçoando assim os repertórios antigos e trazendo à luz, de maneira mais plena, os escritores antigos.
Este elenco bibliográfico, contendo descrições das obras e doutrinas com suas fontes, está dividido nos seguintes capítulos:
1. Da fundação da Ordem (1216) à Constituição Grave Nimis (1483). Com esta Constituição Apostólica, o Papa Sisto IV reprovou aqueles que declaravam herética uma ou outra opinião sobre a Conceição da Virgem. Pouco antes, em 1477, o mesmo Sumo Pontífice, pela Constituição Praecelsa, considerou "digno e justo" celebrar liturgicamente a "Admirável Conceição Imaculada da Virgem".
2. Da Constituição Grave Nimis (1483) à Constituição Sanctissimus (1622). Neste período, o Papa Pio V, pela Bula Super Speculam Domini (1570), proibiu as disputas públicas sobre a Conceição da Virgem, e o Papa Gregório XV estendeu essa proibição também às disputas privadas. No entanto, o Breve Eximii (1622) concedeu à Família Dominicana uma exceção para disputas internas. Já em 1439, o Concílio de Basileia, apesar de ter caído em cisma, testemunhou o desejo do povo cristão ao proclamar o futuro dogma da Imaculada Conceição. O Concílio de Trento (1546), ao definir o pecado original, declarou que a Bem-Aventurada Virgem não estava incluída na questão.
3. Da Constituição Sanctissimus (1622) à Bula Quod a Nobis (1708). O Ofício litúrgico da Imaculada Conceição, já aprovado pelo Papa Alexandre VII na Bula Sollicitudo Omnium Ecclesiarum (1661), foi imposto a toda a Igreja Universal pelo Papa Clemente XI.
4. Da Bula Quod a Nobis (1708) à Bula Ineffabilis Deus (1854). O Papa Pio IX definiu assim o privilégio mariano: "A doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, foi preservada imune de toda mancha de culpa original, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em previsão dos méritos de Cristo Jesus, Salvador do gênero humano, foi revelada por Deus e, por isso, deve ser firme e constantemente crida por todos os fiéis" (Denz. 1611).
5. Da Bula Ineffabilis Deus (1854) ao centenário em 1954.
Entre esses cinco grandes marcos eclesiais, as obras dos Frades Pregadores apresentam as seguintes características:
1. Nem todas as obras dominicanas sobre essa questão foram escritas contra a pia sententia (sentença piedosa). Mesmo as que lhe são contrárias devem ser consideradas à luz das circunstâncias e dos argumentos apresentados por seus defensores.
2. Durante a Idade Média, os defensores da pia sententia, ao considerarem a Bem-Aventurada Virgem em si mesma, a exaltavam como puríssima e imaculada. Os leitores de Teologia, ao tratarem da Encarnação redentora, negavam que a Mãe do Salvador estivesse excluída da Redenção, mas lhe atribuíam as melhores e mais singulares prerrogativas, como a santificação imediata após a criação de sua pessoa (cf. argumentos específicos de cada autor). Assim, os argumentos dessa época demonstram fidelidade à Tradição (tal como era conhecida) e às doutrinas da redenção universal e do pecado original.
3. As notas da era moderna podem ser resumidas assim: fiel observância e pregação das decisões da Santa Sé, bem como pedidos ao Papa para que resolvesse, por sua intervenção, as controvérsias teológicas dentro da Igreja. Destaca-se também a preocupação não apenas com a honra da Virgem, mas com a defesa da posição dos diversos Ordens nas disputas.
4. Após o Concílio de Trento, quando São Tomás foi proclamado Doutor Comum, sua doutrina foi considerada de grande importância para essa questão. No entanto, a Santa Sé permitiu que a pia sententia fosse aceita sem prejuízo do Doutor Angélico. No período da definição do dogma, muitos dominicanos já defendiam a pia sententia.
5. Após a definição de Pio IX, muitos tentaram interpretar a posição de São Tomás de maneira mais moderada. Hoje, embora sua opinião seja considerada contrária ao dogma, sua doutrina integral é reconhecida como de grande utilidade para a compreensão do dogma, pois ensina os princípios da posição da Igreja".
Reginaldus não ficou só com seu artigo de 49 páginas, mas escreveu um segundo (uma continuação) no ano seguinte: MASSON, Reginaldus. “De Immaculata Conceptione apud Fratres Praedicatores Bibliographia (Continuatio).” Angelicum 32, no. 1 (1955): 52–82 (Pode ser lido Aqui).
Ainda para o Congresso Mariológico, escreveu um outro artigo especificamente sobre os dominicanos favoráveis à Imaculada Conceição que se encontra no Vol. VI das Atas do Congresso: MASSON, Reginaldus. 1955. “Les dominicains favorables à l’Immaculée Conception de Marie.” In De Immaculata Conceptione in Ordine S. Dominici, vol. VI of In Virgo Immaculata: Acta Congressus Mariologici-Mariani Romae anno MCMLIV celebrati, 177–86. Roma: Academia Mariana Internationalis.
Alguns anos depois, escrevendo um "review" sobre as atas do Congresso, Masson conclui:
"Todo um volume (o sexto) revela àqueles que foram mal informados por uma tradição recente que os dominicanos não foram todos, nem de longe, adversários incorrigíveis do futuro dogma, embora tenham contado em suas fileiras com alguns doutores ruidosos e brilhantes que se lhe opuseram. SÃO TOMÁS NÃO PODE SER CLASSIFICADO SISTEMATICAMENTE NO CAMPO DOS OPOSITORES. De qualquer forma, sua doutrina encontra no dogma da Imaculada Conceição uma fácil explicitação e um belo desenvolvimento". (MASSON, Reginaldus. Review of Virgo Immaculata, Acta Congressus Mariologici-Mariani, Romae anno MCMLIV celebrati. Angelicum, vol. 35(1), 1958, p. 105. Disponível em: Aqui.)
Ao todo, Masson listou 263 autores dominicanos que escreveram sobre a Imaculada Conceição, sendo 191 anteriores à Ineffabilis Deus. Destes191, apenas 60 foram contrários à “pia sentença”, 57 foram favoráveis (diferença de apenas 3), e os outros 74 são considerados incertos, pois ou só escreveram sobre a história da polêmica mas se abstiveram de tomar partido, ou suas obras foram perdidas e só se conhece por citações (São Tomás é contado entre os incertos por ele).
Em primeiro lugar, não foram apenas os Dominicanos que se opuseram. Foi o próprio Papa Sisto IV quem lembrou isso em termos claros em sua bula “Grave nimis”, onde diz: “Alguns, como temos ouvido, pregadores de diversas ordens... não hesitam em afirmar...”. Segundo Sisto IV, eram de diversas ordens os que negavam a pia sentença.
Lista dos dominicanos favoráveis à Imaculada Conceição anteriores à sua proclamação dogmática
São Domingos de Gusmão (com detalhe: é apenas uma possibilidade, obras falsamente atribuídas a ele)
Hugo de Santo Charo († 1263)
Vicentius Bellovacensis († 1264)
Jacobus de Lausane († 1322)
Hugo de Prato († 1322)
Armandus de Bellovisu († 1323)
Pedro de Palude († 1342)
Robertus Holcot († 1349) (Obs.: aparentemente mudou de opinião)
Joannes Tauler († 1361)
Henrique Suso († 1365)
Joannes Bromiard († 1390) (alguns textos interpolados)
Joannes Herolt († 1488)
Joannes Dominici († 1419)
Leonardo Utino († 1470)
Balthasar Sorio († 1557)
Maurício de Villaprobata († 1532)
Jean Clérée († 1507)
Guillaume Pépin († 1533)
Ofício da Imaculada usado pelos dominicanos Bernardinus de Busti (1492)
Ambrósio Catarino († 1553)
Etienne Paris
Johannes du Feynier († 1536)
Melchor Cano († 1560)
Domingo de Soto († 1570)
Johannes Viguier († 1559)
Pio V, Papa († 1572)
Luís de Granada
Augustinus Baretti († 1600)
Caponi A Potrecta († 1604)
Vicentius Justinianus Antist († 1599)
Stefano Mendez († 1606)
Didacus Alvarez Metinensis († 1635)
Luca Castellino († 1631)
Thomas Campanella († 1639)
Laurentinus Gutierrez († 1627)
João de São Tomás (1644)
Justinus Miechoviensis (1642)
Hyacinthus Maidalchini (1644)
Francisco de la Cruz
Foxardo
Petrus Espinel de la Porta (1663)
Johannes Dominicus Rey (1663)
Johannes de Ribas y Carrasquilla (1697)
Guillaume Renaud (†1704)
Autor anônimo (1666)
Reginaldus Lucarini (1671)
Noël Alexandre (1724)
Agostino Portantes (1701)
Antonin Cloche (1720)
Honoratius Vicentius Liget (1736)
Serafino Montorio
Georgius Martyr Albertinus (1801)
Ludovicus Vincentius Gotti (1742)
Domingo Aracena (1874)
Mariano Spada († 1873, mas escreveu seu Esame Critico em 1839)
Michelle Vicenzo Salzano († 1873)
Francesco Gaude († 1860)
Essa é a lista de autores apresentada pelo Masson em seus dois artigos. Mas podemos acrescentar a ela mais algumas informações e nomes:
Os bispos de Sicília, respondendo em 1849 à consulta feita por Pio IX, relataram as pesquisas realizadas pelo Padre Gilles de la Presentation, agostiniano, no início do século XVII (por volta de 1616). Houve 92 escritos dominicanos contra Imaculada Conceição e 137 a favor dela. Todos esses escritos datam de antes dos decretos de Gregório XV, Paulo V e especialmente Alexandre VII (1661) que limitavam a liberdade de discussão (Cfr. ROSKOVANY, B. V. Maria in suo Conceptu Immaculata, t. IV, apud, DEL PRADO em seu monumental Divus Thomas et Bulla Dogmatica Ineffabilis Deus, p. 26, em nota; de qualquer modo a obra pode ser lida Aqui).
Ocorre que essa nota do Del Prado é tão rica em informação que a citarei por extenso aqui:
“Tratado sobre a Beatíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, do autor Alexio Lepicier, edição 3, parte 2, capítulo 1, artigo 1, o Padre Lepicier afirma:
‘Sobre São Domingos, há uma tradição constante de que, certa vez, estando em Toulouse a debater contra os albigenses, defendeu esta sentença e Cristo Senhor confirmou-a com um milagre, demonstrando que nascera da Virgem Imaculada, assim como o primeiro Adão fora formado da terra virgem. E quando o livro que continha essa sentença foi lançado ao fogo, foi encontrado intacto, sem ser queimado. Tampouco se pode dizer que a Família Religiosa de São Domingos formalmente se afastou desta sentença: pois, embora alguns entre seus discípulos tenham considerado defender a posição contrária, os mais ilustres em ciência e piedade deste Ordem sempre tiveram no coração a defesa da Imaculada Conceição da Virgem, tanto por palavras como por escritos. Entre eles, basta mencionar o Beato Alberto Magno, mestre do Doutor Angélico, que, no livro De Laudibus Virginis, sobre o Missus da Deipara, disse: ‘Esta Virgem é a única exceção àquela regra comum: Todos pecaram em Adão’.
E ainda: ‘Para o anúncio do anjo, convinha uma veste branca e clara, pois aquela que concebeu, concebeu sem pecado’. Da mesma forma, São Vicente Ferrer pregou e escreveu em favor da Imaculada Conceição, como pode ser visto em várias de suas obras, por exemplo, no Sermão II sobre a Natividade e no Sermão sobre a Conceição da Bem-Aventurada Virgem. Também São Luís Bertrand expressou o mesmo pensamento, ao afirmar, no Sermão De qua natus est Iesus, que a alma da Virgem, ao ingressar no corpo, em momento algum esteve manchada pelo pecado. Os teólogos ilustres desta Ordem, como Ambrósio Catarino, Natal Alexandre, João de Santo Tomás, o venerável Luís de Granada e muitos outros, tentaram sustentar essa posição com razões sólidas. Disso se conclui que aqueles que afirmam que esta Ordem foi outrora contrária a esse dogma estão distantes da verdade’. Assim escreveu o Reverendíssimo Padre Alexio Lepicier.
Além disso, os bispos das duas Sicílias também usaram este argumento ao responderem à Encíclica de Pio IX, no ano de 1849, sobre a Imaculada Conceição da Virgem Maria, afirmando: ‘Certamente, em nenhum lugar se encontra o Ordem de São Domingos protestando contra essa doutrina; pelo contrário, apoiou-a com grande zelo, especialmente no Capítulo Provincial da Andaluzia, presidido pelo Vigário Geral Frei Alberto de las Casas, no ano de 1524; e também em outro capítulo, presidido pelo Mestre Geral Xavier, que depois se tornou Cardeal da Santa Igreja Romana, no ano de 1602; e finalmente, no Capítulo de Benevento, no ano de 1653, onde, por força da Santa Obediência e sob penas estabelecidas, foi ordenado que nenhum frade contradissesse tal doutrina, mas antes promovesse sinceramente a piedade dos fiéis’.
Além disso, foram feitas preces, apresentadas anteriormente ao Sumo Pontífice pelo Mestre Geral da Ordem, pedindo a definição dogmática, e essas preces foram renovadas em nome não só da Província de Benevento, mas também da Província da Espanha, que se destacava em importância dentro da Ordem. Outros testemunhos da devoção da Ordem à Imaculada Conceição incluem:
A inscrição da festa da Conceição no Martirológio da Ordem no ano de 1524.
A inclusão do ofício da Imaculada Conceição no Breviário da Ordem, impresso em Paris no ano de 1529.
A inscrição no frontispício da igreja do convento da Ordem em Madri: Deiparae sine labe conceptae (À Mãe de Deus concebida sem mancha).
Na Andaluzia, um mosteiro dominicano dedicado à Conceição.
Em Palermo, a construção de uma coluna dedicada à Imaculada Conceição diante da igreja da Ordem, tendo sido enviada um irmão para obter a autorização do Imperador Carlos V.
Esses são monumentos grandiosos do zelo da Ordem pela Imaculada Conceição da Virgem. Quanto aos seus membros, há um grande número de santos, bispos e doutores da Ordem que defenderam esta doutrina da pureza virginal, incluindo:
O venerável Luís de Granada,
Jerônimo Lanuza, bispo de Barbastro,
João Tauler,
O Beato Alberto Magno, bispo de Ratisbona e mestre de São Tomás de Aquino,
Tiago de Voragine, bispo de Gênova,
Pedro Jeremias e o Beato Jordão de Saxe, segundo Mestre Geral da Ordem,
São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem, que defendeu a Imaculada Conceição contra os albigenses,
São Vicente Ferrer,
São Raimundo de Peñafort,
São Jacinto da Polônia,
São Pedro Mártir,
O Papa São Pio V.
Também abraçaram essa doutrina, com palavras e ações:
Reginaldo Lucarini, bispo de Città della Pieve,
O doutíssimo teólogo Ambrósio Catarino,
O bispo de Compsa,
Domingos de Marinis, bispo de Avinhão,
Pedro Paludanus, patriarca de Constantinopla,
Hugo de São Caro, cardeal,
O Papa Bento XIII.
Além disso, um número incrível de escritores dominicanos celebrou essa doutrina em seus escritos, incluindo acadêmicos da Sorbonne, como Paludanus, Doré, Natal Alexandre e João de Penna; estudiosos de Alcalá de Henares, como Almonacid e João de Santo Tomás, confessor de Filipe IV; teólogos de Salamanca, como Mancius e Domingos Soto, este último orador de Carlos V no Concílio de Trento; teólogos de Cambridge, na Inglaterra, como Robert Kolkot, entre outros. Se eu fosse listar todos, seria demasiado extenso. Basta consultar autores como Nieremberg, Sfondrati, Giacobboni, de Alva, Alliaga e, mais recentemente, Spada, um dominicano.
De fato, o agostiniano Egídio da Apresentação, ao examinar as opiniões, encontrou 92 autores contrários à doutrina da Imaculada Conceição e 137 a favor. E como Egídio registrou isso há cerca de 230 anos, deve-se acrescentar muitos outros escritores que defenderam essa doutrina após os decretos de Gregório XV, Paulo V e, especialmente, Alexandre VII, em 1661, quando até mesmo os dominicanos passaram a celebrar solenemente a festa da Imaculada Conceição, sem que mais ninguém tivesse permissão para discutir o tema em público ou privado.”
Como se pode ver, a verdade está muito aquém da versão reducionista da história. Para mostrar uma pequena porção das centenas de citações de dominicanos favoráveis à Imaculada Conceição que escreveram antes da Ineffabilis Deus, cito por extenso o grandioso Mariano Spada em seu monumental Esame critico sulla dottrina dell’ Angelico Dottore San Tommaso d'Aquino circa il peccato originale relativamente alla Beatissima Vergine Maria, Roma, 1839, obra que tem a fama de ter sido a responsável por convencer o Papa Pio IX de que ao proclamar a Imaculada Conceição como dogma ele não estaria contradizendo o Doutor Angélico (só lembrando que quem quiser ler na íntegra o opúsculo do Spada, os artigos do Rossi do Del Prado, etc., podem lê-los traduzidos para o português em meu livro “Santo Tomás e a Imaculada Conceição: artigos e opúsculos”, disponível para a compra Aqui):
§IV
92. Não causa incômodo observar neste último parágrafo, como em apêndice, que a Ordem e a Escola Dominicana, em todos os tempos, assim como seu Mestre Angélico, sempre foram favoráveis à pia opinião da preservação de Maria da culpa original.
93. Todos sabem que a sentença de uma determinada escola deve ser conhecida pelo que opinam os principais homens dessa Escola, versados nas ciências e reconhecidos como tais pela república literária. Rastreando os Escritores sagrados Dominicanos, encontro um grande número e de grande renome que sustentam que Maria foi preservada da culpa original. E para proceder com ordem cronológica, começo a enumeração pelos mais antigos, relatando as palavras de alguns e citando os locais de outros, para não ser prolixo e cansativo.
94. Vicente de Beauvais, Preceptor e Pregador de São Luís, Rei da França, falecido por volta de 1263, no “Speculo historiali” livro 7, capítulo 121, adotando as palavras de São Ildefonso, assim escreve: “Bem-aventurada Virgem Maria, a não ser que tivesse sido santificada no ventre materno, sua natividade de modo algum deveria ser celebrada, agora, porém, porque é venerada pela autoridade de toda a Igreja, está claro que ela foi imune de todo pecado original... Portanto, quando nasceu, não estava sujeita a nenhuma culpa, nem contraiu o pecado original sendo santificada no ventre.” Hugo de Sain-Chair, primeiro Cardeal da Ordem dos Pregadores, Arcebispo de Lyon, falecido em 1264, no Cap. 10. Luc. circ, fin, diz: “Maria é venerada por oito privilégios, nos quais supera todos os santos; o primeiro é a imunidade do pecado... esses quatro privilégios são notados na Saudação Angélica. Primeiro, no que se diz Ave, isto é, sem Vae... A posição do castelo deve estar no alto, e a Bem-aventurada Virgem foi fundada no alto, de modo que o diabo de modo algum poderia se aproximar.” O Beato Alberto Magno, Preceptor de São Tomás e Bispo de Ratisbona, célebre não menos por sua santidade quanto pelo número de suas obras, falecido em 1280, no tomo 20, livro 1, “De Laudibus B. Virginis”, capítulo 1, n. 3, assim se expressa: “Por isso que foi dito a Maria Ave, isto é, sem qualquer vae, nota-se a imunidade de todo pecado... Assim, ela foi imune de todo pecado. Mas em grau máximo? Certamente no grau máximo da criatura.” No livro IV, capítulo 27, número 1, com as palavras de São Bernardo, diz de Maria: “Esta é a Jerusalém santa, que pela prerrogativa dos méritos transcende todas as criaturas... para aniquilar todo o poder do inimigo, que só na linha universal da geração humana pode dizer após o Filho: 'O príncipe deste mundo nada tem em mim.' João 14. Também Joel: 'E será Jerusalém santa, e os estrangeiros não passarão por ela.'“ O Beato Jacopo da Varazze, Arcebispo de Gênova, elevado à glória beata por volta de 1298, nos “Sermões Áureos de Maria Virgem”, sermão 6, diz: “Foi (a Bem-aventurada Virgem) sem mácula, porque teve imunidade de todo pecado.” No sermão 121: “Ela (a Bem-aventurada Virgem) transcendeu a pureza angelical e superou toda pureza humana... Em segundo lugar, sua pureza teve uma impermeabilidade, porque nenhuma impureza, por menor que fosse, se misturou à sua pureza... Pois o pecado original não pôde de modo algum se misturar a ela, porque foi santificada pelo Espírito Santo, nem qualquer pecado mortal... nem qualquer pecado venial.” No sermão 135: “Os outros são concebidos com o pecado original, Cristo, porém, nasceu sem pecado original, a Virgem Maria, entretanto, ocupa o lugar intermediário. Pois foi concebida com o pecado original, mas nasceu sem pecado original.” Aqui, pode-se facilmente reconhecer pelo confronto dos textos que o autor neste último texto fala da concepção no débito ao pecado, e não na culpa.
95. No século XIV, homens de todo mérito seguiram a mesma sentença. Amando de Belloviso, que floresceu por volta de 1323, Mestre do Sagrado Palácio Apostólico, na conferência 4, diz que Maria foi santificada no primeiro instante de sua concepção. Pedro Paludano, ou seja, de Palude, Doutor da Sorbonne, feito Patriarca de Constantinopla em 1329, no 3º livro das sentenças, distinção 3, questão 1, prova a possibilidade, a conveniência e a realidade da preservação de Maria da culpa original, e responde aos argumentos que são apresentados em contrário. Roberto Holcot, Professor na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, que faleceu em 1349, na obra “Super librum sapientiae”, capítulo 14, lição 160, letra C, afirma que Maria não foi concebida no pecado original. O Venerável João Tauler, que terminou seus dias em 1379, no sermão da Purificação, escreveu assim: “Assim como a purificação não era necessária para a Beatíssima Mãe, ao contrário das outras mulheres, pois ela foi preservada de todo pecado, e concebeu e deu à luz o Filho de Deus pela operação do Espírito Santo, permanecendo virgem perpetuamente, adornada de toda pureza. Sua pureza, sem dúvida, também foi tão grande, acima de toda a limpeza dos Anjos, que não pode ser compreendida maior abaixo de Deus.”
96. Da mesma forma, no século XV, João Bromyardo, falecido em 1413, no “Summa Praedicant.” verbo Maria, art. 1, num. 10, assim escreve: “A Bem-aventurada Virgem foi eminentemente e especialmente santificada... na mesma questão, art. 2, (S. Tomás) estabelece a excelência da sua santificação quanto à prioridade do tempo, no fato de que foi santificada na sua animação; na união da alma com o corpo no ventre de sua mãe.” João Heroldo, sob o nome de Discípulo, falecido em 1418, no sermão V sobre a Concepção, escreve que Maria foi santificada e preservada em preferência a todos os Santos. São Vicente Ferrer, Doutor em Teologia, Taumaturgo por seus milagres, falecido em 1419, no sermão 1 sobre a Natividade da Bem-aventurada Virgem, número 1, diz que Maria foi concebida de forma miraculosa. No número 2, ele iguala a santificação de Maria à de Jesus Cristo quanto ao tempo, ou seja, que foi santificada no ato da infusão da alma: com a diferença de que o corpo de Cristo foi formado em um instante, e o de Maria ao longo do tempo. Em seguida, ele diz: “Oh! quão grande foi a alegria dos Anjos. A razão é que Cristo disse que há alegria entre os Anjos de Deus no Céu por um pecador que se arrepende; quanto mais pela Virgem Maria, que nunca pecou.” No número 4, ele prefere a santificação de Maria, quanto ao tempo, à de São João Batista e de Jeremias. No sermão 2, número 6, ele escreve: “Não acrediteis que foi como em nós, que somos concebidos, nascidos e morremos em pecados... mas assim que o corpo foi formado e a alma criada, então foi santificada. Por isso há a festa da sua concepção, porque se fez luz, isto é, a santificação nela. E imediatamente os Anjos no Céu fizeram a festa da concepção.” Leonardo Mattel de Udine, falecido por volta de 1470, no santuário, sermão 47, Natividade da Bem-aventurada Virgem Maria, diz que Maria foi santificada na sua concepção.
97. Em um opúsculo existente na Biblioteca Casanatense, impresso em caracteres semi-góticos sem data, mas que pelo contexto percebe-se ter sido publicado em 1524 e que traz o título “Manuale FF. Praedicatorum”, no final da Crônica, lê-se assim: “Como a Ordem dos Pregadores está acostumada a aderir à doutrina dos santos, até agora sustentou a opinião de São Jerônimo, Agostinho, Ambrósio, Bernardo, Gregório, Boaventura e outros santos doutores, de que a Bem-aventurada Virgem foi concebida no pecado original: mas agora não se deve preocupar com isso, pois é matéria de nenhuma utilidade e muito escandalosa, especialmente porque quase toda a Igreja, cuja prática e autoridade segundo São Tomás prevalece sobre a opinião de Jerônimo ou de qualquer outro doutor, agora afirma que ela foi preservada.” Nós, no entanto, vimos no número 60, com São Bernardo, o que os santos doutores entendiam ao dizer que ela foi concebida no pecado original. Giovanni Viguerio, chamado de Enchard, um dos primeiros teólogos do século XVI, que era professor público na Universidade de Toulouse em 1519, em “Instit. Theolog. cap. 18. §. 5. v. 2. Litt. D.” diz que Maria não teve pecado original, porque foi prevenida e preservada por uma graça especial e privilégio. Guilherme Pepili, falecido em 1533, em “Expositione septem psalm. paenit. in psal. 4. lect. 53. princ.” diz: “No entanto, dessa generalidade é excetuada a Bem-aventurada Virgem Maria, que embora tenha sido concebida naturalmente, foi divinamente preservada do pecado original.” Claudio Bota, falecido por volta de 1535, em sua obra de ouro, ou seja, “Legendario Legenda, c. 19. de Visitatione” escreve: “Assim, a Virgem sempre bendita, desde o início de sua concepção, foi cheia de Deus, em quem estão todas as virtudes.” Ambrósio Catarino, célebre por suas obras, um dos teólogos do Concílio de Trento e depois Arcebispo de Conza, que terminou sua vida em 1553, primeiro fez uma dissertação: “Pro veritate immaculatae Conceptionis Beatissimae Virginis ad Synodum Tridentinam”; depois publicou um outro opúsculo sobre a Imaculada Conceição da Virgem Maria, em que prova extensivamente e com a doutrina de São Tomás a isenção de Maria do pecado original. Baldassare Sorio, falecido em 1558, em “Maritili serm. 2. de Conceptione” demonstra a infusão da graça no princípio da existência de Maria. Domingo de Soto, professor de Teologia em Salamanca, pregador de Carlos V e por este enviado como teólogo ao Concílio de Trento, falecido em 1560, em De natura et gratia lib. 1. Cap. VII, diz: “Com essas e outras orações universais, desejamos que ninguém suscite suspeitas sobre a Conceição da Sacratíssima Virgem. Pois, embora o presente Concílio não defina nada sobre essa questão, mas, renovando o decreto de Sisto IV, deixe a cada um a liberdade de discutir em qualquer direção, nada menos me interessa.” Pietro Doré, doutor da Sorbonne, falecido em 1569, em sua obra em francês intitulada “L´image de vertu demonstrant la perfection, et sainte vie de la bienheureuse Vierge Marie” etc., no capítulo 1, demonstra que Maria foi sem mácula de pecado original, para se assemelhar tanto quanto possível a Jesus Cristo. O Venerável Luigi Granata, de quem Enchard diz: “Homem famoso em todo o mundo, e sobre quem facilmente se pode dizer: Fama conhecida além do céu”, elevado ao céu em 1588, em “Conc. 2. de Conceptione B. Virginis”, escreve que a pureza de Maria superou a dos homens e dos anjos por estar muito próxima à fonte da pureza, e em seguida acrescenta: “Não só a proclamamos imune de todos os pecados, mas também ornada com todos os dons e virtudes divinas.” Mattia Aquario, professor de metafísica e decano do Colégio de Nápoles, falecido em 1591, em “adnotation. super 4. libr. sent. Joann. Capreoli 3. sent. d. 3. concl. 1”, escreve assim: “A opinião que sustenta que a Beatíssima Mãe de Deus, a Virgem Maria, foi totalmente preservada de toda contaminação do pecado original é mais piedosa e mais adequada à devoção do povo e à razão humana... Pois Deus é um agente perfeito... portanto, preservou-a de toda mácula.” Raimondo Paschalio, mestre em Sagrada Teologia, falecido em 1593, em Comment. in epist. ad Rom. cap. 1, diz: “Por isso também (embora a Escritura não diga) é muito crível que a Mãe de Deus, Maria, tenha sido sempre imune de toda mancha de pecado. Tal grau de santidade e pureza convinha tanto ao Filho quanto à Mãe, embora ambos tenham alcançado esse grau de graça de modo diferente; um, isto é, pela natureza, e o outro apenas pela graça.” E no capítulo 5: “Pois, embora se possa acreditar (e é piedoso acreditar) que ela foi concebida sem pecado.”
98. Girolamo Almonacir, decano da Academia de Alcalá e intérprete das Sagradas Escrituras, falecido em 1604, no tomo 2 de “Cântico dos Cânticos”, cap. 8, explicando aquelas palavras: “Quem é esta que sobe do deserto?”, diz de Maria: “A quem nem a astúcia da serpente pôde seduzir, nem a beleza do fruto a induziu a pecar... Quem desde o momento de sua concepção esteve isenta de toda culpa, até mesmo a mais leve, etc.” Stefano Mendez, que floresceu em 1605 na obra impressa em espanhol intitulada “De la dignidad altísima de la Virgen Santísima madre de Jesucristo”, no livro 3, cap. 33 e seguintes, prova com muitas razões e com muitas figuras do Antigo Testamento que Maria foi isenta da culpa original. Serafino Capponi de Porrectta, que faleceu em 1614, explica, como vimos ao longo deste opúsculo, o “contraxit” de São Tomás da 3. p. q. 27, ar. 2, em potência, e a redenção de Maria por Jesus Cristo do pecado em dívida. O Venerável Girolamo Lanuza, bispo de Barbastro, falecido com fama de santidade em 1625, na obra “Tractatus Evangelici”, tract. 5, p. 5, §. 5, q. 209, escreve: “Mas, na verdade, porque a maior miséria da natureza humana é estar sempre implicada em pecados, de modo que ninguém é encontrado livre de mácula; sempre que Agostinho fala assim, ele excetua Cristo e a Beatíssima Virgem, sobre quem, quando se trata de pecados, ele não quer que se faça menção alguma.” Abramo Bzovio, conhecido pela quantidade de suas obras, falecido em 1637, em “Floresta Mariana”, panegírico 3, sobre a santificação da B. Maria Virgem, diz assim: “E teu rosto é formoso. Os inimigos de Maria proclamam isso de forma constante e com plenos pulmões. Ninguém nasce (exceto Maomé) entre os filhos de Adão que não seja tocado por Satanás, exceto Maria e seu filho. O que poderia ser dito mais claramente? O que poderia ser dito mais verdadeiramente sobre a beleza da Mãe de Deus? Ninguém? Portanto, nem Jeremias, nem João Batista, o precursor.” E no “Sacro Pancarcio para as Festas dos Santos”, na Festa da Santificação da B. Deipara, ele escreve sobre Maria: “Portanto, convinha que fosse inundada por uma graça ainda mais abundante, ou se preferires, antes mesmo que a mancha a tocasse, fosse purificada pela graça mais abundante do que qualquer um de seus antecessores, que nasceram ou foram criados na santidade ou na justiça... Todos encerrados sob essas águas, que a serpente rastejante vomitou em nosso calcanhar na nossa origem. Eu sei que somente a B. Virgem esmagou a cabeça do maligno, para que a fuligem não a manchasse, pois ela é toda formosa, toda sem mácula, toda lírio.” Niccolò Riccardi, Reggente da Minerva e posteriormente Mestre do Sacro Palazzo, falecido em 1639, nos sermões sobre as Litanias Lauretanas, no sermão XIV, no título “Mater purissima” no número 6, afirma que Maria foi sem pecado original e atual apenas com o poder divino. Veja também o sermão XIII, número 4, e o sermão XVI, número 2. Giovanni di S. Tommaso, Principal Professor na Academia de Alcalá e Confessor de Filipe IV, chamado por Enchard de “o mais esplêndido filho da Espanha no século XVII”, falecido em 1644, no tomo 1 de “Cursus Theologici”, parte 1, dissertação 2, “De approbatione doctrinae D. Thomae”, defende vigorosamente a preservação de Maria da culpa original. Marco Serra, que terminou seus dias em 1650, no “Comentário sobre a I-II de S. Tomás”, q. 81, ar. 3, sustenta a opinião da preservação. Domenico de Marinis, Arcebispo de Avinhão, falecido em 1669, em “D. Thom. 1. 2. q. 81. ar. 3. c. unic.”, defende como sentença comum entre os Tomistas e todos os Teólogos, que Maria apenas incorreu no pecado original em débito, citando o Ferrarês Dominicano a favor da sua opinião. Reginaldo Lucarini, primeiro Mestre do Sacro Palazzo e depois Bispo da Cidade da Pieve, falecido por volta de 1671, no “Manuale Tomistico”, parte 1, conclusão 24, número 238, afirma que a doutrina de São Tomás não é de modo algum contrária à preservação de Maria do pecado original. No número 243, ele conclui assim: “Louvo muito a piedade e o engenho dos recentes, alguns dos quais... sentiram que pelos méritos previstos de Cristo não houve tal débito na B. Virgem.” O piedoso e erudito Vincenzo Contenson, falecido em 1674, na “Theologia mentis et cordis”, livro X, dissertação VI, capítulo 1, especulação 11, embora em obediência aos decretos pontifícios não queira determinar o tempo da santificação de Maria, suas palavras mostram suficientemente como ele pensa a respeito. De fato, ele se expressa assim: “Primeiro, deve-se considerar o estado da graça nascente, ou a excelência da graça que lhe foi conferida no útero da B. Ana (não disputo se no primeiro ou no segundo instante, por reverência às Constituições Apostólicas da Santa Sé), que certamente foi de um grau tão elevado que acredito que a primeira graça de Maria começou onde terminam as graças de todos os outros, de modo que o grau inicial da graça de Maria foi maior, mais perfeito e mais intenso do que a graça de todos os Anjos e homens, desde a origem do mundo até o fim dos tempos.”
99. Entre os teólogos do século passado, Domenico Perez, principal professor na Academia de Alcalá, Pregador do Rei da Espanha, e depois Secretário do Índice, falecido por volta de 1700, no tratado “De Incarnatione”, tract. 2, quaest. unic. no apêndice ao dubium III, afirma com certeza que Maria não contraiu o pecado original pelos méritos de Jesus Cristo. Natale Alessandro, Doutor de Sorbonne, falecido em 1724, homem célebre em toda a República Literária, expressa sua opinião na “Theologia Dogmatico-Moralis”, livro 3, tratado 1, “De peccatis”, cap. 1, n. 11: “A Beatíssima Virgem Maria não é excetuada da lei e do débito de contrair o pecado original... mas é excetuada da adesão ao pecado original... Como a Virgem não foi contaminada por nenhum pecado atual, nem venial, conclui-se corretamente que ela foi isenta da mácula do pecado original.” Veja também o tomo 3 da “Storia Eccles.”, sec. 2, diss. 2, schol. 4. Luigi Barutel y Eril, Qualificador do Santo Ofício de Madrid e Provincial de Terra Santa, e Companheiro, ou seja, Sócio do Geral da Ordem Dominicana, no Sermão Fúnebre de Carlos II, Rei da Espanha, na pág. 13, ed. Romana, explicando as palavras de Jesus Cristo em São João cap. 11: “Quid mihi et tibi est mulier?” dirigidas a Maria, diz: “Com este título de Mulher, Cristo elogiou nas bodas a pureza original de sua mãe no primeiro instante de seu ser... Foi o mesmo que dizer: Mulher, essa falta de justiça original não toca nem a mim, nem a ti, a mim por natureza, a ti por graça.” Tommaso Spinelli, Vigário Geral dos Cavoti, que vivia em 1744, na pregação pela Anunciação, diz que em Maria, desde a hora da Conceição, todas as graças que ela recebeu foram disposições para torná-la digna Mãe de Deus, e acredita como provável que na Conceição, Maria tivesse tido o uso da razão, embora transitoriamente.
100. Reporto até aqui os textos dos autores cujas obras originais consegui consultar. Agora mencionarei aqueles autores dominicanos mencionados por outros escritores. Começando pelo Patriarca São Domingos, lê-se no P. Egídio da Apresentação Agostiniano, na sua obra “De immaculata B. Virginis conceptione”, livro 3, questão 4, artigo 1, §. 3, número 66, que o Santo Fundador escreveu um tratado “De Corpore Christi” contra os albigenses, onde diz: “Assim como o primeiro Adão foi formado da terra virgem e nunca amaldiçoada, assim convinha que fosse no segundo Adão, ou seja, Cristo, cuja terra, isto é, a Mãe Virgem, nunca foi amaldiçoada.” E, embora alguns neguem que esse tratado seja de São Domingos, como diz o próprio P. Egídio no local citado, o atribuem ao Santo Patriarca, Antonio de Cucário em “Elucidano de Conceptione Virginis”, Pedro Galatino no livro 7 de “De arcanis catholicae veritatis”, capítulo 7, Canisio no livro 1 de “De Virg. Deip”, capítulo 7. E entre os dominicanos, Vincenzo Belluacense no “Speculo historiale”, livro 19, capítulo 96, Teodorico de Apoldia na Vida de São Domingos, capítulo 6, e Santo Antonino na terceira parte, título 19, capítulo 1, §. 8. O Cardeal Belarmino no tratado “De Scriptoribus Ecclesiasticis” atribui a Erves Natale Armorico, XIV Geral da Ordem Dominicana, falecido em 1323, no comentário às Epístolas de São Paulo aos Coríntios, que geralmente se atribui a Santo Anselmo. Nesse comentário, no capítulo 5 da primeira Epístola, sobre as palavras: “Se um morreu por todos, logo todos morreram”, se lê: “Todos morreram no pecado, sem exceção, exceto a Mãe de Deus, quer pelos pecados originais, quer pelos adicionados voluntariamente.”
101. Ambrosio Catarino, em sua Disputatione pro veritate Immaculatae Conceptionis B. Virginis ad Synodum Tridentinam, p. 1, col. 66, afirma que Giovanni de Fenario, o quadragésimo segundo Geral da Ordem Dominicana, que morreu em 1538, costumava dizer: “Quem pode duvidar que, se aqueles primeiros estivessem agora vivendo entre nós, com a questão já esclarecida pela Igreja, quanto mais instruídos e quanto mais santos fossem, eles abraçariam prontamente essa opinião (da Imaculada Conceição), não seguindo outros, mas superando a todos com um espírito muito mais pronto e inclinado pela glória da Mãe de Deus.”
102. Giuseppe Giacobboni, em seu resumo em favor da Imaculada Conceição, Lit. G, sob a entrada “Giovanni,” refere-se a Giovanni della Penna, um professor em Salamanca que morreu em 1565, como tendo a opinião piedosa na parte 3 da Suma. Além disso, sob a entrada “Domenicani,” ele menciona os seguintes: Padre Giovanni Sagastizabal na devoção do Rosário, Padre Ludovico Uglierique nas Indulgências do Rosário, Padre Giovanni Charron e Padre Antonio Rosado no Rosário.
103. O citado Padre Egídio da Apresentação, em sua obra De immaculata B. Virginis Conceptione (livro 3, questão única, artigo único, parágrafo 2, número 23), escreve assim: “Da escola dos tomistas, a mesma opinião (sobre a Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem) é amplamente aceita. Frei Vicente Justiniano a defende extensivamente nas adições à história de Ludovico Bellarmini, impressas em Valência no ano de 1593 e no tratado sobre a Imaculada Conceição da Virgem, publicado no ano passado, 1615, onde ele testemunha ter ouvido muitos da mesma família e escola pregando publicamente ao povo que a concepção da Bem-Aventurada Virgem foi sem qualquer mancha original. Além disso, no final desse tratado, ele afirma que essa festa da concepção, sob o título de que a Virgem foi totalmente imune à mancha original, foi publicamente celebrada na Província da Bética e em sua Ordem.”
104. Giovanni Eusebio Nieremberg, em Exceptionibus Concilii Tridentini (capítulo 23), escreve assim: “Escrevem Palau, Álvaro Pizzarro e muitos outros que São Raimundo de Peñafort pregava a pura concepção da Virgem, especialmente na Igreja Espanhola no ano de 1265. O mesmo deve ser considerado sobre São Jacinto e São Pedro Mártir”. No parágrafo 1 do mesmo capítulo, ele enumera os seguintes dominicanos que mantiveram a opinião piedosa da Imaculada Conceição: Bartolomeo da Pisa (Tractatus de Virginibus, fruto 3), Sansio della Puente (Manual Sermonum de Conceptione), Giacomo Austrato (Liber Moralium, capítulo último), Alberto Las Casas, Giovanni di San Germiniano (Liber Sermonum), Ugone Pratense (Sermão da Anunciação), Baltassare Arias, Alfonso Cabrera (Concio de Conceptu, tomo 1), Manuel de Vargas (Sermo de Incarnatione, folha 7), Antonio Navarro (Tribus Concionibus), Egidio Fuscao, Paolo Comestabile, Tommaso Espina, Tommaso Manrique, Bartolomeo de Miranda, Andrea Coppestein (Clavi Praedicandi Rosarium, livro 1, capítulo 12, número 3) e Mancio, professor da Academia Salmaticense.
105. No capítulo XXIV do mesmo autor, são apresentados muitos testemunhos e documentos autênticos de cartas escritas por vários bispos e homens eruditos da Ordem Dominicana em favor da Imaculada Conceição de Maria. No Sacro Sillabo pro Immaculata Conceptione (§ 4), é dito que o Beato Pietro Geremia seguia a opinião piedosa a favor da Imaculada Conceição. O mesmo é dito sobre o Beato Jordano, segundo Geral da Ordem dos Pregadores, por Agostino de Angelis em Tractatus Theologicus de Conceptione (Parte 4, página 286).
106. Celestino Sfondrate. Em “In innocentia vindicata” §. V. escreve: “Vicente Cassali (Dominicano), que floresceu por volta de 1217, em alguns tratados panegíricos, explicou multiformemente e agudamente o mistério da Imaculada Conceição... Petrus Lavinius, em sua obra sobre a Bem-Aventurada Virgem, escrita em caracteres góticos, que está no Colégio Camberiense da Companhia de Jesus, Nicolaus Coeffetau em Tabula Innocentiae”.
107. Entre os Dominicanos que favoreceram a piedosa sentença, devem ser contados os dois Sumos Pontífices, São Pio V e Bento XIII. O primeiro dos quais proibiu que se falasse ou escrevesse contra a imaculada concepção de Maria, estendendo seu culto sob o título de Conceição. O segundo enriqueceu com tantas indulgências muitas Confraternidades erigidas sob este título.
108. Eu poderia aumentar muito mais o catálogo dos Dominicanos que seguiram a sentença da Imaculada Conceição de Maria, mas seria muito longo; e se alguém desejar conhecê-los, poderá ler Pedro de Alva de Astorza no “Ventilabro” e encontrará um número prodigioso. Passo então a relatar os documentos públicos que estão nos arquivos Dominicano para mostrar sempre mais qual sentença eles mantiveram.
109. No livro citado de P. Nierimberg, Except. Concilii Tridentini Cap. XXIII., escreve da seguinte maneira: “Existe vestígio disso no Martirológio da Ordem dos Pregadores do ano 1254... e no oitavo dia de dezembro é expresso como uma festa da Ordem de forma solene. No oitavo de dezembro, a Conceição da Santa Virgem Maria. Festa Dupla... Vários escritores, como testemunhas oculares, invocam a autoridade de vários Breviários veneráveis da antiguidade, nos quais se encontra a mesma Festa da Conceição no oitavo dia de dezembro, e eu mesmo vi um livro de Hinos, cujo título é: Hora de Nossa Senhora Virgem Maria para uso dos Frades Pregadores da Ordem de São Domingos, impresso em Paris no ano de 1529... A oração está formulada assim: 'Ó Deus, que por amor à salvação do gênero humano dignaste assumir para ti a gloriosa Virgem Maria, e escolheste concebê-la sem mancha desde os séculos como Mãe...' Hino para a Terça. A Conceição louvável anunciada pelo Anjo, Maria amada preservada na concepção... Para a Sexta, concebida sem vício, sem mancha a mais pura. Para as Vésperas, Salve, ó estrela do mar, concebida sem mancha.”
110. Na praça da igreja de São Domingos em Palermo, encontra-se uma coluna suntuosa, sobre a qual há uma excelente estátua representando Maria Santíssima Imaculada. Esta coluna foi erguida a pedido dos Padres Dominicanos; para este fim, o Padre Napoli Dominicano empreendeu uma viagem até Viena para obter de Carlos V, na época Rei da Sicília, a realização do pedido. Um monumento deste evento ainda existe retratando o próprio Padre Napoli no Convento de São Domingos, com a inscrição abaixo mencionada.
111. D. Pietro Maria Heredia del Rio, no livro “Memórias do Cardeal Girolamo Grimaldi”, na página 43, edição de Roma, menciona o Convento dos Dominicanos em Cabra, na Andaluzia, dedicado à Santíssima Virgem sob o título da Imaculada.
112. Pietro de Alva no Registro do Armamentário, col. 79, diz: “No Mosteiro dos Padres Dominicanos desta cidade, e da Cúria Matritense, chamado de Rosário, na rua de São Bernardo, acima da sua grande porta em letras douradas, lê-se esta inscrição: D. O. M. À Virgem Imaculada Conceição, Esposa Virginal de São José, e a Francisco de Assis etc., no ano de 1637”. E na col.528, menciona várias Confrarias sob o título da Imaculada Conceição, erguidas nas igrejas dos Dominicanos.
113. Celestino Sfondrate em Innocentia vindicata, § V, diz o seguinte: “No ano de 1653, no Capítulo Beneventano da Ordem dos Pregadores, foi promulgado o seguinte decreto: Nossos Religiosos e Comunidades assistam às pregações e festas deste mistério (Imaculada Conceição), e outras ações públicas, e em todas as ocasiões seja louvada, glorificada e sustentada a mencionada doutrina. E no ano de 1663, o Provincial da Espanha, por ordem do nosso Geral João Batista de Marinis, escreveu: Conformando-me com a ordem do nosso Pai Geral, ordeno a todos os Religiosos desta nossa Província que nos nossos conventos e fora deles proclamem o elogio costumeiro nestes reinos: “Puríssima Conceição da Virgem, concebida sem pecado original no primeiro instante de sua concepção”.
114. Diante de tantos escritores eminentes pela santidade e pela doutrina, e de tantos documentos públicos, quem poderá ainda duvidar da sentença da Ordem Dominicana em favor da preservação de Maria da culpa original? E se alguns entre os dominicanos têm mantido uma opinião contrária, isso não deve ser atribuído à opinião de todo a Ordem; àquela Ordem, digo, que nasceu sob a proteção da grande Mãe de Deus, àquele Ordem que se glorifica em exaltar as grandezas de Maria.
115. Portanto, que se enganem aqueles que têm outras ideias sobre a doutrina do Anjo das Escolas e sobre a Ordem Dominicana; ao ler este exame com mente livre de preconceitos, como convém a quem deseja encontrar a verdade, estou confiante de que formarão um julgamento justo sobre a devoção da Ordem dos Pregadores e de seu Mestre Angelical para com a abençoada entre todas as mulheres, aquela Heroína destinada desde a eternidade a esmagar a cabeça da serpente insidiosa, aquela a quem o Arcanjo Gabriel disse: “Ave Maria gratia plena Dominus tecum”, o que em um anagrama puro significa o mesmo que: “Deipara inventa sum, ergo immaculata”.
Agora cito por extenso o Pe. Pierr-Marie em seu artigo em forma de questão disputada sobre a Imaculada em Aquino: DE KERGORLAY, Pierre-Marie. Saint Thomas d’Aquin et l’immaculée conception, In “Le Sel de la terre”, n° 52, 2005, pp. 44-60 (também está traduzido e completo em meu livro).
O Padre Lépicier (que no entanto pensa que São Tomás estava errado nesta questão) está entre os defensores da imaculada concepção: o próprio São Domingos, de quem uma tradição constante relata que realizou um milagre em Toulouse para defender que Nosso Senhor nasceu de uma Virgem imaculada, São Vicente Ferrier (1350-1419), São Luís Bertrand (1526-1580), Ambroise Catharin (+1553), o venerável Louis de Grenade (1504-1588), Jean de Saint-Thomas (1589- 1644), Noel Alexandre (1639-1724) e muitos outros (alii bene multi), diz ele, e conclui: “Do que parece que aqueles que estão longe da verdade estão caluniando esta ilustre Ordem, dizendo que ela já foi completamente estranha a este dogma”.
Podemos acrescentar a esta lista os nomes de São Pedro Mártir, São Raimundo de Peñafort, de São Jacinto, de Beato Jacques de Voragine, Hugo de Saint-Cher (todos do século XIII), Jean Tauler (1300-1361), Domingos Soto (1495-1560), São Pio V (1504-1572), etc. A festa da Imaculada Conceição foi incluída no martirológio da Ordem em 1524, vários conventos ou monumentos da Ordem foram erguidos em sua homenagem antes da definição, e o seu título foi introduzido no prefácio e nas litanias da Bem-aventurada Virgem Maria em 1843.
No Concílio de Trento (século XVI), 25 bispos dominicanos solicitaram a definição do dogma.
Os Dominicanos ainda eram favoráveis à Imaculada Conceição, antes da sua definição (limitando-nos aos teólogos mais famosos, que têm aviso na DTC)
• Capponi de Porrecta O.P. (1536-1614), que escreveu: “Deve-se dizer, portanto, segundo o sentido claro do contexto (de São Tomás): Se a Santíssima Virgem nunca tivesse incorrido na mancha da culpa original, e se ela não estivesse em condições de contraí-lo, não teria necessitado de redenção, isto é, se a Santíssima Virgem nunca tivesse incorrido, nem por ato, nem por dívida, ou seja, de acordo com o poder do devedor, a mancha de a culpa original, então não haveria necessidade de redenção”.
• Padre Louis Chardon O.P. (1595-1651), autor do famoso livro A Cruz de Jesus: “Chardon admite a concepção imaculada, – pelo menos é o que parece emergir de certas expressões (p. 191, 194, 219).”
• Padre Louis Bancel O.P. (1628-1685), que assim se refere a Jean de Saint Thomas: “Quanto à opinião relativa à imaculada concepção, é absolutamente necessário ler o muito culto João de São Tomás, neste tratado que podemos nunca elogie o suficiente...”.
• Padre Massoulié O. P. (1632-1706), que por sua vez escreve que “nunca e em nenhum lugar São Tomás negou a piedosa opinião [sobre a imaculada concepção da Virgem]”.
• Padre de Graveson O. P. (1670-1733), que pensa o mesmo e acrescenta: “Quisera Deus que esta desastrosa controvérsia, tão irritantemente inaugurada por Jean de Montson, chegasse ao fim! Mas infelizmente ! os dominicanos do colégio de Saint-Jacques de Paris (nem todos, pois vários, para justificar a oposição, alegaram que os superiores ainda não tinham dado autorização), que, desde o início e sempre, permaneceu como uma creche de homens ilustres que acreditavam falsamente que esta censura da Faculdade de Paris contra John de Montson afetou a doutrina de São Tomás; e é por esta razão que assumiram a defesa de Jean de Montson e recusaram subscrever a censura”.
6. — É verdade que entre os discípulos de São Tomás que foram favoráveis ao dogma – antes ou depois da sua promulgação –, vários dizem que São Tomás de Aquino se enganou nesta questão: os Carmelitas de Salamanca (século XVII), os servitas (e cardeal) Lepicier (1863-1936), os jesuítas Suarez (1546-1617), Pesch (1853-1925), Billot (1846-1931) e Le Bachelet (1855-1925, autor do artigo Imaculada-Concepção DTC) , etc.
Porém, podemos notar com Zubizarreta que este não é o maior número. Pronunciados em sentido inverso: o franciscano François Henno (no início do século XVIII), o carmelita Sylveira (1592-1687), os jesuítas Nieremberg (1595-1658), Plazza (1677-1761), Perrone (1794-1876). ), Cornoldi (1822-1892), Palmieri (1829-1909) e Hurter (1832-1914), o Cardeal Mazella S.J. -1924), Del Prado (1852-1918), Hugon (1867-1929) e Garrigou-Lagrange (1877-1964), que no entanto admite uma hesitação momentânea nascida de São Tomás.
Podemos ainda acrescentar o testemunho da Universidade de Paris que, no início da polémica, e nas próprias censuras levantadas, em 1387, contra Jean de Montson, recusou-se a opinar contrariamente ao pensamento de São Tomás. Aqui estão suas palavras: “Já o dissemos mil vezes, e parece que não basta: nesta condenação [de Jean de Montson] não reprovamos de forma alguma a doutrina de São Tomás, mas afirmamos com ousadia que ele [Jean de Montson] e seus perpetradores devem ser condenados, porque desviam a doutrina [de São Tomás] num sentido falso, contrário à fé, e além dos limites permitidos, e a estendem muito longe contra o ensinamento do Doutor “. E na frase proferida contra o mesmo teólogo: “Tendo em conta as deliberações que vinte e sete Mestres de Teologia tomaram cuidadosamente sobre este assunto, com o mais profundo respeito por São Tomás, que acreditamos ter provavelmente tido um significado adequado, dizemos [ …]”.
João de Segóvia, no Concílio de Basileia, no início do século XV século, defendeu a imaculada concepção apoiando-se em São Tomás e explicando a aparente antinomia de seus escritos.
Padre Del Prado, que escreveu uma “suma” essencial sobre a questão, comenta sobre este assunto: aqueles que dizem que São Tomás se opôs à imaculada concepção não consideraram suficientemente a questão e não penetraram no pensamento de São Tomás.
Terminemos com este julgamento de um franciscano, Padre François Henno: “É surpreendente que os discípulos de São Tomás tivessem pouco zelo, neste ponto, pela honra do seu mestre, tanto que se declararam defensores da opinião contrária, quando pode ser facilmente explicado.”
Nem todos os discípulos de São Tomás de Aquino estão neste caso, como procuramos mostrar. Acrescentemos que, ao defender a sua honra, é a própria honra da Igreja que defendemos. Como bem escreveu João de São Tomás: “A defesa de São Tomás […] não é a defesa de uma pessoa privada, mas de toda a Igreja […]. É por isso que, quando defendemos São Tomás […], defendemos nele algo maior.
Vale ainda lembrar que muitos dos que negaram a Imaculada, negaram formas errôneas da doutrina, conforme ela era defendida pelos teólogos do seu tempo: a) santificação nos pais, b) santificação na concepção ativa, c) santificação do corpo antes da animação, d) santificação da alma antes do termo da animação, e) Maria feita a partir de um pedaço incontaminado da carne de Adão, f) Maria predestinada à maternidade divina antes da previsão do pecado (o que excluiria o débito próximo), etc. Enfim, todas formas errôneas de isentar a Virgem do contágio do pecado, pois fariam dela uma Imaculada não redimida, segundo os dominicanos.
A lista do Masson é incompleta, e, como vimos, muitos outros nomes podem ser acrescentados a ela, chegando facilmente a ultrapassar os 70 nomes. Ainda para o Congresso Mariológico, Masson escreveu um outro artigo especificamente sobre os dominicanos favoráveis à Imaculada Conceição que também se encontra no Vol. VI das Atas do Congresso: MASSON, Reginaldus. 1955. “Les dominicains favorables à l’Immaculée Conception de Marie.” In De Immaculata Conceptione in Ordine S. Dominici, vol. VI of In Virgo Immaculata: Acta Congressus Mariologici-Mariani Romae anno MCMLIV celebrati, 177-86. Roma: Academia Mariana Internationalis. A este artigo ainda não consegui acesso, mas assim que consegui o trarei traduzido para o nosso site.
Salve Maria e Viva Cristo Rei!!!
Por: Daniel Arthur.
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