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  • Hopkins

Houve Papas que negaram a Imaculada Conceição?

 Parte I - São Gelásio I 



INTRODUÇÃO


Nas várias obras sobre a Imaculada Conceição, sejam elas contrárias ou favoráveis, é comum encontrarmos longas discussões sobre a presença (ou ausência) da doutrina nos Pais da Igreja ou escritores eclesiásticos da Antiguidade ou da Idade Média. O historiador protestante Philip Schaff, em seu “Creeds of Christendom”, dedica um capítulo inteiro para apresentar argumentos contrários à doutrina[1]. Ao longo do capítulo, Schaff levanta citações e escritos de papas que supostamente teriam negado a doutrina. Como admitido pelo autor, a lista é retirada da obra do jansenista Jean Launoy[2].


A lógica do argumento é evidente: Se até o Papa, líder máximo da Igreja Católica, se opôs a esta ideia em tempos anteriores, como a Igreja de Roma pode sustentá-lo como doutrina revelada? Temos, então, uma claríssima demonstração de uma contradição entre o magistério destes papas e o magistério de Pio IX. 


Em sua lista, Schaff cita sete papas: São Leão Magno, São Gelásio I, São Gregório Magno, Inocêncio III, Inocêncio V, João XXII e Clemente VI. Essa argumentação segue sendo replicada por vários sites de apologética protestantes[3]. Nesta série de artigos, iremos analisar essas supostas negações tendo em mente o longo processo de desenvolvimento da Imaculada Conceição até sua proclamação na Ineffabilis Deus. Não iremos seguir uma ordem cronológica da relação de papas citados ou qualquer outra ordem pré-definida. 


QUESTÕES PRELIMINARES


Já podemos adiantar que nenhum dos casos analisados representam qualquer problema para a definição de Pio IX. Mesmo tomando as citações que iremos expor como verdadeiras negações, absolutamente nenhuma delas representa um exercício magisterial que pretendeu definir ou fechar a discussão, em alguns casos, elas nem sequer representam um exercício magisterial, mas sim opiniões privadas de teólogos. Sabemos que um papa, bispo ou teólogo pode se manifestar privadamente sobre questões ainda não definidas pelo magistério. Durante séculos, a Imaculada Conceição permaneceu como uma opinião teológica não vinculativa e, como tal, foi alvo de muitas especulações. São Bernardo, grande teólogo medieval que negou a doutrina[4], declarou:


“Mas o que eu disse [sobre a Imaculada Conceição] está submetido ao julgamento de quem for mais sábio do que eu; e especialmente submeto tudo isso, assim como toda as questões semelhantes, à autoridade e decisão de Sé de Roma, e estou preparado para modificar minha opinião se em algo eu pensar de maneira diferente da Sé.”[5]. 

Explica também o teólogo Ludwig Ott: 


“Opiniões teológicas são opiniões pessoais de teólogos sobre questões de fé e moral que não são claramente atestadas pela revelação e sobre as quais o magistério da Igreja ainda não se pronunciou. A autoridade de tais opiniões depende do peso de suas razões (conexão com a doutrina revelada, atitude da Igreja).”[6]

Ter estas questões em mente é crucial para analisar dogmas através da história, não é possível realizar uma análise honesta e imparcial sem entender este mecanismo católico em sua plenitude, como veremos, muitos detratores falham completamente neste aspecto. Dito isso, primeiro analisaremos as negações atribuídas ao papa São Gelásio I.


AS CITAÇÕES DE SÃO GELÁSIO I


Gelásio I foi um papa de origem africana (ou italiana) do final do século V. Seu pontificado foi prolífico em contribuições sobre a autoridade papal, mas, além disso, escreveu obras e cartas para combater um “renascimento” da heresia pelagiana que ganhou novos adeptos e formas em seu tempo. É no conjunto dessas obras que encontramos a primeira citação, onde se lê:


“Mas, se alguém afirmar, não pela capacidade humana, mas pela graça divina, que a perfeição da vida pode ser alcançada por qualquer santo, faz bem (pois todas as coisas são possíveis pelo dom de Deus) a ter tal confiança e a esperar fielmente. No entanto, se alguns existiram que alcançaram essa perfeição na presente vida, como não é claramente demonstrado em lugar algum, não nos convém confirmar ou refutar facilmente. É mais sensato reconhecer o progresso desta vida a partir das palavras dos próprios santos profetas e apóstolos, os quais, neste mundo, em relação à instituição de uma vida santa, é manifesto que nada foi ou é mais excelente: mesmo que tenham sido impelidos por um dom mais abundante de Deus ou tenham sido afetados por paixões humanas raras ou mínimas, e superaram facilmente os vícios da mortalidade pela abundante graça de Deus (Dei gratia mortalitatis vitia facile superarunt); no entanto, eles não afirmam ter sido completamente isentos desses vícios, de modo que não se possa dizer que seja próprio apenas do Cordeiro imaculado não ter pecado algum, para que não pareça que apenas ele deve ser considerado santo por ser considerado livre de pecado. Portanto, contentemo-nos com a profissão dos santos; e ouçamos o que eles mesmos afirmam sobre si mesmos, em vez de seguir o que devemos pensar levianamente, ou discutir nossas opiniões sem uma autoridade certa. Mas por que, quando Deus Todo-Poderoso poderia ter concedido ao homem, após o mistério da redenção humana, a imunidade completa de todos os vícios, Ele preferiu que Seus fiéis fossem salvos e esperassem a firmeza da bem-aventurança perfeita, para que pudéssemos alcançar o que desejamos pela esperança, pelas coisas? E agora Ele decidiu aperfeiçoar a virtude na fraqueza, o que, removendo as fraquezas, não permitiria que a condição humana fosse sacudida pela agitação da doença.”[7]

Em geral, desta grande exposição, retiram o trecho “seja próprio apenas do Cordeiro imaculado não ter cometido pecado algum” para sustentar a suposta negação do papa. Existem divergências sobre a datação deste tratado. Roux, padre da Universidade de Paris e autor de uma obra destinada a estudar a vida e os escritos de Gelásio, defende que ele foi enviado para esclarecer dúvidas quanto a outra carta de Gelásio contra o pelagianismo, que analisaremos mais adiante. No entanto, a pesquisa histórica mais recente aponta que o tratado foi escrito antes da eleição de Gelásio, o que significa que estamos lidando com opiniões teológicas:


“Gelásio teve que defender em diversas ocasiões a fé e a hierarquia da Igreja, que estavam em perigo. Ele teve, por exemplo, de lidar com o pelagianismo. Ele o estudou em um tratado bastante longo, provavelmente antes de seu pontificado”[8]

Roux apresenta um resumo do tratado, comprimindo o pensamento gelasiano na proposição: “é auto-engano e colocar-se fora da verdade fingir que o homem pode conseguir nesta vida ficar totalmente isento de todas as tentações da fragilidade humana.”[9]


No entanto, encontramos um problema ao notar que Gelásio não apresenta a Virgem Maria como uma exceção. Tomemos uma análise mais profunda do texto, das influências de Gelásio, assim como referências cruzadas de suas ações litúrgicas. Partiremos da análise do teólogo polonês Władysław Grzelak:


“A superestimação da força de vontade natural levou os pelagianos, especialmente Calestius e seus seguidores, à audaciosa tese de que o homem poderia viver completamente sem pecado por meio do puro poder de sua vontade. Em seu quinto tratado, Gelásio nos apresenta a um novo erro que parece ser apenas um desdobramento do que acabamos de mencionar. Trata-se da afirmação de alguns de que “todos podem permanecer firmes nesta vida com tal perfeição que não são perturbados por nenhuma paixão da fragilidade humana, nem atormentados por impulsos corporais”. Esse tipo de perfeição, como o Papa observa na refutação do erro, pode ser alcançado tanto pela própria força quanto com a ajuda da graça divina; no primeiro caso, Gelásio nega a possibilidade de alcançar um estado tão perfeito. Ele justifica isso brevemente, referindo-se aos primeiros seres humanos, que não poderiam existir em sua integridade sem a graça de Deus; muito menos, portanto, a natureza caída e doente pode permanecer firme em seu próprio poder, sem a ajuda divina. No segundo caso, se alguém afirma que, por meio da graça divina, tal perfeição pode ser concedida a todos os santos nesta vida, ele faria bem em acreditar e esperar por isso, já que com a ajuda de Deus tudo é possível. Gelásio agora se volta para a realidade da vida com a questão de saber se de fato houve pessoas que atingiram tal grau de perfeição. Ele não quer responder à pergunta nem afirmativa nem negativamente desde o início, mas sim deixar que falem os santos profetas e apóstolos, que nunca foram superados em santidade de vida, nem jamais serão superados. Mesmo que, graças a um dom especial de Deus, eles tenham sido apenas raramente ou fracamente atacados pelas paixões e as tenham vencido facilmente com a ajuda de uma graça maior de Deus, eles não estavam tão livres delas a ponto de não terem pecado algum, como é característico apenas do “Cordeiro imaculado”. Os profetas e apóstolos devem nos ensinar como medir o progresso desta vida. 
A ênfase principal da explicação está, de acordo com a afirmação oposta mencionada no início, na luta contra as paixões. A linguagem do Papa mostra que ele está falando das paixões em geral. Ele usa palavras como “humanae conditionis passiones”, “mortalitatis vitia”, “vitia humanae conditionis”; os santos são atacados por essas vitia (impetiti, pulsati sunt). Vitia, aqui, sem dúvida, não significa pecados ou vícios, mas os afetos internos que provocam uma pessoa a pecar. Agostinho os define como “affectiones, quae contra rationem accidunt mentemque perturbant”. Vitia não se refere apenas aos desejos carnais, mas também aos maus desejos em geral; nesse sentido, o Papa também fala de “infirmitates”, de “languoris exagitatione pulsari”, de “affectus humanae miseriae”, “incursus”. O homem é envolvido pelos sentidos mundanos (mundanis sensibus) e oprimido pela natureza, que está sujeita à corrupção. Ele suporta o “affectus mortalis infestationis”, está sujeito ao “molestiis”. Todas essas expressões atestam que Gelásio tem em mente a miséria geral da humanidade. De todas as paixões, a concupiscentia carnis é certamente a mais violenta e a mais perniciosa. Por essa razão, Gelásio provavelmente a vê como o maior obstáculo à perfeição absoluta, razão pela qual ele cita passagens bíblicas que, como veremos em breve, referem-se particularmente à concupiscência da carne. Deve-se entender, portanto, que ele usa a palavra “impassibilitas” para expressar a liberdade dos desejos carnais em particular.”[10]

Desta abrangente explicação, quando pensamos na Virgem Maria, nós encontramos esclarecimentos e dificuldades. O esclarecimento se dá pelo contexto e pelas expressões utilizadas por Gelásio. Como vemos, ele não estava respondendo àquele pelagianismo dos tempos de Santo Agostinho. Agora, ele lida com a ideia de uma perfeição ainda mais absoluta, a completa ausência de paixões, que Gelásio acreditava estar presente em todos os santos, pelo menos minimamente. Deste ponto de vista, é natural que o nosso papa não tenha pensado na Virgem, uma vez que, como agostiniano, ele estaria bastante ciente de que, para Santo Agostinho, nem mesmo a Virgem Maria esteve livre da concupiscência, uma vez que foi concebida através de uma relação sexual. De fato, Santo Agostinho atribui a Maria uma “carne de pecado” e, em outra passagem, afirma que Maria “morreu pelo pecado”[11]. Assim, a afirmação sobre a exclusividade sublime de Jesus (o Cordeiro Imaculado) é perfeitamente justificada. Esta é a ênfase principal da exposição de Gelásio e, como tal, não representa um problema para a Imaculada Conceição, embora as discussões estejam intimamente ligadas: 


“A Imaculada Conceição isoladamente, portanto, não é admitida por todos como a razão definitiva da imunidade à concupiscência. Isto não quer dizer que a concupiscência pudesse ter existido na Virgem Imaculada como uma penalidade ou punição pelo pecado, mas apenas como uma consequência da natureza humana. É antes ver a eminente santidade da Santíssima Virgem como a razão comum da Imaculada Conceição e da imunidade à concupiscência.”[12]

As dificuldades levantadas giram em torno da busca de Gelásio por alguém que alcançou tal estado de perfeição. Em primeiro lugar, temos a afirmação de que os santos profetas e apóstolos foram os mais excelentes “na instituição de uma vida santa” e o fato do nome da Virgem não ser citado como uma exceção quanto ao pecado cometido em vida. Ambos os pontos eliminam aquela alta mariologia em que a Virgem Mãe é posta como a mais santa das criaturas. 


A partir deste problema, podemos estabelecer alguns pontos já certos na história do desenvolvimento da Mariologia e importantes para a nossa análise:


Primeiramente, como um escritor do V século, se concedermos esta conclusão, notamos também que Gelásio está indo na contramão do desenvolvimento da mariologia. Nesta época, já eram prolíficos os testemunhos da santidade excelsa e sublime da Virgem, inclusive nos escritos de Agostinho, como veremos. Porém, podemos cruzar algumas informações sobre os atos papais de Gelásio para lançar luz sobre esta passagem. 


Ao investigarmos a liturgia primitiva celebrada em Roma, nós encontramos a oração Communicantes, uma oração que invoca e pede a intercessão dos santos:


Em união e venerando a memória, em primeiro lugar, da gloriosa Sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas também do bem-aventurado José, esposo da mesma Virgem, e dos vossos bem-aventurados Apóstolos e Mártires, Pedro e Paulo , André, Tiago e João, Tomé, Tiago, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Simão e Tadeu: Lino, Cleto, Clemente, Sisto, Cornélio, Cipriano, Lourenço, Crisógono, João e Paulo, Cosme e Damião, e todos os seus santos por cujos méritos e orações garantem que possamos em todas as coisas ser fortalecidos com a ajuda de sua proteção.

É fato que, na história do desenvolvimento da liturgia, muitos nomes foram acrescentados à lista e que, com certeza, ela era muito mais curta. O eminente liturgista Jungmann defende uma inclusão no fim do século V (exatamente o momento do curto pontificado de Gelásio):


A lista inicial deve ter incluído os nomes dos santos que gozavam de um culto especial quando a Communicantes foi introduzida em Roma. Assim eram no final do século V a Virgem, os santos Pedro e Paulo, Sisto e Lourenço, Cornélio e Cipriano. O culto à Mãe de Deus teve na Cidade Eterna, pouco depois do Concílio de Éfeso, o seu magnífico centro em Santa Maria Maggiore, a basílica Liberiana, que, sob Sisto III (432-440), após a sua restauração, foi solenemente consagrada.[13]

Jungmann baseia sua conclusão no trabalho de Kennedy, The Saints of the Canon of the Mass, onde o autor defende que os nomes da Virgem e dos apóstolos Pedro e Paulo foram adicionados pelo próprio São Gelásio I[14]. No entanto, a pesquisa dos grandes mariólogos Salvatore P. Meo e Dom Georgius Frenaud apontam que a forma mais antiga da oração pode remontar ao pontificado de São Leão Magno[15]. A principal objeção contra essa antiguidade seria a aparente ausência de uma veneração da Virgem na Roma do século V. No entanto, a pesquisa histórica recente do historiador Shoemaker, catedrático da Universidade de Oregon e especialista em cristianismo antigo, no ajuda a esclarecer e superar esta objeção:


Também das catacumbas romanas existem várias representações da Virgem Maria em vidro dourado que datam do final do século IV e, neste caso, não há dúvida de quem é retratada: Maria é especificamente nomeada nos próprios objetos. Estas cinco pequenas fichas de vidro representam Maria na posição de orans, ou seja, com os braços levantados em oração, sozinha ou na companhia de Santa Inês ou de Pedro e Paulo. Hermann Vopel os data com base em seu estilo antes da conclusão dos mosaicos retratando Maria na igreja de Santa Maria Maggiore em Roma, que estava quase completa quando o Concílio de Éfeso se reuniu em 431. Infelizmente, o propósito exato desses objetos não são inteiramente conhecidos, mas parecem claramente ligados à crença crescente nos poderes de intercessão de Maria. Como Davis observa sobre outras imagens semelhantes, ‘os orans passam a simbolizar a oração e a intercessão do falecido (ou mais especificamente, do mártir) em nome do espectador fiel’. Portanto, estes pequenos medalhões proporcionam ainda outro tipo de evidência do culto da Virgem e da crença no poder das suas intercessões durante este período, presumivelmente provenientes de um contexto devocional mais privado...
Para os nossos propósitos, a parte mais significativa deste estudo – e também uma das mais persuasivas – é o esclarecimento de dois painéis das portas de madeira entalhada de Santa Sabina, em Roma, que foram esculpidos entre 422 e 440 e, portanto, aproximadamente contemporâneos da época. Concílio de Éfeso. Um painel retrata claramente a Ascensão de Cristo às nuvens, sem nenhuma representação da Virgem. No entanto, na mesma porta há um painel no qual Maria fica orante enquanto parece receber uma coroa com Cristo nos céus acima dela – uma cena muito parecida com a iconografia tradicional da Ascensão de Cristo. No entanto, os historiadores da arte há muito que concordam que esta não pode ser a Ascensão de Cristo, uma vez que está claramente representada de uma forma muito diferente noutros pontos da porta. Em vez disso, o Índice de Arte Cristã de Princeton identifica apenas vagamente esta imagem como ‘Madonna advocata’, ou seja, Maria, a intercessora, o que, se correto, seria interessante por si só. No entanto, Kateusz está sem dúvida certo ao dizer que, em vez disso, encontramos aqui uma representação muito antiga da Assunção da Virgem, mais uma vez, aproximadamente contemporânea do Terceiro Concílio.[16]

Cruzando as informações trazidas por Shoemaker e as pesquisas citadas acima, encontramos ainda mais razões para identificar a Communicantes como uma oração do quinto século. Assim, devemos tomá-la como mais uma evidência contra a ideia da ausência de veneração à Virgem em Roma. Feito estas pontuações quanto à sua antiguidade, qual a importância para o que discutimos?


Embora seja certo que o trecho “da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus…” seja posterior e, provavelmente, adição de São Gregório, é fato que o nome da Virgem aparece primeiro na lista mesmo em sua versão primitiva. Esse dado não é aleatório, mas sim fruto da mentalidade cristã; A Communicantes cita os nomes em uma ordem hierárquica: Citar São Pedro e São Paulo é fruto da tradição católica que toma esses dois apóstolos como fundadores da Igreja de Roma. Ao citar os mártires, os nomes dos bispos aparecem primeiro. Qual seria, então, a razão para citar a Virgem em primeiro lugar? 


Isto se explica perfeitamente se tomarmos o lugar da Virgem nesta piedade litúrgica, vista como o maior exemplo de santidade. A adição posterior de São Gregório só reforça esta conclusão. Sendo assim, uma vez que temos uma sólida base para defender com segurança que S. Gelásio conhecia e rezava a oração, temos uma evidência sutil, mas fortíssima indicação do seu pensamento em relação a santidade da Virgem. Lembremos do princípio “lex orandi, lex credendi”, a Igreja crê no que reza.


Essa visão está em perfeita consonância com as influências teóricas que formaram o pensamento gelasiano, a saber, São Leão Magno e Santo Agostinho. Na verdade, é na famosa passagem do De Natura Gratia, obra que São Gelásio não só cita prolificamente, mas, por vezes, simplesmente transcreve trechos em seus textos, que encontramos outra possível razão para a ausência da Virgem em seu texto:


Em seguida, Pelágio relata aqueles que, segundo se diz, não apenas viveram sem pecado, mas também viveram com justiça: Abel, Enoque, Melquisedeque, Abraão, Isaque, Jacó, José, Josué, filho de Num, Finéias, Samuel, Natã, Elias, Eliseu, Micaías, Daniel, Hananias, Azarias, Misael, Ezequiel, Mordecai, Simeão, José, com quem a Virgem Maria foi desposada, e João.  Ele também acrescenta as mulheres: Débora, Ana, mãe de Samuel, Judite, Ester, a outra Ana, filha de Fanuel, Isabel e aquela que foi a mãe de nosso Senhor e Salvador, que, segundo ele, somos obrigados, por piedade, a confessar que não tinha pecado. Portanto, faço uma exceção da Bem-aventurada Virgem Maria, em cujo caso, por respeito ao Senhor, não quero levantar nenhuma questão quando a discussão diz respeito a pecados - pois de onde sabemos que abundância de graça para vencer inteiramente o pecado foi conferida a ela, que teve o mérito de conceber e dar à luz aquele que indubitavelmente não tinha pecado? Excetuando-se a Virgem Maria, se reuníssemos todos esses santos, homens e mulheres, enquanto viveram aqui, e perguntássemos a eles se estavam sem pecado, o que podemos supor que seria a resposta deles? Eu lhe pergunto: seria o que Pelágio diz ou o que o apóstolo João diz? Por mais excelente que tenha sido a santidade deles nesta vida, se pudessem ser questionados sobre isso, teriam declarado em uma só voz: ‘Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós’.[17]

Tomando a atitude do grande santo doutor como exemplo, São Gelásio não quis discutir o caso da Virgem. Na verdade, nos trechos onde diz:


No entanto, se alguns existiram que alcançaram essa perfeição [completa ausência de paixões] na presente vida, como não é claramente demonstrado em lugar algum, não nos convém confirmar ou refutar facilmente...em vez de seguir o que devemos pensar levianamente, ou discutir nossas opiniões sem uma autoridade certa,

encontramos indicações de que o então bispo conhecia as discussões em torno da Virgem (vide seu contato com o De Natura Gratia e sua alegação de não querer "confirmar ou refutar" nada), que não queria se deter em discussões detalhadas sobre o assunto e escolheu tomar para sua argumentação o que era indiscutível ao citar claras passagens bíblicas em favor de sua posição. Uma vez que aludir à opinião do santo doutor, ferrenho opositor do pelagianismo, poderia não ser visto como válido por seus opositores, o futuro papa assumiu o que era comum a eles: o testemunho das Sagradas Escrituras.


O paralelo óbvio entre ambas as discussões também é outra forte evidência: Ambos discutem se houve santo sem pecado, ambos combatem o pelagianismo (embora com formas diferentes), ambos seguem-se com uma lista de nomes etc. Além disso, dado o caráter argumentativo e apologético do Tratado, citar a Virgem não o ajudaria, já que, além de uma inteira piedade e autoridades na Igreja que eximiam Maria de pecados (principalmente dos pecados atuais, situação que está sendo discutida por Gelásio), não há passagens bíblicas que descrevem situações em que Maria pecou ou declarou ser uma pecadora, método que Gelásio usou em sua argumentação ao citar passagens onde os profetas e os apóstolos admitem possuírem vícios ou cometem pecados. 


Partimos agora para análise de outro texto de Gelásio, desta vez no segundo ano de seu pontificado, onde o autor diz:


“Tendo-se tornado assim os governantes de nossa substância, esses tais tornaram-se passíveis de sofrimento e corruptíveis; violando, a ponto de serem punidos pela vingança da morte, os dons da condição divina. Não é questionável que morreram no dia em que se tornaram mortais: portanto, tudo o que esses progenitores geraram de sua descendência é obra de Deus, de acordo com a instituição da natureza; mas não sem o contágio daquele mal, que atraíram com sua transgressão: e certamente é seguro que esse mesmo contágio do mal não é obra divina. Assim, o vício que a natureza recolheu por movimento voluntário não é de criação de Deus; mas Deus também executa Sua instituição sobre a natureza viciada por si mesma; porém, a criação gera o vício, que não recebeu da instituição do Criador, mas que ela própria assumiu pela queda de sua transgressão. Pois se os primeiros homens, como dito, nascidos sem pais e formados sem nenhum contágio, puderam se corromper por meio da presunção ilícita, e adicionar ao trabalho de Deus a obra da fraude diabólica, o que há de surpreendente se esses mesmos, corrompidos, geraram descendência corrompida? Não é também o caso de que, embora Deus tenha criado a substância humana livre, pelas leis humanas, a servidão que vem de fora naturalmente a torna restringida e sujeita? Eles são gerados sujeitos por origem, e nascem ligados por condição servil; e, ao nascer, tornam-se primeiro obrigados antes de serem gerados: se isso acontece com coisas colocadas fora da natureza, quanto mais não é surpreendente que isso provenha daquelas em que a própria substância humana é reconhecida como corrompida? E assim, como a substância humana se fez culpada pela vontade poluída de ações reprováveis a partir de uma instituição pura, assim também gerou descendência e progenitura de sua natureza manchada pela vontade culpada de suas ações; porque gerou descendência da mesma espécie que se tornou por excesso de transgressão. Portanto, não só gera de si o que Deus instituiu bem, mas também o que ela mesma inconsequentemente adicionou de mal. E como a qualidade interior do desejo pode mudar a natureza, é confirmado pela autoridade da leitura divina. Assim, finalmente, ao pastorear Jacó (Gênesis 30), o rebanho de ovelhas foi exposto à variedade de varas colocadas nos canais; enquanto bebiam, atraídas por prazer afetivo, conceberam o que não tinham na natureza, e transferiram para a prole, pelo que sentiram, o que não tomaram na criação.”[18]

A conclusão a partir disso é que, ao dizer que “tudo” que veio da semente de Adão e Eva possuía o contágio “daquele mal, que atraíram com sua transgressão”, logo, como filha de Eva, Maria também o possui. Mais uma vez, trata-se de um escrito contra os pelagianos, mas, desta vez, Gelásio trata da sorte final dos infantes não batizados. O padre Roux apresenta o contexto em que tal declaração foi feita:


“Os pontos fundamentais de sua doutrina [dos pelagianos da época] eram os seguintes: As crianças, sendo criadas por um ato divino, não podem nascer impuras…Sobre a primeira [sobres os infantes não batizados] destas afirmações, a resposta de Gelásio pode ser resumida numa proposição, onde encontramos uma expressão muito exata da doutrina de Santo Agostinho sobre o mesmo assunto:  Tudo o que estes primeiros pais produziram…Estas três proposições [derivadas da proposição de Gelásio] nada mais são do que o resumo de um grande número de passagens onde Santo Agostinho expõe e desenvolve o mesmo pensamento. ” [19]

Mais uma vez, encontramos São Gelásio simplesmente replicando a argumentação agostiniana. Dessa forma, escolheu se expressar da mesma maneira que o doutor da graça, sem qualquer intenção de falar sobre exceções. De fato, foi graças a uma objeção levantada pelo próprio Pelágio, após a discussão sobre o destino desses infantes, que Agostinho se deteve no caso da Virgem Santíssima. Assim, citamos Roschini:


“A Comissão Pontifícia observa com precisão: ‘Os Padres que falam da propagação do pecado in omnes sem indicar nenhuma exceção, nada mais fazem do que reproduzir com palavras iguais ou equivalentes a frase do Apóstolo. Como nenhuma exceção foi expressa nisso, nem os Padres, que referiram seus ensinamentos a essa frase, também a expressaram.”[20]

Embora a Comissão não aborde a nossa citação diretamente, o pensamento exposto pode ser facilmente aplicado na passagem em questão, uma vez que a argumentação agostiniana e a argumentação seguinte de Gelásio reproduzem este mesmo texto para indicar a ruína geral da raça humana. Esta passagem, portanto, representa um problema apenas na medida em que o papa não se deteve em exceções, o que se explica perfeitamente devido o contexto e as intenções do autor, mas jamais uma negação direta ou explícita do privilégio mariano.


Isto sozinho já seria suficiente para entender o texto em questão, mas, para reforçar ainda mais nosso argumento, tomemos uma análise mais profunda do texto.


Assumimos, sem qualquer dúvida, que primariamente, ao falar em “contágio”, o texto refere-se ao pecado original, mas a escolha de palavras e expressões de Gelásio, mais uma vez, demonstram que ele refere-se também à ruína geral da humanidade: O papa fala em “vícios da natureza” (vitiata per semetipsam natura) e “vontade poluída” (voluntate pollutam), expressões que se encaixam perfeitamente dentro do seu contexto agostiniano e que mostram que o papa tinha em mente, neste “contágio”, mais do que somente a mancha do pecado original. Aludimos, mais uma vez, a análise de Władysław Grzelak. Sendo assim, a Virgem Santa, dentro do pensamento gelasiano, pode ser incluída em sua expressão. Citamos, mais uma vez, Roschini: “Não herdamos de Eva mais do que o pecado original? Não herdamos também e principalmente a condição dos homens?”[21]


No fim, não queremos com esta análise defender que Gelásio acreditou ou ensinou a Imaculada Conceição, é bastante possível que ele estivesse entre os muitos agostinianos que interpretaram as palavras do santo doutor em um sentido negativo em relação ao privilégio, mas estes textos sozinhos não são suficientes como prova. Queremos apenas demonstrar que, dado às análises textuais e evidências cruzadas, podemos concluir com segurança que as citações apresentadas não representam uma negação inequívoca da doutrina, elas sequer tocam na questão diretamente, muito menos representam uma expressão infalível contrária à ideia. 


NOTAS



[2] Jean de Launoy foi um jansenista que viveu durante o século XVII, foi um opositor da Imaculada Conceição como muitos de sua época. Launoy não era conhecido por sua idoneidade, ele chegou a ser advertido por Bento XIV por distorcer os cânones do Concílio de Trento para defender a concepção maculada de Maria. Sobre o assunto, se lê na Enciclopédia Católica: “Em 1546, o Concílio de Trento, quando a questão foi abordada, declarou que ‘não era intenção deste Santo Sínodo incluir no decreto que diz respeito ao pecado original a Bem-aventurada e Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus’ (Sess. V, De peccato originali, v, em Denzinger, 792).” (Disponível em: https://www.newadvent.org/cathen/07674d.htm#:~:text=In%201546%20the%20Council%20of,%2C%20in%20Denzinger%2C%20792)


[3] Em terras brasileiras, o autor Bruno Lima cita a mesma lista em seu artigo no blog Respostas Cristãs. Disponível em: https://respostascristas.blogspot.com/2016/05/papas-e-teologos-medievais-contra.html.


[4] Mesmo as opiniões contrárias de alguns santos doutores possuem seu papel no desenvolvimento da doutrina, diz Marín-Sola: 


"Se o corpo da Santíssima Virgem tivesse sido preservado de todo contágio da mancha original antes da infusão da alma, parece claro que não haveria débito pessoal próximo na Virgem, nem, portanto, redenção por Jesus Cristo, sendo a pessoa posterior na natureza à infusão da alma. Ora bem: não só os simples fiéis, mas também o próprio ofício litúrgico da Igreja de Lyon, parece que afirmava a purificação do corpo da Virgem antes da sua animação. […] Se isso é verdade, São Bernardo e os outros doutores prestaram um grande serviço ao dogma, opondo-se a tal festa, assim entendida." (“La Evolución Homogenea del Dogma Catolico”, Cap. IV, Sessão III, 208–209)

[5] Carta aos Cânones de Lyon, sobre a Conceição da Virgem Maria, parágrafo 8. Disponível em: https://www.documentacatholicaomnia.eu/03d/1090-1153,_Bernardus_Claraevallensis_Abbas,_Some_Letters,_EN.pdf.


[6] OTT, Ludwig. Fundamentals of Catholic dogma, p.9


[7] “Sin vero quisquam non possibilitate facultatis humanae, sed per divinam gratiam hoc asserat in vita quibuslibet sanctis posse conferri, bene quidem facit (nam dono Dei cuncta possibilia sunt) talia confidenter opinari, et sperare fideliter. Sed utrum aliqui tales exstiterint, qui usque ad hanc perfectionem vitae praesentis accederent, sicut nusquam evidenter astruitur, sic nos facile vel firmare vel impugnare non convenit, magisque sobrium est ex ipsorum vocibus prophetarum, apostolorumque sanctorum quatenus hujus vitae profectum metiri debeamus agnoscere, quibus utique in hoc mundo, quantum ad sanctae vitae pertinet institutum, nihil excellentius vel fuisse, vel esse, manifestum est: qui etiamsi copiosiore Dei munere vel raris omnino, vel minimis humanae conditionis passionibus impetiti sunt, et affluentiore Dei gratia mortalitatis vitia facile superarunt; non usque adeo tamen expertes eorum se fuisse testantur, ut scilicet ullius immaculati Agni sit proprium nullum prorsus habuisse peccatum, ne non soli videatur esse deputandum, si alius quilibet sanctus expers delicti fuisse credatur. Contenti simus ergo professione sanctorum; et quid de se ipsi magis pronuntient audiamus, quam quid vel temere cogitandum sit, vel nostris opinionibus ventilandum sine certa auctoritate sectemur. Cur autem cum Deus omnipotens post mysterium reparationis humanae etiam id homini conferre potuerit, ut ab omnibus omnino vitiis esset immunis, maluerit fideles suos salvos fieri, et exspectare perfectae beatitudinis firmitatem, ut quod sperando desideramus, rebus possimus adipisci; censueritque nunc perficere in infirmitate virtutem, quam remotis infirmitatibus humanam conditionem nulla sineret languoris exagitatione pulsari.” Adversus Pelagianam Haeresim, Disponível em: https://la.wikisource.org/wiki/Epistolae_et_decreta_(Gelasius_I)

[8] Sources Chrétiennes: Lettre contre les Lupercales; et Dix-hiut messes du Sacramentaire léonien, p. 17


[9] ROUX, A. Le pape saint Gélase Ier (492-496): étude sur sa vie et ses écrits, p. 125. Disponível em: https://archive.org/details/lepapesaintglas00rouxgoog/page/n135/mode/2up



[11] Sobre o peso dessas afirmações bem como uma visão geral da opinião de Santo Agostinho quanto a presença do pecado original em Maria, veja “La Inmaculada en San Agustín¿ Suficiente o insuficiente probatoria?”. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/2801447.pdf.


[12] MAGUIRE, Alban A. Our Lady's Freedom from Concupiscence. Marian Studies, p.81. Disponível em: https://ecommons.udayton.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=2551&context=marian_studies.


[13] JUNGMANN, José. El sacrificio de la misa. Tratado histórico-litúrgico, p.835. Disponível em: https://obrascatolicas.com///livros/Liturgia/EL_SACRIFICIO_DE_LA_MISA_UP.pdf.


[14] Citado em: Studi di antichità aristiana pubblicati per cura del Pontificio Istituto di archeologia cristiana, p. 241. Disponível em: https://www.persee.fr/doc/rscir_0035-2217_1939_num_19_2_1791_t1_0236_0000_1


[15] Citado em: Virgin-Mother Mary and Virgin-Mother Church: Liturgical Perspectives, p. 327. Disponível em: https://ecommons.udayton.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1058&context=marian_studies,


[16] SHOEMAKER, Stephen J. Mary in Early Christian Faith and Devotion, 2016. p.196 a 199.


[17] MOURANT, J. A.; COLLINGE, W. J. Four Anti-Pelagian Writings (The Fathers of the Church, Volume 86), p.53-54. [s.l.] Catholic University Of America Press, 2010.


[18] “Tales igitur effecti principes nostrae substantiae, semetipsos passibiles et corruptibiles reddiderunt; in tantum conditionis divinae dona violantes, ut mortis fuerint ultione puniti. Hac enim die fuisse mortuos qua mortales effecti sunt, ambiguum non habetur: proinde quidquid isti genitores de suo germine protulerunt, opus quidem Dei est, secundum institutionem naturae; sed non absque contagio illius mali, quod sua praevaricatione traxerunt: et utique hoc idem ipsius mali contagium, certum est opus non esse divinum. Itaque non ex creatione Dei est vitium quod voluntario motu natura collegit; sed etiam de vitiata per semetipsam natura Deus institutionem suam quidem suae creationis exsequitur; sed creatio profert vitium, quod non ex institutione Creatoris accepit, sed quod ipsa per lapsum transgressionis suae assumpsit. Nam si ipsi primi homines ex nullis, ut dictum est, parentibus nati, et sine ullo formati contagio, per ambitum praesumptionis illicitae semetipsos depravare potuerunt, et in opere Dei opus diabolicae fraudis adnectere, quid mirum si iidem depravati protulerunt sobolem depravatam? Nonne etiam cum Deus utique liberam condiderit humanam sua creatione substantiam, etiam apud humanas tamen leges extrinsecus accedens servitus naturaliter eam reddit obstrictam et obnoxiam? Origine generantur obnoxii, et ex conditione servili gignuntur addicti; et nascendo fiunt prius obligati quam geniti: si hoc agitur de rebus extra naturam positis, quanto magis de his provenire non mirum est, quibus ipsa humana substantia depravata cognoscitur? ac per hoc sicut se ipsa humana substantia de institutione sincera actuum reproborum rea fecit voluntate pollutam, sic edidit sobolem atque progeniem naturae suae ex actuum suorum rea voluntate maculosam; quia hujusmodi genuit prolem, cujusmodi se ipsa reddidit praevaricationis excessu. Ideoque non solum de se profert quod bene Deus instituit, sed etiam quod male ipsa inconsequenter adjecit. Quemadmodum autem qualitas interior appetendi valet immutare naturam, divinae lectionis auctoritate firmatur. Sic denique pascente Jacob (Genes. XXX), commissus ille grex ovium, supposita canalibus varietate virgarum, dum potat, illectus affectionali delectatione, concepit, quod non habuit in natura, et molitum sensibus transfundit in prolem quod in creatione non sumpsit.”Epístola VII, aos bispos de Piceno. Disponível em: https://la.wikisource.org/wiki/Epistolae_et_decreta_(Gelasius_I)

[19] ROUX, A. Le pape saint Gélase Ier (492-496): étude sur sa vie et ses écrits, p.116-117. Disponível em:https://archive.org/details/lepapesaintglas00rouxgoog/page/n127/mode/2up


[20] ROSCHINI, Gabriele Maria. La madre de Dios: Según la fe y la teología, v II, p.24. Editorial Apostolado de la Prensa, 1955.


[21] Ibidem, p.25




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Daniel Arthur
Daniel Arthur
Jul 13

Brabo

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