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  • Dave Armstrong

Em defesa da consciência e da imortalidade das almas VS Lucas Banzoli - Parte 1: A Alma Imortal

Lucas Banzoli é um escritor teológico brasileiro muito ativo, que nega que Jesus seja imutável em Sua natureza divina (ou seja, a julgar pelo padrão do teísmo clássico trinitário, ele basicamente nega que Jesus seja Deus; e portanto, não pode ser classificado como trinitário ou como cristão). 


Esta é minha 35ª refutação de artigos (ou a partes de livros) escritos por Lucas Banzoli. Até agora, não recebi uma única palavra em resposta a nenhuma delas (e se Banzoli chegou a responder alguma coisa, em qualquer lugar, certamente eu não fui informado). Os leitores podem decidir por si mesmos qual o motivo disso. Meu esforço atual é uma longa resposta (dividida em várias partes) ao livro autopublicado de 1.900 páginas de Lucas BanzoliA Lenda da Imortalidade da Alma, publicado em 1º de agosto de 2022.


Ele afirma ter “coberto em profundidade todos os argumentos imortalistas” e ter “apresentado todas as evidências bíblicas da morte da alma…” Além disso, ele afirmou com confiança: “a imortalidade da alma está na raiz de quase todo engano destrutivo e religião falsa”. Ele mesmo admite na página 18 de sua Introdução que aquilo a que ele se opõe é defendido por “quase todos os cristãos do mundo”. Estarei lidando principalmente com supostos “argumentos bíblicos” deste livro, refutando-os a partir das Sagradas Escrituras. A partir de agora, passarei a tratar dos erros de Lucas Banzoli. Suas palavras estarão escritas em vermelho vinho.



Banzoli resume em sua Introdução:

 

É por isso que grande parte deste livro é destinado a "desatar nós", explicando à luz do contexto, da hermenêutica e da história os textos que são até hoje usados pelos imortalistas para ludibriar as mentes mais fracas e mantê-las cativas ao erro, Mesmo que geralmente não passem de meia dúzia de versos Isolados tirados grosseiramente do contexto e interpretados da forma mais pífia possível, são argumentos como esses que mantêm muitos acomodados à antiga forma de pensar, e que me mantiveram receoso por algum tempo em abraçar o mortalismo de forma completa e pública.


A boa notícia é que, por serem argumentos fracos e desconexos, que frequentemente se contradizem e refutam a si mesmos, tomar esse passo não é tão dificil para alguém que tenha a mente aberta para a verdade e esteja decidido a segui-la onde quer que ela leve. Qualquer dúvida que ainda pudesse restar foi dissipada ao longo de anos debatendo com imortalistas sem jamais ver qualquer refutação minimamente séria a argumento algum. Em vez de refutar os nossos argumentos, tudo o que eles fazem é repetir os mesmos mantras ultrapassados e já refutados há séculos, sem se preocuparem em se atualizar e oferecer respostas, as quais são cada vez mais vazias e superficiais. É uma apologética arcaica, anêmica e raquítica que só sobrevive nas sombras da tradição, não às luzes da razão. Desde a primeira versão do meu livro, lá se foram 13 anos onde muitos prometeram resposta, mas ninguém jamais esboçou sequer uma tentativa (págs. 25-26).


Estou ansioso pela “exegese dupla”. Ele parece muito seguro de si. E eu também. Isso contribui para um bom debate (claro, somente se ambos os parceiros estiverem dispostos). Meus leitores poderão ponderar acerca dos dois lados, em vez de apenas refletirem sobre um. Acredito que seja uma forma muito mais justa e objetiva de se tirar conclusões adequadas. Talvez Banzoli desperte de seu sono e do seu “exílio” ou esconderijo e de fato interaja com uma ou mais de minhas críticas. Ele falhou em fazer isso, até o presente momento, 34 vezes seguidas.


Agora, eu pergunto a vocês, caros leitores: essa total ausência de qualquer resposta sugere que ele pensa que pode refutar minhas contra-respostas, ou demonstra o contrário? Escreva para ele e incentive-o a interagir! Deixe claro que você (caso concorde comigo) deseja ver um debate vigoroso sobre o tema, e não apenas um encontro aleatório.


Banzoli comentou que havia investigado “cada referência às palavras alma e espírito em grego e em hebraico, a fim de detalhar os resultados neste livro” e havia “descoberto 300 ocorrências bíblicas que falam da morte da alma…” (pág. 26). Pura bobagem. Vou deixar claro, sem sombra de dúvida, para todos os leitores objetivos, justos, racionais e amantes da Bíblia, que Banzoli está perdido quando tenta fazer uma exegese bíblica e uma análise linguística. Tenho várias obras de referência sobre linguagem bíblica em minha biblioteca e ainda mais outras que estão disponíveis online. Se ele quiser tomar parte nessa briga acerca do sentido das palavras, conforme foi determinado por eminentes estudiosos no campo, ficarei mais do que feliz em atendê-lo. Mas é claro que ele nunca me contatou diretamente (como continuo tendo de lembrar), nos últimos cinco meses, desde que comecei a responder muitos de seus escritos. Em todo caso, continuo refutando seus erros. Ele pode optar por ignorar ou não. Mas ignorar críticas sérias como as minhas, que analisam ponto a ponto seus escritos, não ajuda em nada no seu caso. Na verdade o prejudica.

 

Desconheço qualquer material imortalista que chegue perto da profundidade deste livro, ou que possa ser remotamente comparado a ele em termos de pesquisa bíblica e investigação histórica. (pág. 27).

 

Então certamente ele não estudou o assunto o suficiente. Uma posição não pode ser adotada por “quase todos os cristãos do mundo”: como ele mesmo admitiu em sua Introdução  e eu acrescentaria também que ela é defendida pela grande maioria dos cristãos no decorrer da história  e ainda assim não ter pilhas e pilhas de livros escritos sobre o tema. Isso simplesmente não pode ser verdade, e tenho certeza que não é. Agora é possível que muitos deles estejam escritos em latim ou em outras línguas, e até mesmo inacessíveis, mas com certeza eles existem e estão por aí. Eu nem acredito que este seja um tópico particularmente difícil, e olha que eu lidei com centenas de tópicos como apologista nos últimos 41 anos (21 deles atuando profissionalmente e como autor de muitos volumes publicados).


O sono da alma e os argumentos aniquilacionistas são fundamentados nos mesmos erros basilares simplesmente replicados continuamente. Um desses erros, por exemplo, costuma ser a própria base da “exegese” feita (de fato, eisegese) de muitas passagens que são interpretadas de maneira errada e amplamente mal compreendidas ao estarem fundamentadas na falsa premissa. Para ser franco, aqueles que seguem essa linha de raciocínio não entendem a linguagem bíblica em sua complexidade matizada. Isso constitui 90% do problema. Uma vez que esses tipos de “caminhos errados” são compreendidos e explicados de maneira adequada, as conclusões do defensor do sono da alma, bem como os seus textos de prova falsamente alegados caem por terra, tal como um castelo de cartas ou uma pilha de dominós. Foi fácil para mim refutar esse pensamento quando eu era um jovem apologista inexperiente que estudava as Testemunhas de Jeová em 1981, e será ainda mais fácil agora.



Banzoli:

 

Espero que você não se limite a ler este livro, mas compare-o com a literatura imortalista e, acima de tudo, submeta-o ao escrutínio das Escrituras. (pág. 27)

 

É exatamente essa a minha esperança e o meu desejo também! Como já mencionei, os leitores desta série terão a chance de fazer exatamente isso: poderão decidir qual dos dois casos é verdadeiramente o mais bíblico e plausível (porque em todos os meus escritos dedicados à exegese, eu faço questão de sempre apresentar toneladas de passagens bíblicas relevantes). Sendo assim, estarei disponibilizando material que constitui exatamente aquilo que o próprio Banzoli deseja, e, dessa forma, promovendo seus objetivos e finalidade. Fico feliz em ser útil! A única diferença é que ele pensa que estou fadado ao fracasso, enquanto eu penso o mesmo de seu argumento geral. Que prevaleça o verdadeiro ensinamento bíblico!

 

Eu sei que não é fácil deixar de crer em algo que você aprendeu a vida inteira como sendo o certo. Não foi fácil pra mim também. A tradição tem um peso enorme, e nos influencia mais do que pensamos. (pág. 27)

 

Assim como novas premissas falsas recém-adotadas.


Bastam algumas delas e é possível construir toda uma superestrutura herética e, infelizmente, muitas pessoas são conduzidas por esses caminhos influenciadas por outras pessoas igualmente equivocadas e iludidas. É por isso que São Paulo advertiu severamente os tessalonicenses a “afastar-se de qualquer irmão” que “não andasse de acordo com a tradição que vocês receberam de nós” (2 Tessalonicenses 3:6).


De repente (vejam só!) a tradição é uma coisa boa! Mais uma vez, Paulo advertiu que “virá o tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, mas, tendo comichão nos ouvidos, acumularão para si mestres conforme os seus próprios gostos pessoais” (2 Tm 4:3). Isso é o que Lucas Banzoli está fazendo, e eu vou provar isso meticulosamente, de maneira completa e abrangente a partir das Escrituras. 


Escrevendo sobre a árvore da vida em Gênesis, Banzoli cita outra pessoa:

 

George Boardman colocou desta forma:


Se o homem é inerentemente imortal, que finalidade haveria para qualquer “árvore da vida”? Isso parece estar bem claro: a imortalidade foi de alguma forma parabolicamente condicionada a comer dessa árvore misteriosa, e a imortalidade era para o homem inteiro – espírito, alma e corpo. BOARDMAN, George Dana. Studies in the Creative Week. Nova York: The National Baptist, 1878, p. 215-216. (pág. 29)

 

Deus criou os seres humanos como criaturas imortais, ou seja, como seres que não deveriam morrer. Esse era o contexto no início do Gênesis, no Jardim do Éden. Ser imortal significava não ter que passar pela morte física, como ocorre com todos nós hoje. Biblicamente falando, a morte física é a separação entre a alma e o corpo (até que ocorra a ressurreição de nossos corpos: conforme 1 Coríntios 15). Essas passagens citadas acima não estão abordando diretamente a situação das almas imateriais, se elas são imortais ou não, mas sim se os nossos corpos aqui na terra são. Por isso, a Bíblia afirma:

 

E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Cf. Gn 3:3). Gênesis 2:16,17

 

A última frase desse versículo prova que antes de Adão e Eva comerem da árvore do conhecimento do bem e do mal, eles eram fisicamente imortais: eles nunca teriam morrido. Uma vez que eles comeram daquela árvore em rebelião, a partir de então eles passaram a morrer. Foram eles que provocaram a mudança de estado ao escolher a orientação do diabo e as suas próprias escolhas contra a orientação perfeita de Deus (assim como Lúcifer e os anjos caídos haviam feito antes deles). O diabo enganou Eva ao inverter as palavras de Deus. Em vez de “a árvore do conhecimento do bem e do mal ser a causa de terem de passar por mortes físicas no presente século”, Satanás afirmou [mentindo] que eles “não morreriam” se comessem dela (Gn 3:4). Essa desobediência fundamental trouxe a Queda do Homem e o pecado original. A morte seria agora a porção de todo ser humano (com exceção de alguns, que Deus “levou”: como Enoque e Elias):


“porquanto és pó e em pó te tornarás”. Gênesis 3:19

Banzoli prossegue:

 

É evidente que Deus não colocaria tal árvore à disposição se já tivesse implantado no homem uma alma eterna que lhe garantisse o mesmo que a árvore da vida. (pág. 30) 

 

Não é nada evidente, tampouco uma coisa é decorrente da outra, se considerarmos de forma lógica. O que sabemos é que originalmente os seres humanos não deveriam morrer. Quando eles se rebelaram contra os mandamentos de Deus, a morte entrou, assim como o pecado original e a queda: Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram (Romanos 5:12) (cf. 5:14, 17; 1 Cor 15:21: porque se por um homem veio a morte…)

 

Então percebam que era uma conjuntura totalmente diferente. Antes da rebelião, eles podiam comer da árvore da vida (Gn 2:16-17 acima) porque eram fisicamente imortais. Depois da rebelião, eles não podiam mais, porque a morte física havia entrado na equação. Assim, a árvore da vida não é algo redundante na visão imortalista tradicional. A pessoa simplesmente tinha que estar no estado espiritual correto e em um relacionamento com Deus para poder comer dela. Dessa forma, vemos que os seres humanos que são salvos e que, como resultado, estão no céu, podem novamente ter participação na árvore da vida (Ap 2:7; 22:2, 14), porque o “último inimigo” que era “a morte” foi “vencido” (1 Coríntios 15:26; cf. 15:54-55) e “a morte já não é mais” (Ap 21:4). A árvore da vida NÃO CAUSOU a imortalidade física; Deus a concedeu a Adão e Eva quando os criou. Simbolicamente, a árvore representava a imortalidade e a não morte. E dessa forma, quando Adão e Eva (e neles, toda a humanidade: 1 Coríntios 15:22) escolheram a rebelião e o orgulho, e caíram, eles não puderam mais comer dela.

 

Da mesma forma aquele homem não conheceu o bem e o mal até que comeu do fruto da árvore do conhecimento (Gn 3:22),

 

Deus não queria que o homem tivesse conhecimento disso e o proibiu. Essa era a Sua vontade para a raça humana. Não é paralelo ao outro caso por causa disso.

 

[…] ele não era imortal antes de comer da árvore da vida – com a diferença de que ele não chegou a comer desta árvore, pois foi expulso antes disso (Gn 3:22-24). (pág. 30) 

 

Isto simplesmente não é verdade. Gênesis 2:16-17 não afirma que a árvore da vida causava a imortalidade. Essa conclusão é interpretada de maneira errônea. Era apropriado comer dela enquanto os seres humanos fossem fisicamente imortais. Eles não poderiam “morrer” até o momento em que comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal. Portanto, eles eram imortais até então. A forte implicação do texto é que eles comeram da árvore da vida, porque lhes foi permitido (ao contrário da árvore do conhecimento do bem e do mal).


Banzoli então cita a figura religiosa do século XIXJames Nisbet :

 

No relato bíblico da criação e queda do homem não há nada que indique que o homem era por criação um ser imortal… Nada indica que a “morte”, imposta em razão de sua desobediência, afetasse apenas uma parte de sua natureza, ou era algo menor que a eliminação total. (p. 31). 

 

Como já foi apontado, Gênesis 2:17 e Romanos 5:12 refutam concisamente esse entendimento, porque eles ensinam que não havia morte e, então, quando Adão e Eva se rebelaram, a morte começou a operar como a conhecemos hoje. Sendo assim (como tem sido ao longo desta análise, sem dúvida), os leitores são confrontados com uma escolha a ser feita, à medida que a contradição direta [ao texto da Bíblia] se delineia: seguir as tradições de homens de Lucas Banzoli ou seguir a revelação inspirada da Sagrada Escritura. A definição aniquilacionista de “morte” não pode ser fundamentada substancialmente por nenhum léxico hebraico ou grego respeitável. Tampouco uma única palavra hebraica ou grega na Bíblia pode ser produzida de modo a dar à palavra “morte” o sentido de “aniquilação” ou “cessação da consciência”. A morte nas Escrituras é a separação entre a alma e o corpo (morte física), ou a separação de Deus por toda a eternidade (morte espiritual, ou “segunda” morte): veja Apocalipse 2:11 e 21:8. A palavra grega mais comum no Novo Testamento para “morte” é thanatos (a palavra de Strong #2288 — aparece 119 vezes na KJV). W. E. Vine o define da seguinte forma:

 

Separação entre a alma (a parte espiritual do homem) e o corpo (a parte material)… separação entre o homem e Deus. (An Expository Dictionary of New Testament Words, under “Death”; trad. “Um Dicionário Expositivo das Palavras do Novo Testamento”.

Da mesma forma, Joseph Thayer:

 

A morte do corpo, isto é, aquela separação… entre a alma e o corpo por meio da qual a vida na terra termina. (Greek-English Lexicon of the New Testament, 282)

 

As palavras primordiais do Antigo Testamento para “morte” são maveth (palavra de Strong #4194 — 159 vezes na KJV) e muth (palavra de Strong #4191 — 817 vezes na KJV; esta é a palavra usada em Gênesis 2:17). Ambas significam exatamente a mesma coisa que thanatos, e isso você pode encontrar em qualquer léxico hebraico ou comentário do AT. Mas em todos esses casos, o sentido de morte espiritual (separação de Deus por toda a eternidade; ou seja, no inferno) ou a “segunda morte” (Ap 2:11; 20:6, 14) também pode ser utilizado, dependendo do contexto.

  

Tradução: Kertelen Ribeiro


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NOTAS:


  • Colocando todas as diferenças de lado por um momento: eu aprecio muito o fato de Banzoli oferecer este livro gratuitamente para download. Isso é raro hoje em dia e indica a extensão de sua sinceridade e zelo, o que sempre aprecio, especialmente nesta época materialista. Mas, infelizmente, um erro antibíblico sincero não é menos perigoso, e nós, apologistas, seremos “julgados com maior rigor” por quaisquer ensinamentos falsos que espalharmos (Tg 3:1).



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