Os valdenses eram uma espécie de “protestantes” primitivos?
- Dave Armstrong
- 18 de ago.
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Atualizado: 21 de ago.
- Dave Armstrong

Os valdenses prestando juramento.Ilustração na página 32
Basileia, Suíça, 1886. [domínio público / Wikimedia Commons ]
Há uma corrente de pensamento protestante — mais notavelmente os batistas "Landmark" — que busca encontrar uma "sucessão apostólica" que não seja católica ao longo de toda a história da Igreja até o século XVI. Na tentativa desesperada de reivindicar antecessores espirituais e teológicos, todos os tipos de grupos heréticos são defendidos, incluindo montanistas, novacionistas, donatistas, docetistas, cátaros, albigenses, valdenses, hussitas e wycliffitas.
O problema é que nenhum desses grupos se encaixa muito bem num arranjo protestante. Eles são radicalmente não cristãos, sendo até mesmo gnósticos (como por exemplo, os albigenses), ou católicos demais para se qualificarem como "protoprotestantes"(como os valdenses e os hussitas).
No entanto, isso não impede que certos protestantes (especialmente os anticatólicos) se apeguem a esses grupos para fins polêmicos. "O inimigo do meu inimigo é meu amigo." Essas alegações são válidas apenas na medida em que o conhecimento real de tais grupos é escasso e incompleto. Em um quadro de avisos comunitário, eu interagi com um desses batistas. Suas palavras estão em azul:
Batista:
Antes da Reforma, a Igreja Católica Romana havia instituído a sangrenta e hedionda Inquisição, assassinando numerosos valdenses, albigenses e cátaros.
Eu: Você considera esses três grupos cristãos? Se sim, por quê? E qual é a sua documentação?
Batista:
Sim, por vários motivos:
1) pelo pouco que resta de seus escritos atuais, sua doutrina é sólida, saudável;
2) o caráter desses grupos em referência às virtudes cristãs é altamente louvável, e até mesmo seus adversários admitem isso, embora eles tenham sido notoriamente caluniados por católicos que os odiavam mais do que a si mesmos;
3) a verdadeira razão de serem perseguidos, como também alguns inquisidores já disseram, é porque rejeitaram as tradições da Igreja Católica Romana, mas não porque eram heterodoxos nas principais doutrinas bíblicas;
4) porque nossas igrejas descendem das deles e seguem basicamente os mesmos princípios religiosos, e eles também têm uma sucessão de igrejas até os dias dos apóstolos.
VALDENSES

Nos Vales Valdenses, Itália. @1895: Vista da [cidade dA] Torre do Vale
(Keystone View Company Studios. Meadville, PA © Underwood & Underwood)
[domínio público / Wikimedia Commons ]
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[meus comentários “editoriais” estão intercalados entre COLCHETE e em VERMELHO-VINHO]
Retirado da Enciclopédia Católica, direitos autorais © 1913 da Encyclopedia Press, Inc. Versão eletrônica direitos autorais © 1996 da New Advent, Inc. (NA Weber; transcrito por Anthony A. Killeen):
Uma seita herética que surgiu na segunda metade do século XII e, de forma consideravelmente modificada, sobreviveu até os dias atuais.
VALDENSES: NOME E ORIGEM
O nome foi derivado de Valdes, seu fundador, e ocorre também nas variações de Valdesii, Vallenses. Numerosas outras designações foram aplicadas a eles... Ansiosos por cercar sua própria história e doutrina com o halo da antiguidade, alguns valdenses reivindicaram para suas igrejas uma origem apostólica. As primeiras congregações valdenses, afirmava-se, foram estabelecidas por São Paulo que, em sua viagem à Espanha, visitou os vales do Piemonte. A história dessas fundações foi identificada com a da cristandade primitiva enquanto a Igreja permaneceu humilde e pobre. Mas, no início do século IV, o Papa Silvestre foi elevado a uma posição de poder e riqueza por Constantino, a quem ele havia curado da lepra, e o Papado tornou-se infiel à sua missão. Alguns cristãos, no entanto, mantiveram-se fiéis à fé e à prática dos primeiros dias, e no século XII apareceu um certo Pedro que, dos vales dos Alpes, era chamado de "Valdes". Ele não foi o fundador de uma nova seita, mas um missionário entre esses fiéis observadores da genuína lei cristã, e conquistou numerosos adeptos. Esse relato, de fato, estava longe de ser universalmente aceito entre os valdenses; muitos deles, no entanto, por um período considerável, aceitaram como fundamentada a afirmação de que se originaram na época de Constantino. Outros entre eles consideravam Cláudio de Turim (falecido em 840), Berengário de Tours (falecido em 1088) ou outros homens semelhantes que precederam os valdenses como os primeiros representantes da seita.
A alegação de sua origem constantiniana foi por muito tempo aceita com credulidade como válida pelos historiadores protestantes. No século XIX, contudo, tornou-se evidente para os críticos que os documentos valdenses haviam sido adulterados. Como resultado, as pretensiosas alegações dos valdenses de alta antiguidade foram relegadas ao reino da fábula...
A DOUTRINA
A organização dos valdenses se deu como uma reação contra o grande esplendor e a ostentação que existiam na Igreja medieval; foi um protesto prático contra a vida mundana de alguns clérigos contemporâneos. Em meio a tais condições eclesiásticas, os valdenses fizeram da profissão de extrema pobreza uma característica proeminente de suas próprias vidas e enfatizaram, com sua prática, a necessidade da tarefa tão negligenciada da pregação. Como eram recrutados principalmente entre círculos não apenas desprovidos de formação teológica, mas também carentes de educação em geral, era inevitável que o erro manchasse seus ensinamentos e, igualmente inevitável, que, em consequência, as autoridades eclesiásticas interrompessem seu trabalho evangelístico. Entre os erros doutrinários que propagavam estava a negação do purgatório, das indulgências e das orações pelos mortos. Denunciavam que toda mentira constituía um pecado grave, recusavam-se a fazer juramentos e consideravam o derramamento de sangue humano ilegal. Consequentemente, condenavam a guerra e a aplicação da pena de morte. Alguns pontos desse ensinamento assemelham-se de forma tão incontestável aos cátaros que a adoção deles por parte dos valdenses pode ser considerada uma certeza.
Ambas as seitas também tinham uma organização semelhante, sendo divididas em duas classes: os Perfeitos (perfecti) e os Amigos ou Crentes (amici ou credentes).
Entre os valdenses, os perfeitos, os quais eram presos ao voto de pobreza, vagavam de um lugar para outro pregando. Tal vida itinerante era inadequada para o estado conjugal, e à profissão de pobreza acrescentavam o voto de castidade. Pessoas casadas que desejassem se juntar a eles tinham permissão para dissolver sua união sem o consentimento de seu cônjuge. O governo ordeiro era garantido pelo voto adicional de obediência aos superiores. Os perfeitos não tinham permissão para realizar trabalhos manuais, mas dependiam para sua subsistência dos membros da seita conhecidos como amigos. Estes continuavam a viver no mundo, casavam-se, possuíam propriedades e se dedicavam a atividades seculares. Sua generosidade e esmolas visavam suprir as necessidades materiais dos perfeitos.
Os amigos permaneciam unidos à Igreja Católica e continuavam a receber seus sacramentos, com exceção da penitência, para a qual procuravam, sempre que possível, um de seus próprios ministros.
[Achei que eles eram contra a Igreja Católica? Batistas "em união com" os católicos? Hmmmmmm...]
O nome valdenses era inicialmente reservado exclusivamente aos perfeitos; mas no decorrer do século XIII os amigos também foram incluídos na designação.
Os perfeitos eram divididos em três classes: bispos, presbíteros e diáconos. O bispo, chamado de "major" ou "majoralis", pregava e administrava os sacramentos da penitência, da Eucaristia e da ordem.
[Sacerdotes? Bispos? Sacramentos? Penitência? Sacramento da Eucaristia? Isto é Batista?]
A celebração da Eucaristia, talvez frequente no período inicial, logo passou a ser realizada apenas na Quinta-feira Santa. O padre pregava e tinha faculdades limitadas para ouvir confissões...
[O quê???! “Confissões?!” Mas eles não vão direto a Deus, ou ao ofensor?]
Sustentando que a validade dos sacramentos depende da dignidade do ministro
[Desde quando os batistas têm sacramentos? Por que a validade do ministro seria questionada, já que os sacramentos são supostamente antibíblicos e, para começar, instrumentos de "salvação pelas obras"?]
e vendo a Igreja Católica como a comunidade de Satanás, eles rejeitavam toda a sua organização na medida em que não era baseada nas Escrituras.
[Ah! Agora sim, aqui soa mais como um batista do tipo anticatólico — pena que esses outros detalhes espinhosos "católicos" precisem ser resolvidos...]
Em relação à recepção dos sacramentos, sua prática era menos radical do que sua teoria. Embora considerassem os padres católicos ministros indignos, não raro recebiam a comunhão de suas mãos e justificavam essa conduta com o argumento de que Deus anula a deficiência do ministro e concede diretamente sua graça ao digno destinatário.
[Quantos batistas fazem isso hoje, eu me pergunto?]
A atual Igreja Valdense pode ser considerada uma seita protestante do tipo calvinista...
[É verdade, mas isso é pós-"Reforma". E não prova que os primeiros valdenses eram "protestantes", muito menos batistas, assim como a conversão dos países escandinavos ao luteranismo ou da Escócia ao presbiterianismo no século XVI não prova que a religião anterior nessas regiões não era a católica. Trata-se de uma alegação anacrônica específica da pior espécie. Protestantes que citam os valdenses como precursores fariam melhor se admitissem que não se importam nem um pouco com a história da Igreja — essa seria uma atitude mais consistente. O fato é que os valdenses (e muito mais, os albigenses) não eram batistas. Isso fica claro pelas informações acima. Eles também não eram católicos (ou, se foram, apenas em casos individuais e de forma imperfeita), mas nós não sustentamos que nossa Igreja teve sua origem na deles. Certos protestantes anticatólicos — particularmente os batistas Landmark — sustentam].
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Tradução: Kertelen Ribeiro
Texto Original: Were the Waldenses a Species of Primitive “Protestants?”
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