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  • Wendel J. Silva

Da Virgindade Perpétua de Maria Santíssima Contra os Heréticos


A Virgindade Perpétua da Virgem Santa é uma verdade revelada por Deus definida pela Igreja, a qual devemos crer; pois, assim como a Santíssima Trindade e a Encarnação do Verbo, trata-se de um fato essencial à fé. Há um belíssimo canto gregoriano ("Omnie die dic Maræ"), que acertadamente expressa sobre Nossa Senhora: "Gemma decens, rosa recens; castitatis lilium: castum chorum ad polorum quæ perducis gaudium", ao que se traduz livremente, a saber: "Jóia radiante, rosa fresca; lírio de castidade, quem liderou o coro casto para a alegria do Céu". Ou ainda, como cantam os cristãos orientais, em grego ("Agni Patherne"): "Ave, esposa inesposada!". Nada mais claro! 

 

Com efeito, a Santa Madre Igreja quando ensina que Nossa Senhora é Virgem Perpétua quer com isso significar que ela "foi Mãe conservando sua virgindade antes do parto, durante o parto e depois do parto" [1]. Ora, a Igreja confessa dogmaticamente tal verdade através dos séculos [2] e, portanto, negá-la é herético. Por incrível que pareça, os incautos tentam recorrer aos textos da própria Sagrada Escritura, às vezes de forma isolada, a fim de justificarem seu erro, isto é, o de demonstrar que a Sempre Virgem Maria Santíssima não é casta como ela mesma decidiu permanecer -- como veremos a seu tempo --; mas, caro leitor, sinceramente, tal coisa tem lógica? Não! A lógica é justamente a arte/ciência de pensar sem erros, ou seja, de maneira correta a fim de alcançar a verdade. 


Dito isso, diga-se -- e nem os críticos ousam negar -- que antes do parto Nossa Senhora é virgem e o Santo Evangelho no-lo confirma, a saber: "O anjo Gabriel foi enviado por Deus [...] a uma virgem desposada [...] e o nome da virgem era Maria" (São Lucas I, 26-27). É, portanto, óbvia a virgindade antes do parto. Ademais, o que é concebido de forma excepcional à natureza, deve nascer do mesmo modo; pois, o nascimento trata-se apenas de uma consequência da conceição e sem ela, tal nascimento excepcional seria imperfeito, incompleto, etc. Mais ainda, diz o Evangelho, que chegado o momento ela "deu à luz a seu primogênito. Envolveu-o com tiras de pano e o colocou sobre uma manjedoura" (Idem, II, 6-7). 


A mãe concebe para dar à luz, isto é, gerar filhos; são, pois, termos de uma só ação. Com efeito, diz o Anjo, que "o ser que nascerá de ti será chamado Santo, Filho de Deus [...] porquanto para Deus não existe nada que lhe é impossível" (Idem, I, 35-37). Eis, pois, o milagre da Encarnação. Para não restar dúvidas, o Profeta Isaías séculos antes, faz uma profecia, onde diz, a saber, que "uma virgem conceberá e dará à luz" (VII, 14) e São Mateus aplica tal profecia ao fato da Encarnação citado (Mt I, 22) e, portanto, faz-se indiscutível afirmar a Virgindade também durante o parto. 


Veja-se, com efeito, que mesmo sendo uma verdade revelada e definida como tal pela Santa Madre Igreja, de modo infalível, acaba por surgir nas periferias teológicas problemáticas que são desnecessárias em relação ao texto divino. A primeira delas é em relação ao texto do Evangelho segundo São Mateus (I, 25), onde lemos, a saber:  "E ele [São José] não a conheceu [Maria Santíssima] ATÉ QUE [ela] deu à luz a seu filho primogênito, ao qual ele pôs o nome Jesus". 


Algumas versões trazem "enquanto", no lugar de "até que"; mas são, pois, termos de mesmo significado. Uma leitura rápida parece demonstrar que São José a conheceu depois [3]; porém, tal conclusão demonstra um desconhecimento sem igual do modo de falar comum entre os hebreus e, incluisve, o do autor, isto é, de São Mateus, que era hebreu e, portanto, possuía a mesma forma de dialeto e o disse do mesmo modo com que usavam tal termo. Percebam que nem levamos em conta, por ora, a querela sobre se o texto trata-se apenas de uma "tradução" para o grego de um outro texto hebraico ou não. E, o fazemos, aliás, de propósito. Com efeito, ao usar "até que" ou "enquanto", quer ele com isso dizer que São José "sem que" ele a tivesse conhecido, ela deu à luz a Nosso Senhor Jesus Cristo. Isso se vê fartamente no Antigo Testamento. Por exemplo, no caso de Noé, depois do dilúvio ele "soltou um corvo, o qual saiu, e não tornou mais, ATÉ QUE as águas fossem secas sobre a terra" (Gn VIII, 7). Não quer dizer, pois, que o corvo tenha voltado depois do desaparecimento das águas; tal feito, logicamente, seria impossível! Ora, o corvo não voltou, é bem mais provável que tenha morrido e, logo, refere-se ao fato de que não apareceu até o desaparecimento das águas, não ao que depois aconteceu. Lembremo-nos, ademais, do caso de Micol:


"Por esta razão Micol, filha da Saul, não teve filhos ATÉ o dia de sua morte" (2Sm VI, 23).  Ora, não se diz que Micol não tendo filhos até o dia da sua morte os terá depois dela; mas, se volta ao que houve até a morte, não depois. O profeta Isaías, numa visão contra Jerusalém, diz:  "Não, não vos será perdoada esta iniqüidade ATÉ QUE morrais" (Is XXII, 14).  Tal iniquidade não seria perdoada depois da morte; ora, pós morte não há mais perdão! Logo, se refere ao período anterior a ela. Deste modo, fazer ligação entre os textos de São Mateus (I, 25) com (XIII, 55), no qual são listados os ditos "irmãos" do Senhor (os quais não são apresentados como "filhos" de Nossa Senhora por nenhum dos Evangelistas) a fim de concluir que São Mateus entendeu que depois daquilo ela teve "filhos" com São José não procede de maneira alguma, pois, ignora-se absolutamente o número enorme de filhos que seriam atribuídos à Maria Santíssima, a propósito, pelo mesmo Evangelista. Não nos esqueçamos que além de São Tiago, José, Judas e Simão, estão listadas por São Mateus as "irmãs" de Jesus, pois relata o Evangelista que os que ouviam Cristo ensinar na Sinagoga perguntaram: "E suas irmãs não vivem elas TODAS entre nós?" (Mt XIII, 56). Ora, para que eles utilizassem o termo "todas" dever-se-ia tratar-se de obviamente um número de pessoas acima de três. O número exato seria quase incerto. Quem pode prová-lo? Além da realidade linguística de qualquer idioma o próprio São Mateus o faz várias vezes. Por exemplo, ao narrar o fato ocorrido em Belém, ele expressa: "Quando Herodes viu que que os visitantes do Oriente o haviam enganado, ficou com muita raiva e mandou matar, em Belém e nas suas vizinhanças, TODOS os meninos de menos de dois anos" (II, 16); ora, não se trata de um, dois, três meninos ou alguns, mas sim de todos. Na multiplicação de pães, que os discípulos distribuiram às multidões, relata ainda o Evangelista: "TODOS comeram e ficaram saciados, e dos pedaços que sobraram recolheram ainda doze cestos" (Mt XIV, 20). Ora, não foram dois, três ou uma porção de pessoas que foram alimentadas; mas, foram todas segundo o relato e, logo, acima de três novamente. Mais um exemplo claro é quando Nosso Senhor ordena aos Apóstolos: "Ide, pois, e fazei discípulos TODOS os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho de e do Espírito Santo" (Mt XXVIII, 19). Percebem? Não são um, dois ou três povos, que se deve fazê-los discípulos, mas todos. 


Não é preciso dizer mais nada, portanto, sobre isso. Além disso, há ainda os "irmãos" que são hostis a Jesus, que não deixaram o ambiente da Galileia favorável ao Cristo, devido a que "nem ainda os seus irmãos criam n'Ele", segundo São João Evangelista (VII, 5). Ou seja, mais filhos, se pensarmos assim, para a conta de Maria Santíssima. E, de qualquer forma, mesmo que ignoremos a idade de São José, nenhum destes "irmãos" sequer aparecem na infância de Jesus Cristo, conquanto já possuía doze anos, como o confirma São Lucas (II, 42) ou na hora de sua morte (Jo XIX, 26-27), mesmo que eles estejam vivos até depois, por incrível que pareça, de sua Ascenção, como expressa São Paulo ao insistir em falar nos "irmãos" do Senhor (1Cor IX, 5). Tal fato se dá por um motivo simples: os irmãos de Jesus são, na verdade, seus primos. 


São Tiago que é o primeiro na lista de São Mateus (XIII, 55-56) e na de São Marcos (VI, 3) é um Apóstolo segundo São Paulo (Gl I, 19). Muito bem. Há dois Apóstolos com o nome de "Tiago". 


Ademais, quando os Evangelistas listam as mulheres que estavam com Maria Santíssima aos pés da cruz -- Mt XXVII, 56; Mc XV, 40; Jo XIX, 25 --, vê-se claramente que se trata de São Tiago Menor o Apóstolo que é o primeiro a ser citado na lista de "irmãos" de Nosso Senhor tanto por São Mateus quanto por São Marcos. Mais ainda, a Maria que é chamada de "mãe" de São Tiago Menor e de José por São Mateus e por São Marcos na listagem é a mesma que São João utiliza o termo "irmã de sua mãe" em sua referência; ora, esta não é Maria de Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu; portanto, fica provado que eles não são irmãos e, portanto, devemos admitir que são primos. 


Para tentar escapar disso inventar quatro Tiagos na Sagrada Escritura[4] é inútil e sem sentido porque não se pode prová-lo por ela. Com efeito, segundo o relato de São Lucas em Atos (I, 13-14), é dito: 


 "E tendo encontrado em certa casa, subiram ao quarto de cima, onde permaneciam Pedro e João, TIAGO e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, TIAGO, FILHO DE ALFEU, e Simão, o Zeloso, e JUDAS, IRMÃO DE TIAGO. Todos estes perseveraram unanimente em oração com as mulheres e com Maria, mãe de Jesus e com os IRMÃOS DELE".  Tal texto não demonstra que os "irmãos" de Jesus são distintos dos Apóstolos d'Ele. Vemos, inequivocamente, São Tiago Menor; filho de Alfeu, e São Tiago Maior; que é sem dúvidas, filho de Zebedeu. Ambos são primos de Nosso Senhor de segundo grau; porém, e atenção agora, São Tiago Menor é duas vezes primo de Jesus, sendo filho de Cleófas (ou Alfeu), que era primo de Nossa Senhora em primeiro grau e sendo primo por afinidade pelo seu tio, que é São José e que casou com a Santíssima Virgem. Vê-se, pois, no texto citado acima, onze Apóstolos, pois Matias substituiria Judas posteriormente (Idem, 26); entre os quais, há cinco parentes de Jesus, a saber, São Tiago Maior e São João, filhos de Zebedeu e, ademais, São Tiago Menor, Judas e Simão, filhos de Alfeu; ora, faltam na lista, São João Batista, filho de Santa Isabel, José, filho de Cleófas e ainda as duas irmãs de José que são Salomé e Maria, filha de Cleófas. Veja-se, pois, que Nosso Senhor tem Zebedeu mesmo sem possuir relação sanguínea, como tio e, portanto, trata-se de mais um parente; ademais, tem também, um tio direto que é Cleófas (ou Alfeu). Logo, sendo eles parentes (p., ex.: no caso de Abraão que citaremos abaixo) também poderiam tranquilamente receber o termo "irmãos" em sua referência no relato de São Lucas. 


E, logo, como vimos, à luz da Sagrada Escritura é impossível provar que há mais do que dois Tiagos; ademais, se se recorrer aos dados da Tradição, os quais também são históricos, será menos viável ainda fazê-lo, pois, como diz São Jerônimo não há mais do que dois Tiagos [5]; 


Mais ainda, e muito antes dele, São Clemente, bispo de Alexandria, relata: "O Senhor, depois de sua ascensão, fez entrega do conhecimento a Tiago o Justo, a João e a Pedro, e estes o transmitiram aos demais apóstolos, e os apóstolos aos setenta, um dos quais era Barnabé. HOUVE DOIS Tiagos: um, o Justo, que foi lançado do pináculo do templo e morto a golpes com um bastão; e o outro, o que foi decapitado" [6]. Sendo, pois, impossível, a existência de quatro Tiagos, mesmo se concedêssemos a existência de três, ainda assim não provaria nada contra a Virgindade Perpétua porque, como dito, seriam eles: um Tiago filho de Alfeu, um Tiago, filho de Zebedeu e um Tiago Menor, irmão do Senhor. Ora, o primeiro seria filho do esposo da irmã da mãe de Cristo (Jo XIX, 25); o segundo, por sua vez, não tinha nada que ver diretamente com Cristo, era o irmão de São João Evangelista; e, por fim, o Menor seria parente de Cristo, filho de uma "outra Maria" irmã também da mãe de Cristo -- in Mt XXVIII, 1; 


Mc XVI, 1. No entanto, vê-se pelo supracitado que a presente tese é deveras incerta e não histórica -- independente se depõe ou não contra a verdade aqui exposta --, porque se embasa numa separação genealógica inexistente. Não há mais do que dois Tiagos, ambos não têm relação sanguínea direta, senão por parentesco, com Nosso Senhor e, portanto, não se pode os considerar como um dos filhos de Maria Santíssima.  A única crítica que resta seria em relação ao termo "Alfeu" ou "Cleófas", que os Evangelistas usam quando se referem ao pai de São Tiago Menor. Mas, atente-se ao fato de que o texto grego não traz "mulher de Cleófas" e sim "Maria, a do Cleófas". E, mesmo se trouxesse, não mudaria nada; ora, é natural que alguém tenha dois nomes na Sagrada Escritura, como Gedeão ao ser chamado de Jerobaal (Jz VI, 32), São Mateus de Levi (Mt IX, 9), Jetro (Êx III, 1) quando chamado de Raguel (Êx II, 18-21), etc. Logo, não há nenhum impedimento que se trate da mesma pessoa. São Jerônimo, contra Helvídio [7] explicou extensamente que nem idioma hebraico e nem no aramaico existe termos específicos para designar os graus de parentesco e é por isso que é feito o uso do termo "irmão" entre os hebreus com esta referência. De fato, o Antigo Testamento o demonstra diversas vezes! Veja-se, tal fato, por exemplo, no caso de "Nadab e Abiu, [que eram] filhos de Arão" (Lv X, 1) e foram mortos, em castigo (Idem, 2), porque apresentaram ao Senhor um incenso com fogo sem estar de acordo com as leis de Deus; mas, Moisés chama os primos dos que faleceram ("Misael e Elisafã, FILHOS de Uziel, que era Tio de Arão") e os ordena: "Ide, tirai vossos IRMÃOS de diante do santuário e levai-os para fora do acampamento" (Idem, 4). Há outros diversos casos, como quando Abraão sendo tio de Ló e este seu sobrinho (Gn, XII, 4-5), o chama de irmão (Gn, XIII, 8), e a Sagrada Escritura o confirma (Idem, XIV, 14), confirmando o uso em relação ao parente próximo. Ou no caso de Eleazar e Cis que são irmãos (1Cr XXIII, 21), e que as filhas de Eleazar se casaram com os filhos de Cis e, portanto, tais filhos de ambos entre si são primos; mas, a Escritura os chama de irmãos (Idem, 22). Porém, observe o caro leitor que o contexto diz que são primos, mas não de forma direta e isso dificulta a compreensão; ora, com efeito, dever-se-ia chamá-los de primos por sê-lo, afinal, casaram-se com os filhos de Cis, que eram seus primos. Mas não o faz. Mais ainda, e como demonstrado, tal texto não está isolado dos demais; pelo contrário, os acrescenta. E, portanto, fica demonstrado tal uso entre os hebreus. No entanto, apesar de que os Evangelistas não tenham escrito em hebraico mas, em grego, e tendo um termo próprio neste idioma que designar "primo" (Cl IV, 10) ou "parente" (Lc I, 36), este fato elucida muito melhor a questão. Porque, de fato, sendo escrito por hebreus e para eles deve-se, pois, concluir que os Evangelistas, permaneçam na mesma forma hebraizante de se expressar. Ora, o emprego dos termos gregos fora feito por autores de mentalidade semita. Logo, podiam voltar ao seu uso tranquilamente, às vezes, ignorando o uso no idioma que escreviam. Por exemplo, um francês, ao escrever em português, pode dizer "nostalgia", querendo referir-se a "saudade"; mais ainda, "bouquet" no lugar de "ramalhete", ou "detalhe" no lugar de "pormenor", porque trata-se de termos mais próximos a seu costume linguístico. Do mesmo modo, devemos admitir também que o parentesco, para os Evangelistas, era entendido de forma lata, como qualquer hebreu o faria; ora, mesmo que usassem o termo "irmão" em grego ("adelphos"), que nesta língua significa aquele que é "do mesmo ventre" não entendiam-no desta forma e seus leitores também não o faziam, por não serem gregos helênicos e não terem sua influência linguística, mas sendo hebreus o entenderiam-no como devia sê-lo para eles e, logo, mantiveram seus costumes de linguagem, como confirmam Coenen, Colin e McKenzie [8]. Por outro lado, fazer alusão ao texto da Epístola de São Paulo aos Colossenses (IV, 10), onde nos é apresentado o termo "primo" ("anépsios) em grego, pela única vez, nos escritos do Novo Testamento nada depõe contra o que foi dito, pois, além da influência helênica do autor da carta não ser igual a dos Evangelistas [9], a qual era nula, ele escrevia em grego aos cristãos que não viviam num ambiente judeu, mas sim greco-romano; 


Ora, se assim é, tal uso é distinto das palavras do Evangelho porque ele não teria motivos para usar um sentido hebreu enquanto fala aos gentios como fizeram-no os autores dos Evangelhos que, com efeito, tais palavras são traduzidas do próprio aramaico e, portanto, encontra-se em completa conformidade. De certo modo tal fato aplica-se também ao uso de autores como o judeu Flávio Josefo [10] ou de Eusébio, bispo de Cesaréia [11], que escreveram em grego e fizeram tal uso; mas, mantendo seu costume e, portanto, não depondo contra tal verdade. 


Ademais, o texto de S. Mateus (XII, 50), onde Nosso Senhor diz que "todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" não perde em nada seu sentido; pois, de fato, ser primo carnalmente não anula o "ser irmão" espiritualmente como São Paulo atesta, a saber: "Ele [Deus] fez isso para que o Filho fosse o primeiro entre muitos irmãos" (Rm VIII, 29) e se "ah" ("irmão" em hebraico) possui significado amplo, poder-se-ia mantê-lo na tradução ao grego do termo, referindo-se a "primo", ou parente próximo sem nenhum impedimento.   Diga-se ademais, que nem que se defenda, apelando ao idioma original, a tese de que Mateus I, 25 diz mais, ou seja, o texto não diz apenas "[h]eõs" (até), mas a construção é "[h]eõs ou" [12] não se pode provar nada oposto ao que por nós é exposto. Em contrário disso, Jonh Gresham Machen, professor de Novo Testamento no Seminário Teológico de Westminster esclarece de modo insofismável a presente questão: 


"A frase '[h]eõs ou' em que '[h]eõs' é uma preposição e 'ou' o genitivo singular neutro do pronome relativo, faz o mesmo sentido que '[h]eõs'; (conjugação), apenas" [13]. Ora, se tal conjugação subordinativa não indica diferença; logo, faz-se indiscutível afirmar que "até que" não aponta para uma mudança de ação subsequente; mas, para a finalidade de um evento. E é exatamente isto que confirma o Pe. John Paul Meier -- que não crê na Virgindade Perpétua de Nossa Senhora --, a saber:  "A questão [sobre Mt I, 25] torna-se mais difícil quando a oração principal contém uma negativa, porém há casos em Mateus [XII, 20] em que a palavra "até" MESMO ASSIM NÃO INDICA MUDANÇA" [13a].  Da mesma forma, o termo "não [a] conhecia" que ali supostamente aparece ou "antes de coabitarem" (Idem, 18), é usado por alguns que maliciosamente pensam tratar-se de ter relações carnais após o nascimento de Nosso Senhor [13b]; porém, de tal uso não se demonstra absolutamente nada, pois, mesmo em nossa língua, na tradução portuguesa, a palavra "conheceu" está no pretérito perfeito do indicativo. E, ademais, o vocábulo "eguinósken", em grego, siginifca "conhecia" e não "conheceu" [13c]. Além do mais, o termo grego para "coabitar" ("synérchomai") têm dois significados, dependendo do uso: o primeiro se referindo a "habitar juntos" e o segundo a "ter relações sexuais" [13d] e, logo, não se conclui de que se trate do segundo sentido, mesmo que este seja o mais comum entre nós, pois, tal objeção fica sujeita à situação de Maria Santíssima, que estava noiva ("desposada"), isto é, dada em casamento a São José (Idem, 20), e, portanto, ainda não estaria morando com ele. Contudo, ainda que se conceda que tenha o segundo sentido, ou seja, de tratar-se mesmo de ter relações sexuais, ele não demonstra que tiveram, pois, o Evangelista quis mostrar que não houve nada de humano NO NASCIMENTO de Nosso Senhor e nada mais depois. Nada mais! Antes de fazer algo, não se deduz que depois este algo fora feito, como foi extensamente demonstrado acima. Ora, tal termo (o "antes de") quer significar "sem que" ao "até que", de forma igual. Portanto, independentemente do uso do termo "conheceu" ou do sentido dado à palavra "coabitar", Maria Santíssima permanece Sempre Virgem. Resta, ainda, a confusão feita em relação ao termo "primogênito". Antes de tudo, deixemos claro que ele não aparece no original grego do texto citado:  "ouk [não] egínosken autén [a conhecia] héos [até que] éteken [deu à luz] hyión [um filho] kai [e] ekálesen [chamou] tò ónoma autóu [Seu nome] Iesóun [Jesus]". 


Mas, segundo São Lucas (II, 7) aparece, porém, nada depõe contra a Virgindade Perpétua; em contrário, surge a errônea conclusão, por parte de alguns, de que "primogênito" quer dizer que foi o primeiro a ser gerado e, por isso, depois dele nasceram outros. Mas, quem assim pensa, esquece de que "bekor" ou "primogênito" trata-se do primeiro que nasce -- não importando se depois vieram outros ou não --, pois o adjetivo ordinal "primeiro" é completamente independente de "segundo", porque indica uma ordem do passado até o presente, não se ocupando do que vem depois. Isso se vê até no dia a dia: um homem compra um carro e pode dizer sem dúvidas que este é seu "primeiro" carro, mesmo se ele não pretende ter outros. Ou quando morrer, ele morrerá pela "primeira" vez; realmente, porque só morre uma vez. Na Sagrada Escritura isto é claríssimo. Deus disse, por exemplo, que "todo primogênito é meu" (Nm III, 13). Em seguida, ordena "contar todos os primogênitos machos dos filhos de Israel, da idade de um mês para cima" (Idem, 40). Veja-se, com efeito, que uma mãe tendo um primogênito de um mês não pode ter outro segundo; portanto, o primeiro nascido, tendo outros ou não, é ainda primogênito. Mais claro é o texto mosaico de Êxodo (XII, 29-30), onde Deus ordena, a saber: 


"O primogênito de teus filhos me darás; sete dias estará com sua mãe, e ao oitavo mo darás".  Em oitos dias, o filho é indubitavelmente único; contudo, e mesmo assim, Deus o chama de "primogênito"! Logo, não é preciso que haja um segundo. Além do mais, os críticos não prestam atenção, e de novo, ignora-se um fato: o de que Nosso Senhor Jesus é chamado de "primogênito" pelo Evangelista quando acaba de nascer. É impossível em sentido biológico que Nossa Senhora já estivesse grávida de outros filhos durante esse tempo, já que Ele mesmo era o primeiro. Impossível! De fato, João Calvino confirma que os termos "até que" ou "primogênito" nada provam contra à Virgindade Perpétua de Maria Santíssima [14] e, como vimos, do uso dos termos "irmãos", "conheceu", "coabitar", e "até que", por parte dos Evangelistas, também não se pode concluir nada; por isso, em contrário, Martinho Lutero conclui positivamente que ela foi Virgem "no parto e depois do parto, assim como ela era virgem antes do parto assim ela permaneceu" [15]. Zwínglio segue na mesma direção [15a]; e, como Calvino, Beza [15b], Turrentini [15c], Bullinger [15d], mesmo que neguem que Nossa Senhora tenha feito um voto de castidade, fazem-no igualmente.  Por que nenhum desses "vasos" de Deus negam a Virgindade Perpétua de Maria Santíssima? 


Negar que liam a Sagrada Escritura parece loucura! Pois, foi Lutero mesmo quem fez uma tradução dela para o alemão. E, logo, viu todos os termos pelos quais passamos neste presente texto. Ele os conhecia muito bem e isto até segundo quem adere seus princípios. Você, caro leitor, pode até retrucar que são apenas "resquícios do papismo" (sic), e que você não tem os ditos reformadores como "infalíveis". A única referência é a Bíblia, não é mesmo? Mas, até onde consta, segundo vocês mesmos, a deles também o era. Ou não era? Se não era, chegou o tempo de mudarem suas posições. Em quem devemos crer, afinal? Um reformador não responde por todos os seus discípulos, certo? Mas, e você, será que responde? Se não, então, tal tese demonstra ser circular. Que se resolvam, portanto, entre vocês! No entanto, lembremo-nos, de que os reformadores são, entre os seus, considerados como "enviados divinos" para "reformar" a Igreja supostamente corrompida. Ou não eram? Parece que sim. Eis o impasse... Muitos dos títulos marianos não são questões de salvação para os tais -- tese esta que é deveras errônea pois a negação de tal verdade fere diretamente o plano divino em relação ao ventre no qual se deu a Encarnação divina --; por outro lado, de onde eles tiraram uma tese tão "romanista"? Simples: não cegaram-se diante de uma das muitas crenças unânimes entre os Santos Padres e afirmada pela Santa Igreja Católica! Ora, recorrer as posições de Tertuliano, o Montanista, Joviniano e Helvídio, distantes do que sempre acreditou a Igreja é inequivocamente irresponsável, mas é a única saída restante para a heterodoxia. O maior dos S. Padres, para o Pr. Alderi Matos, por exemplo, é Santo Agostinho, Bispo de Hipona [15f] e, contudo, para ele (Sermão CLXXXVI, in Natali Domini, n. 1), Maria Santíssima é a "Virgem que concebe, Virgem que dá à luz, Virgem grávida, Virgem que traz o feto, VIRGEM PERPÉTUA"! 


Além disso, foi Nossa Senhora mesmo quem fez voto de perpétua castidade. São Paulo ensina que permanecer celibatário é melhor do que casar-se (1Cor VII, 33, 38). Uma mulher judia podia fazer tal voto mesmo que casada segundo a Lei sem nenhum problema (Nm XXX, 3-7) e São José com toda certeza aceitou tal condição sendo castíssimo. Santo Tomás de Aquino no-lo explica detalhadamente, da seguinte maneira:  "As obras de perfeição mais louváveis são quando celebradas com voto. Ora, a Virgindade devia POR EXCELÊNCIA estender-se na Virgem Mãe, pelas razões já aduzidas. Por isso foi conveniente consagrasse por voto a sua virgindade a Deus. Ora, no tempo da lei, tanto as mulheres como os varões deviam gerar, porque a propagação do culto de Deus dependia de uma nação rica em homens, antes de Deus ter nascido desse povo. Por onde, não se crê que a Mãe de Deus tivesse, absolutamente falando, feito voto de virgindade, antes de desposar José; mas, embora tivesse o desejo de o fazer, cometeu, contudo, a sua vontade ao arbítrio divino. 


Mas depois que recebeu esposo, como o exigiam os costumes do tempo, simultaneamente fez voto de virgindade"[16].  E, de fato, confirma Santo Agostinho:  "Antes mesmo de saber de quem seria mãe, [ela] já tinha resolvido permanecer virgem, esse Cristo preferiu aprovar a santa virgindade a impô-la" [17].   Ademais, Maria Santíssima demonstra tal asserção, pois, após ouvir a saudação Angélica dando a notícia da Encarnação do Verbo ela responde: "Como se fará isso, seu eu NÃO CONHEÇO varão?" (Lc I, 34). Ora, tal expressão no presente do indicativo abrange o passado e o futuro [18]; porque, em contrário, ela poderia ter dito que por ora não conhecia; contudo, não o diz. E, mais ainda, o Anjo também teria possibilidade de respondê-la dizendo que atualmente não conhecia; porém, que logo isso aconteceria, afinal, São José era seu esposo; mas, mais uma vez, nada é dito sobre isso (Idem, 35). Alguém que não consome álcool quando lhe é oferecido o mesmo dirá que não bebe, ou seja, não pode beber. E, se pretender fazê-lo um dia, deve dizer que por ora não bebe. Do mesmo modo, tal texto não se refere apenas ao seu estado atual e, com efeito, sua Virgindidade fica evidente. Logo, Maria Santíssima casando fez bem; mas, permanecendo casta perpetuamente fez melhor, como afirma São Paulo. Afinal, seu matrimônio não foi um impedimento. 


Portanto, toda Sagrada Escritura, Tradição e Magistério provam que Maria Santíssima foi Virgem antes, durante e, como demonstramos, depois do parto. Cristo, com efeito, é "primogenitus omnis creaturæ" (Cl I, 15). De fato, todas as confusões errôneas respondidas aqui, para o teólogo John Paul Meier -- que se diz católico mas nega a Virgindade Perpétua de Nossa Senhora, como dissemos --, simplesmente não dão nenhuma certeza absoluta [19], ou seja, não servem para depor contra esta verdade, como dissemos acima. Atente-se, o caro leitor, ao fato de que ele é uma espécie de teólogo que se despe de sua ordenação sacerdotal, ignorando a autoridade da Igreja que é Mãe em vista de sua vida acadêmica. Ora, tal intenção é estritamente racionalista! Meier mesmo admite sua pretensão duvidosa [20]. São Boaventura já denunciava que esta abordagem é inequivocamente errada [21] e, ademais, Miguel Ponce Cuéllar confirma que "há uma certa crise na abordagem no substancial quanto à Mariologia [...] por minimalismos" [22] em relação aos titulos de Nossa Senhora. De qualquer modo, os críticos não possuem muita coisa em seu favor; mais ainda, as alusões que Meier faz são no mínimo irrelevantes, pois, Hegésipo "não está livre de problemas e auto-contradições" [23], coisa que Aldama S. I., já afirmara [24], Tertuliano, o Montanista que, contra heresias cristológicas, a respeito humanidade de Cristo, não viu saída e exagerou errando nos pontos supracitados; em verdade, seus exageros se consumam na fundação de sua própria seita e, por fim, Santo Irineu de Lyon que não se pode pôr na lista porque Meier mesmo considera seu testemunho "improvável" [25] com relação ao intuito dos críticos. Não há necessidade nem de citar Helvídio, que por problemas hermenêuticos aqui resolvidos, negou uma verdade claríssima no divino texto e foi corrigido por São Jerônimo. Logo, isto não prova nada. Em contrário, o historiador presbiteriano Adolf Von Harnack afirma que já no século II d. C., tal crença era unânime entre os cristãos [26]; e ele está corretíssimo, pois, além dos erros não possuírem caráter doutrinal direto ocorrem por má compreensão da verdade de fé. Com efeito, São Tiago Menor -- o dito "irmão do Senhor" --, responde ele mesmo se ele era ou não filho de Nossa Senhora, em sua liturgia, que é celebrada nas igrejas de Rito Antioquino, quando proclama Maria Santíssima como "Sempre Virgem" [27]! Dizer que se trata de um escrito posterior ao século primeiro não prova que tal Rito não fora feito por São Tiago Menor. 


Decerto, as "Constituições Apostólicas" foram escritas em 375/380 d. C., mas elas registram a disciplina VIGENTE À ÉPOCA nas comunidades -- o que significa que já o eram há muito tempo.  E, ademais, o uso em Jerusalém e na Palestina e a escrita em siríaco (que provém do aramaico) do rito só demonstram mais que a autoria é de São Tiago Menor. Tal afirmação é também repetida nas liturgias de São Basílio [28], São João Crisóstomo [29], entre outras orientais ou latinas, e, entre protestantes, até pela Segunda Confissão Helvética [30]! 


Pela perfeição de Nosso Senhor que devia ser Unigênito da Mãe assim como era do Pai: Maria Santíssima é Sempre Virgem. Pela dignidade e santidade da Mãe de Deus que não foi ingrata com o milagre operado por Deus, que preservou sua Virgindade no parto, Nossa Senhora permanece Virgem. Pelo seu voto de castidade, que como Santíssima Virgem ela cumpriu, a Mãe Digníssima de Deus mantém sua Virgindade perpetuamente. E isto basta. Paremos por aqui.

 

Se nem os negacionistas ousam acreditar nas suas objeções não há um porquê para que alguém assim o faça. Só nos resta repetir com toda Igreja na Comunhão dos Santos: 


"Ó Maria! Quæ sola inviolata permanisisti ora pro nobis!" ("Ó Maria! Que permaneceste inviolada, rogai por nós!").

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REFERÊNCIAS: 


[1] Cf. Catecismo de Nossa Senhora, com aprovação de Dom Antônio de Castro Mayer +, ed. Publicações Ontem, Hoje e Sempre: Campos, Rio de Janeiro, 1997, Questão. 44, p. 11. 

[2] Cf. Catecismo da Igreja Católica, §499 -- https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&url=https://www.catecismodaigreja.co m.br/paragrafo-499/amp/&ved=2ahUKEwik0IyDq-juAhVtD7kGHdCuC1gQFjABegQIAhAF&usg=AOvVaw0e0SoPfgo7_n6_mnFsX8VF&ampcf=1 [3] Cf. Bíblia de Estudo Dake: Anotações Esboços Referências * (ARC -- Almeida Revista e Corrigida) in Mateus 1, 25b: "Ela teve outros filhos (Lc 8, 19)". 

[4] Cf. Bíblia de Estudo NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje), ed. Sociedade Bíblica do Brasil: São Paulo, 2005 -- dicionário, verbete > --, p. 1375: "1) Apóstolo, filho de Zebedeu; 2) Apóstolo, filho de Alfeu; 3) Irmão de Jesus; 4) Pai do Apóstolo Judas, não o Iscariotes. 

[5] Cf. Adversus Helvidium, cap. XV: "Não há nenhuma dúvida que existiam dois apóstolos chamados pelos nomes de Tiago: Tiago, o filho de Zebedeu, e Tiago, o filho de Alfeu" (http://agnusdei.50webs.com/jervpm3.htm). 

[6] Cf. Hypotyposeis, cap. VII, citado por Eusébio de Cesaréia in "História Eclesiástica" Cap. II, §1-5, ed. Novo Século: 2002, p. 33. 

[8] Cf. COENEN. Lothar & BROWN., in "Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento", ed. Vida Nova: São Paulo, 2000, Vol. I, verbete >>, pp. 1401-2, a saber: "Adelphos é uma palavra composta de delphys, "útero", com o copulativo 'a', e, assim, alguém que nasceu do mesmo útero [...] Originalmente, empregava-se para irmão no sentido físico [...] MESMO ASSIM, VEIO A SIGNIFICAR TODOS OS PARENTES PRÓXIMOS, e.g. "sobrinho", "cunhado", etc [...] No Novo Testamento, adelphos significa, literalmente, "irmão", e adelphe significa irmã. FREQUENTEMENTE, porém, É IMPOSSÍVEL ESTABELECER SE ESTAS PALAVRAS REPRESENTAM OUTRO PARENTESCO PRÓXIMO [...]". Cf. MACKENZIE. John L., Dicionário Bíblico, ed. Paulus: São Paulo, 1983, verbete >, p. 410: "O termo grego adelphos, "Irmão" (adelphe, "irmã"), é usado em grande parte o no são usados os termos irmão e irmã em português. Neste caso, porém, é preciso recorrer ao quadro hebraico-aramaico dos evangelhos, pois os termos expressam frequentemente O SEU USO SEMÍTICO". 

[9] Cf. Bíblia de Estudo NTLH, Dicionário: verbete >, p. 1363: "Nome romano de Saulo Apóstolo DOS NÃO-JUDEUS, o maior vulto da Igreja primitiva (At 13, 9). >> e Fariseu (At 23, 6), ERA CIDADÃO ROMANO POR TER NASCIDO EM TARSO". Ademais, a própria heresia que São Paulo rechaça na carta aos Colossenses não tem influência judia, mas pagã, pois, de fato eram ensinamentos em relação a seres espirituais que controlam o universo; e, mais ainda, regras rigorosas contra o corpo (Cl II, 8, 16; 17-13, 20-23). E, se dissermos que tal carta não é de autoria paulina direta (como faz a Enciclopédia Britânica -- https://www.britannica.com/biography/Saint-Paul-the-Apostle), só demonstra mais a influência helênica do autor. 

[10] Cf. JOSEFO. Flávio., "Antiguidades Judaicas", Part. I, Lib. 20, cap. VIII, relata: "Mas o jovem Anano, que, como já dissemos, assumia a função de sumo-sacerdote, era uma pessoa de grande coragem e excepcional ousadia; era seguidor do partido dos saduceus, os quais, como já demonstramos, eram rígidos no julgamento de todos os judeus. Com esse temperamento, Anano concluiu que o momento lhe oferecia uma boa oportunidade, pois Festo havia morrido, e Albino ainda estava a caminho. Assim, reuniu um conselho de juízes, perante o qual trouxe >> junto com alguns outros, e, tendo-os acusado de infração à lei, entregou-os para serem apedrejados". No entanto, aqui, além do supramencionado, atente-se ao fato de que o autor era judeu e, logo, que acreditava ser Nosso Senhor um simples humano e, portanto, entendia São José como seu pai carnal, e não adotivo, pois, muitos cristãos entendiam São Tiago como filho de um outro casamento de São José; ora, se assim é ser também helênica (pós queda de Jerusalém) ao escrever em grego ele designa São Tiago como entendiam-no os judeus e os primeiros cristãos à época. 

[11] Cf. Eusébio in "História Eclesiástica" (L. II, cap. XXIII): "Ao apelar Paulo ao César e ser enviado por Festo à cidade de Roma esperança que os induziu a conspirar contra ele 156, os judeus, frustrada a 157, voltaram-se contra >>, a quem os apóstolos tinham confiado o trono episcopal de Jerusalém. O que segue é o que ousaram fazer também contra ele". À luz do pensamento do historiador eclesiástico temos (HE, Lib. I, cap. 2), a saber: "Naquele tempo também >>; pois bem, o pai de Cristo era José, já que estava casado com a Virgem quando, antes que convivessem descobriu-se que havia concebido do Espírito Santo, como ensina a Sagrada Escritura dos evangelhos -- este mesmo Tiago pois, a quem os antigos puseram o sobrenome de Justo, pelo superior mérito de sua virtude, refere-se que foi o primeiro a quem se confiou o trono episcopal da Igreja de Jerusalém". 

[12] Cf. CARSON. D. A., in "O Comentário de Mateus" sobre I, 25, ed. Sheed Publicações: São Paulo, 2010, p. 108, a saber: "Mateus deixa clara a concepção virginal de Jesus, pois acrescenta que José não teve união sexual com Maria (lit., ele não a “conheceu”, eufemismo do Antigo Testamento) enquanto ela não deu à luz a Jesus (v. 25). O condicional “enquanto” quer dizer 'mais' naturalmente que, após o nascimento de Jesus, Maria e José desfrutaram de relações conjugais normais (cf. mais em 12.46; 13-55) -- contrário a McHugh (p. 204) --, o imperfeito eginôsken (“não [a] conheceu”) não indica celibato continuado após o nascimento de Jesus, mas enfatiza a fidelidade do celibato até o nascimento de Jesus. Assim, o Emanuel virginalmente concebido nasceu. E oito dias depois, quando chegou o momento de ele ser circuncidado (Lc 2.21), José chamou-o de “Jesus”. 

[13] Cf. MACHEN. Grescham. Griego Del Nuevo Testamento para Principiantes, ed. Editorial Vida: Miami, 2003, p. 203. A) Cf. MEIER. John Paul. Um Judeu Marginal: Repensando o Jesus Histórico, Vol. I, ed. Imago, 1991, p. 317. Antes disso, e na mesma página, lê-se na tradução portuguesa: "Assim, qualquer questão sobre a continuada virgindade de Maria após o nascimento de Jesus, vrginitas post partum, realmente não entra na preocupação maior de Mateus. Ela surge apenas em virtude da relação temporal que ele usa para ressaltar a abstinência de José durante a concepção e gestação de Jesus: "Não a conheceu enquanto [heos hou] ela não de à luz um filho...Para quem lê esta afirmação no século XX, em seu próprio idioma, a conclusão natural seria que o casal manteve relações após o nascimento de Jesus. No entanto, O SIGNIFICADO DO TEXTO GREGO (E DE QUALQUER TEXTO HEBRAICO OU ARAMAICO SUBJACENTE) NÃO É TÃO NÍTIDO. Por vezes, tanto no hebraico ('ad) com no grego (heos hou), A CONJUNÇÃO TRADUZIDA POR "ENQUANTO" (OU ATÉ QUE) NÃO IMPLICA QUE OCORRA UMA ALTERAÇÃO DEPOIS DO EVENTO MENCIONADO NA ORAÇÃO INTRODUZIDA PELA CONJUNÇÃO" [...] (Idem). B) Cf. Bíblia de Estudo John MacArthur, ed. SBB: São Paulo, 2010, p. 1209, comenta in 1, 25: ">> um eufemismo para relação sexual". C) Cf. PINTO. Pe. Augusto Rafael , explica: "O texto grego traz a palavra eguinósken, que significa CONHECIA" (Compêndio de Mariologia, Ed. Cultor de Livros, 2018, p. 264). D) Cf. co·a·bi·tar - Conjugar (latim cohabito, -are, habitar em conjunto) verbo transitivo e intransitivo 1. Habitar em comum; partilhar o mesmo espaço de habitação. verbo intransitivo 2. Viver maritalmente com uma pessoa sem estar casado com ela. Palavras relacionadas: coabitação, comorar, coabitador, contubérnio, dever, estar. "COABITA-OS", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/COABITA-OS [consultado em 16-02-2021 às 18:37h].

[14] Cf. CALVINO. Jonh., in "Comentário Sobre Mateus" -- http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom31.ix.xv.html

[15] Cf. LUTHER. Martin., "Sermão da Apresentação de Cristo no Templo", Luthers Werke 52: 688- 99, citado em Jaroslav Pelikan, Maria por meio das eras, 158.


A) Cf. G. R Potter, Zwingli (Londres: Cambridge Univ. Press, 1976), pp. 88-89, 395. Também Zwingli, The Perpetual Virginity of Mary... 17 de setembro de 1522 “Ele se volta, em setembro de 1522, para uma defesa lírica da virgindade perpétua da mãe de Cristo... Negar que Maria permaneceu 'inviolata' antes, durante e depois do nascimento de seu Filho, era duvidar da onipotência de Deus ... e era justo e proveitoso [de acordo com Zuínglio] repetir a saudação angelical - não a oração - 'Ave Maria' ... Deus estimava Maria acima de todas as criaturas, incluindo os santos e os anjos - era sua pureza, inocência e fé invencível que a humanidade deve seguir. A oração, no entanto, deve ser… somente para Deus… ' Fidei expositio ,' [Uma Exposição da Fé, 1536] o último panfleto de sua pena [d. 1531]... Há uma insistência especial na virgindade perpétua de Maria". 


B) BEZA. Theodore., in "Confissão de Beza" (1560), Artigo 23 em Dennison, Confissões Reformadas 2.249-50 "Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem (Mt 1: 21-23; Lc 1:35), ou seja, tendo uma alma verdadeira e humana e um verdadeiro corpo humano formado da mesma substância da virgem Maria, filha de David , em virtude do Espírito Santo, foi por este meio concebido e nascido da mesma virgem Maria -- uma virgem, digo antes e depois de sua libertação; e tudo isso foi feito para a realização de nossa reconciliação". Proposições e Princípios da Divindade Propostos e Disputados na Universidade de Genebra, por certos Estudantes da Divindade lá, sob o Sr. Theodore Beza e o Sr. Anthony Faius ... (Edimburgo, 1591), cap. 42, 'Princípios Sobre a Natividade, Circuncisão e Batismo de Cristo', p. 109 “7. A virgindade de Maria depois de ter filhos, a saber, como é mais certo, que antes de ter filhos ela era desconhecida do homem; assim também ela permaneceu virgem até o dia de sua morte, é religiosamente crido: ainda não há nada expressamente encontrado a respeito deste ponto nas Sagradas Escrituras, nem pertence de forma alguma ao mistério de nossa salvação". 


C) Cf. TURRENTIN. Francis in "Institutes of Elenctic Theology", 13th Topic, 'The Person & State of Christ', 11th Question, 'The Conception & Nativity of Christ', seções 21-25:


“XXI. ... se ela sempre permaneceu virgem depois. Isso não é expressamente declarado nas Escrituras, mas ainda é piamente acreditado com fé humana com o consentimento da igreja antiga. Assim, é provável que o ventre no qual nosso Salvador recebeu os auspícios da vida (de onde ele entrou neste mundo, como de um templo) tenha sido tão consagrado e santificado por tão grande hóspede que ela sempre permaneceu intocada pelo homem; nem Joseph jamais coabitou com ela. XXII. Daí Helvídio e os Antidicomarianitas (assim chamados porque eram oponentes de [ antidikoi ] Maria) são merecidamente repreendidos pelos pais por negarem que Maria sempre foi virgem (aei Partenon). Eles sustentaram que ela coabitou com Joseph após o parto; sim, também teve filhos com ele. Como observa Agostinho, eles se baseiam nos argumentos mais superficiais, ou seja, porque Cristo é chamado de 'primogênito' de Maria (cf. De Haeresibus56, 84 [PL 42,40, 46]). Pois, como Jerome bem observa, ela foi chamada assim porque ninguém foi gerado antes dele, não porque houve outro depois dele. Portanto, entre os advogados: 'Ele é o primeiro a quem ninguém precede; ele é o último, a quem ninguém segue. ' Os hebreus estavam acostumados a chamar os primogênitos também de apenas gerados; Israel é chamado de 'o primogênito de Deus' (Êxodo 4:22), embora seja o único povo escolhido de Deus. Assim, "o primogênito" é considerado "santo para Deus" (Êx 13: 2), que primeiro abriu o ventre, quer outros o tenham seguido ou não. Caso contrário, o primogênito não teria que ser redimido até depois que outro descendente tivesse sido procriado (a lei mostra que isso é falso porque ordena que seja redimido um mês após o nascimento, Nm 18:16). XXIII. (2) Eles não foram capazes de extrair isso mais solidamente do fato de os próprios irmãos e irmãos por natureza sejam designados por este nome, mas também parentes de sangue e primos (como Abraão e Ló, Jacó e Labão). Assim, Tiago e José, Simão e Judas são chamados de irmãos de Cristo (Mt. 13:55) por uma relação de sangue. Pois Maria (que é chamada de mãe por Mateus e Marcos) é chamada por João de irmã da mãe do Senhor. No entanto, o que é dito em Jn. 7: 5 que 'nem seus irmãos acreditaram nele' deve ser entendido de parentes de sangue mais remotos. XXIV. (3) Nem é derivado melhor disto - que José é dito 'não ter conhecido Maria até que ela deu à luz seu filho primogênito' (Mateus 1:25). As partículas 'até ”e' até 'são frequentemente referidas apenas ao passado, não ao futuro (ou seja, elas conotam o tempo anterior, sobre o qual pode haver uma dúvida ou que era da mais alta importância saber, como não ter uma referência ao futuro (cf. Gênesis 28:15; Salmos 122: 2; 110: 1; Mateus 28:20, etc.). Assim é mostrado o que foi feito por José antes da natividade de Cristo (a saber, que ele se absteve dela); mas não significa que ele tenha vivido com ela de outra forma no pós-parto. Quando, portanto, é dito que ela foi encontrada grávida "antes de se juntarem" ( prin e synelthein autous), a cópula anterior é negada, mas não subsequentemente afirmada.


XXV. Embora a cópula não tivesse ocorrido naquele casamento, ela não deixou de ser verdadeira e ratificada (embora não consumada) para não ter relação sexual, mas o consentimento faz o casamento. Portanto, era perfeito quanto à forma (a saber, conjunção indivisa de vida e fé não violada, mas não para terminar (a saber, a procriação dos filhos, embora não fosse deficiente quanto à criação dos filhos)". 


D) Cf. citado em GRAEF. Hilda., Mary: A History of Doutrine and Devotion , ed. de vols. 1 e 2 (Londres: Sheed & Ward, 1965), vol. 2, pp. 14-15. "A Virgem Maria… completamente santificada pela graça e sangue do seu único Filho e abundantemente dotada pelo dom do Espírito Santo e preferida a todos… agora vive feliz com Cristo no céu e é chamada e permanece sempre Virgem e Mãe de Deus". 


F) Alderi Matos é Professor de História da Igreja, Coordenador da área de Teologia Histórica do Centro de Pós Graduação Adrews Jumper (CPAJ). Graduou-se em teologia pelo Seminário Presbiteriano de Campinas (1974), sendo também bacharel em Filosofia pela Universidade Católica do Paraná (1979) e em Direito pela Escola de Direito de Curitiba (1983). Após vários anos de ministério no Paraná, fez seu mestrado em Novo Testamento (S.T.M.) na Andover Newton Theological School , em Newton Centre, Massashusetts, EUA (1988) e seu doutorado em História da Igreja na Boston University School of Theology (1996). Em 1997, o Dr. Alderi veio trabalhar no CPAJ, onde também atua como co-editor da revista teológica Fides Reformata. É escritor e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil, pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana Ebénezer de São Paulo e articulista conhecido em diversos periódicos acadêmicos e populares" (https://ministeriofiel.com.br/autor/alderi-matos/). " Na mesma época em que se desenrolavam na igreja grega ou oriental as controvérsias cristológicas, viveu no Ocidente aquele que seria considerado O MAIOR DOS PAIS DA IGREJA – Aurélio Agostinho" (https://ministeriofiel.com.br/artigos/a-vida-e-o-ministerio-de-agostinho-de-hipona/). 

[16] Cf. http://permanencia.org.br/drupal/node/3369 [17] Cf. AGOSTINHO. Aurélio., in "A Virgindade Consagrada, cap. IV, 4. 

[18] Cf. WALLACE. Daniel B., Greek Grammar beyond the Basics: An Exegetical Syntax of the New Testament [Grand Rapids: Zondervan, 1996], pp. 532-33 (https://zondervanacademic.com/products/greek-grammar-beyond-the-basics): "[O termo >> 'conheço'], é utilizado a fum de enfatizar que os resultados de determinada ação passada determinada".

[19] Cf. MEIER. Jonh Paul, op. cit. (em espanhol): Un Judió Marginal Nueva Visión del Jesús histórico, Tomo I, cap. X, §5, Ed. Verbo Divino: Navarra, 1998, p. 317: "Nenhum destes argumentos [que foram apresentados contra a Virgindade Perpétua], e nem o conjunto deles, pode PROPOR COM CERTEZA ABSOLUTA em um ponto sobre o qual há tão poucos dados". No original (em inglês) "A Marginal Jew, Vol. 1, Doubleday, 1991, p. 331 -- consultar: https://b-ok.lat/s/A%20Marginal%20Jew 

[20] Cf. Idem (versão espanhola), Introdución, §1, p. 12, a saber: "Às vezes [numa busca histórica entre estudiosos de agnósticos, protestantes e católicos sob um mesmo aspecto, isto é, a vida de Jesus Cristo] se buscaria uma linguagem ambígua para OCULTAR AS DIFERENÇAS [e], às vezes, SE ADMITIRIAM PONTOS DE DIVERGÊNCIA nos quais não se pode alcançar um acordo [...]. Pois bem, essa limitada "declaração de concórdia", que não pretende substituir o Cristo da fé, É O MODESTO OBJETIVO DA PRESENTE OBRA". 

[21] Cf. "Há de se evitar diligentemente que o(s) título(s) de Nossa Senhora não seja(m) diminuído(s) em nada e por nada" -- "Cavendum est diligenter ul honor Dominae nostrae in nullo ab aliquo m¡- nuatur" (In III Sent., d. 23, a. 1, q. 6, ad. 5; Op. IV, 497)

[22] Cf. CUÉLLAR. Miguel Ponce. María, Madre Del Redentor e Madre de La Iglesia, 2Ed. Herder: Barcelona, 1996-200, pp. 20-3 [23] Cf. MEIER, op. cit., (versão em inglês), p. 324). 

[24] ALDAMA S. I. José Antonio., Maria en la Patrística de Los Siglos I Y II, cap. IX, §1. 

[25] Cf. MEIER, op. cit., (versão espanhola): "a posição não é tão clara" (p. 316).

[26] Cf. HARNACK. Adolf Von., in Lehrbuch der Dogmengeschte, Lib. III, p. 96. 

[27] Cf. "Tu que és o Filho unigênito e Palavra de Deus, imortal; que se submeteram à nossa salvação para se tornarem carne da santa Deus-mãe, e da >>; que imutavelmente se tornou homem e foi crucificado, ó Cristo nosso Deus, e por Tua morte pisou a morte; que és um da Santíssima Trindade glorificada juntamente com o Pai e o Espírito Santo, salva-nos" https://ccel.org/ccel/schaff/anf07/anf07.xii.ii.html

[30] Cf. Cap. XI, §4: "Cristo é verdadeiro homem, tendo verdadeira carne. Cremos também e ensinamos que o eterno Filho do eterno Deus se fez Filho do homem, da semente de Abraão e David, não com concurso carnal do homem, como diz Ébion, mas concebido do Espírito Santo com toda a pureza e nascido da >>, como a história evangélica cuidadosamente nos explica (Mat, cap.1). E São Paulo diz: “Ele não assumiu a natureza de anjos, mas a da semente de Abraão”. Também o apóstolo São João diz que todo aquele que não crê que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus. Portanto, a carne de Cristo não era nem imaginária nem trazido do céu, como erradamente sonhavam Valentino e Márcion".

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