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  • Daniel Arthur

As Evidências Históricas da Ressureição de Cristo

A Ressureição de Cristo é o evento mais importante para a fé cristã (e por que não do mundo?). Segundo Lauter (2016), "a ressurreição de Jesus é um acontecimento único na história da humanidade. Para os cristãos, trata-se do evento histórico mais importante já registrado" [1]. Por isso, hoje defenderemos a historicidade desse evento tão singular para a História da Humanidade.



A Criteriologia de Karl Popper e a Ressurreição de Cristo


Karl Popper (1902-1994) foi um importante filósofo austríaco, considerado por muitos como o maior filósofo da ciência do século XX. Dentre as diversas contribuições dele para a Filosofia, está o seu famoso "critério da falseabilidade" [2] para determinar se um conhecimento específico é científico ou não. Tal critério consiste em afirmar que somente aquelas proposições que podem ser provadas falsas são, verdadeiramente, científicas. Segundo Reale:


“De acordo com esse critério, as asserções, ou os sistemas de asserções, transmitem informações acerca do mundo empírico apenas se são capazes de confrontar-se com a experiência, ou, mais precisamente, apenas se podem ser controladas sistematicamente, isto é, se podem ser submetidas (de acordo com uma ‘decisão metodológica’) a controles que poderiam levar à sua refutação” [3].

Em outras palavras, só é possível saber se determinado conhecimento pode ser classificado como científico se ele for passível de ser falso, ou seja, tem que ser possível submeter tal conhecimento a condições que poderiam desmenti-lo.


Muitos pensadores usaram o critério de Popper para sustentar que as afirmações metafísicas ou religiosas são automaticamente descartadas, uma vez que não seriam falseáveis (o que é inexato). No entanto, podemos com alto e bom tom responder que nem todas as afirmações religiosas são excluídas se aplicarmos esse critério. A religião cristã é a única religião cujo princípio de fé central pode ser testado a partir desse critério, uma vez que o Cristianismo se fundamenta em um evento histórico singular: a ressureição de Cristo. "E, se Cristo não ressuscitou, inútil é a nossa fé" (1Cor 15, 14).


Outras religiões, como o Islã, oferecem testes subjetivos para validar suas afirmações. Tais, como, por exemplo: o Corão afirma que o leitor deve perguntar se alguém seria capaz de escrever um livro como o Corão (Sura 10:37-38). Mas como essa afirmação poderia ser refutada? Não há como! O Cristianismo, por sua vez, afirma que Cristo ressuscitou dos mortos e tal ano e em tal lugar, além de listar certa quantidade de testemunhas desse evento. Bastaria, portanto, refutar tal alegação para se pôr por terra todo o Cristianismo.


O nosso objetivo, no entanto, será demonstrar que todas as tentativas de refutar a ressurreição de Cristo são inviáveis, algumas, inclusive, exigindo mais fé do que a própria ressurreição.


Os Fatos Mínimos


Antes de adentrarmos nesse espinhoso assunto, há de se definir dois passos: 1) determinar quais são as evidências; 2) deduzir qual é a melhor explicação para as evidências. As evidências têm que ser unanimemente aceitas pela grande maioria dos historiadores, isto é, têm que ser fatos históricos incontestáveis. Por sua vez, a melhor explicação deverá cumprir certos critérios que os historiadores estabeleceram.


William Lane Craig, famoso apologista protestante, em um de seus livros [4] apresenta-nos uma lista de alguns critérios para considerarmos um pretenso evento como um fato histórico, eis alguns deles:


  1. Adequação histórica: o fato se encaixa a fatos históricos do mesmo lugar e época;

  2. Fontes primitivas e independentes: o fato é narrado em múltiplas fontes próximas da época em que se alega que ele ocorreu e que não dependam umas das outras nem de uma fonte comum.

  3. Constrangimento: o fato é embaraçoso ou contraproducente para quem o narra ou registra;

  4. Coerência: o fato se encaixa aos fatos já sabidos sobre o tema.


Seguindo esses critérios é possível estabelecer o que sejam fatos históricos. Além disso, parece-nos que os fatos incontestáveis, aceitos até pelos céticos (vide Barth Erhman, por exemplo), sobre Jesus e o que se seguiu a sua morte podem ser resumidos assim:


  • Jesus Cristo, de fato, existiu;

  • Ele foi crucificado e morto sob Pôncio Pilatos, governador romano;

  • Ele foi sepultado em um sepulcro pertencente a José de Arimateia;

  • Três dias após a sua morte, o seu túmulo foi encontrado vazio;

  • Os seus discípulos acreditavam piamente que Ele lhes havia aparecido ressuscitado;

  • Os seus discípulos preferiram morrer a negar que o tinham visto ressuscitado;

  • Saulo de Tarso, um dos maiores perseguidores dos cristãos, tornou-se ele mesmo um cristão e foi morto, anos depois, por ser cristão.


Cada um desses fatos passa pelos critérios dados anteriormente para averiguar a credibilidade de um evento histórico: é, de fato, surpreendente como os evangelistas que eram apóstolos narraram que eles próprios haviam abandonado seu Mestre e tinham fugido, algo que, pelo critério do constrangimento, atesta a favor da credibilidade histórica dos evangelhos.


Ademais, estamos de acordo com N.T. Wright [5], quando ele afirma que a melhor explicação para todos esses fatos é a de que Jesus ressuscitou dos mortos. Devemos ainda citar a fala de Wolfhart Pannenberg, teólogo protestante sobre a historicidade da ressureição:


"Considerando que a historiografia não começa dogmaticamente com um conceito estreito da realidade de acordo com o qual 'os mortos não ressuscitam', não está claro por que a historiografia não deveria, em princípio, ser capaz de falar sobre a ressureição de Jesus como a explicação que melhor define eventos tais como as experiências dos discípulos quanto às aparições e a descoberta do túmulo vazio" [6]

Analisando os Fatos


Analisemos os fatos.


I - Que Jesus, de fato, existiu (trataremos mais longamente da existência histórica de Jesus em uma outra oportunidade);


II - Que Jesus foi crucificado e morto sob Pôncio Pilatos é um fato largamente aceito pela comunidade acadêmica, pois pode ser averiguado em diversas fontes não cristãs, tais como em Josefo, que em Antiguidade Judaicas, XVII, 63a, afirma sobre Jesus que "por denúncia dos príncipes da nossa nação, Pilatos o condenou ao suplício da cruz" [7]. Também Tácito atesta sobre Cristo que "sob o principado de Tibério, o procurador Pôncio Pilatos entregara ao suplício" [8]. Além disso, estudiosos céticos, como Bart Erhman, reconhecem que, durante o século II, diversos altos funcionários romanos sabiam que Jesus havia sido morto sob Pôncio Pilatos [9];


III - Jesus foi sepultado por José de Arimateia. O sepultamento que Cristo por José de Arimateia é relatado em fontes independentes e extremamente precoces (critério de antiguidade das fontes). Além disso, sendo José de Arimateia membro do sinédrio, isto é, uma figura pública conhecida, seria altamente improvável que fosse uma invenção dos cristãos.


Ora, havia uma certa hostilidade na igreja primitiva em relação aos membros do Sinédrio, pois, "aos olhos dos cristãos, eles haviam maquinado judicialmente o assassinato de Jesus" [10]. Portanto, dado o seu status de membro do Sinédrio, José de Arimateia seria a última pessoa que se poderia esperar cuidar devidamente do corpo de Jesus. Assim, o sepultamento de Jesus por José de Arimateia é muito provável (critério do constrangimento), uma vez que seria quase inexplicável por que os cristãos inventariam uma história em que um membro do Sinédrio faz o que era correto ao corpo de Jesus.


IV - O Sepulcro vazio. Que o sepulcro de Cristo estava vazio no domingo após a ressureição prova-se pelo seguinte fato: o seu sepultamento. Pois, se a narrativa do sepultamento for basicamente precisa, então o local em que ficava o sepulcro era conhecido em Jerusalém, mas se assim o for, o sepulcro deveria estar vazio quando os apóstolos começaram a pregar a ressureição, caso contrário seriam facilmente desmentidos pela presença do corpo no sepulcro, e isso por dois motivos: a) eles próprios não acreditariam na ressureição se o corpo continuasse no sepulcro; b) mesmo se acreditassem, ninguém acreditaria neles, pois achariam que estavam loucos.


Outro fator importante, o sepulcro vazio foi encontrado por mulheres, sendo que o "testemunho de mulheres não era digno de crédito" [11], e Rops confirma que "exceto em casos excepcionais, a evidência dela (da mulher) não era aceita em qualquer tribunal" [12]; Josefo também diz: "Que o testemunho de mulheres não seja admitido, em função da leviandade e atrevimento desse sexo" (Antiguidades IV. 8.15).


Assim sendo, os Apóstolos não teriam nada a ganhar inventando que as primeiras testemunhas do sepulcro vazio e da ressureição foram mulheres. A melhor explicação para isso é que, de fato, as primeiras testemunhas do sepulcro vazio foram mulheres.


V - Que os apóstolos acreditavam piamente que tinham tido experiências com Cristo ressuscitado não resta dúvida, tanto que o que resta aos céticos é propor que esse experiências seria fruto de alucinações, mas trataremos disso mais adiante, assim como da hipótese da mentira dos apóstolos.


VI - Que os apóstolos preferiam morrer do que negar a sua crença na ressureição é também um fato vastamente documentado na antiguidade, desde os documentos patrísticos até do documentos romanos atestam-no.


VII - Que Saulo de Tarso converteu-se ao Cristianismo e veio a morrer por ele é também um dos fatos mais incontestáveis dos primeiros séculos do Cristianismo.

Tendo esses fato em mente, o que resta é propor a melhor explicação para eles. Segundo os critérios da Historiografia moderna [13], a melhor explicação a determinados fatos deverá ter um 1) âmbito e um 2) poder explicativo maior que as explicações concorrentes, isto é, deve explicar mais coisas relativas às evidências; deve também ser a mais 3) plausível e 4) menos artificial, ou seja, não deve exigir a adoção de muitas hipóteses a mais que não tenham evidência independente; além disso, a melhor hipótese explicativa 5) não deve entrar em conflito com as evidências aceitas.


Ora, todas as explicações naturalistas (que negam a ressureição de Cristo) falham no teste de melhor explicação às evidências, assim a hipótese da conspiração dos discípulos ou a da falsa morte de Jesus, ou ainda a da alucinação dos apóstolos não cumprem esses critérios de melhor explicação.


A hipótese da conspiração


A possível conspiração dos discípulos não explica porque foram mulheres as primeiras testemunhas da ressureição, sendo que, na época e naquela região, o "testemunho de mulheres não era digno de crédito" [14], e Rops confirma que "exceto em casos excepcionais, a evidência dela (da mulher) não era aceita em qualquer tribunal" [15]; Josefo também diz: "Que o testemunho de mulheres não seja admitido, em função da leviandade e atrevimento desse sexo" [16]. Assim, se os apóstolos tivessem inventado a história da ressureição, não haveria motivo para escolherem mulheres como primeiras testemunhas, já que seus testemunhos não eram aceitos.


Outro fator que atesta contra essa hipótese: quem mente busca ganhar algo em troca, seja poder, dinheiro, influência etc. O que os apóstolos ganharam? Perseguição e morte. Logo, não poderiam ter inventado uma história que só lhes trouxe "mal". Até imagino Pedro se reunindo com os demais apóstolos e dizendo: "É o seguinte, rapaziada, eu tenho um plano incrível que envolve mentir sobre uma tal ressureição de Jesus e morrer por isso DO NADA. Muito daora, né?! Quem topa?"


A hipótese da falsa morte de Jesus.


Por incrível que pareça, há quem defenda essa hipótese, ou seja, a de que Jesus teria sobrevivido à crucificação, reaparecido no domingo e os apóstolos achando que Ele havia ressuscitado. Essa hipótese não leva em consideração os estudos médicos mais recentes sobre a Crucificação, como os feitos pelo cirurgião francês Dr. Pierre Barbet [17], em que ele demonstra ser extremamente improvável (pra não dizer impossível) que alguém sobrevivesse à crucificação, pois os soldados romanos eram peritos nisso, e caso um condenado conseguisse sobreviver, os soldados que seriam condenados à morte no lugar deles.


Então sim, Jesus, de fato, morreu na Cruz!!! Com os atuais conhecimentos da medicina é possível precisar até a causa de sua morte que, segundo alguns, seria asfixia intermitente.


A hipótese da alucinação dos apóstolos


Céticos, como Gerd Lüdemann, se valendo da psicanálise de Freud, tentam sustentar a teoria de que as experiências que os apóstolos tiveram com Jesus ressuscitado seriam fruto de alucinações devido ao trauma causado pela morte do mestre. Assim eles teriam uma predisposição, circunstância facilitadora de alucinações nesses casos.


No entanto, tal hipótese não explica o túmulo vazio (que é um fato), nem tampouco o fato de que as experiências e os testemunhos dos apóstolos serem idênticos até nos mínimos detalhes essenciais da ressureição, muito menos explica porque Saulo, um judeu e perseguidor de cristãos, se converteu ao Cristianismo ao qual perseguia através de uma experiência com Cristo, sendo que ele não tinha tal predisposição à alucinação pois Jesus não era seu mestre (não estava de luto).


Além disso, tal hipótese da alucinação, por se valer da psicanálise, uma vertente da Psicologia que está longe de ser aceita por todos os profissionais da área ( cf.: https://bit.ly/43eb7th ) e tida por autores, como o próprio Karl Popper, como pseudociência. Ora, mas mesmo não houvesse esse debate sobre a validade da psicanálise, ainda assim surgiria a questão de que mesmo com o psicanalista ali junto de seu paciente no divã de seu escritório, muitas vezes é difícil de se chegar a um diagnóstico preciso, quanto mais quando se trata de personagens que viveram há quase dois mil anos e que as poucas informações que dispomos deles estão espalhadas entre 27 livros do Novo Testamento!


Então, podemos concluir que a hipótese da alucinação é uma das mais improváveis já propostas: exige até mais fé do que crer na Ressurreição, pois exige que se acredite em uma verdadeira loteria histórica de coincidências.


Por isso cremos que, à luz da Lógica e da História, não resta-nos dúvida de que a Ressureição é a melhor explicação aos fatos que se seguiram à morte de Cristo, pois quem quiser negá-la precisará sustentar uma série de coincidências que seriam praticamente uma "loteria histórica", tais como as alucinações idênticas dos apóstolos, ou a improvável sobrevivência de Jesus à crucificação, ou ainda a menos provável conspiração dos apóstolos.


Vê-se, pois, que Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou dos mortos vencendo a morte e deixando-nos as evidências de sua ressureição como que apontando-as como fez com suas chagas diante do incrédulo Tomé (Jo 20, 19ss). Por isso escolhemos a imagem de Tomé tocando as chagas de Cristo, pois ele simboliza os incrédulos diante das evidências da ressurreição.


Viva Cristo Rei!!!

Ó morte, está vencida

Pelo Senhor da vida

Pelo Senhor da vida


NOTAS


[1] LAUTER, Gabriel Girotto. "A HISTORICIDADE DA RESSURREIÇÃO: UM ESTUDO EXEGÉTICO DE 1 CORÍNTIOS 15.1-11." Revista Batista Pioneira 5.2 (2016).


[2] POPPER, Karl. The Logic of Scientific Discovery. New York: Routledge, 1959.


[3] REALE, Giovanni. O Saber dos Antigos: terapia para os tempos atuais; tradução Silvana Cobucci Leite. – 4. Ed. – São Paulo : Edições Loyola, 2014, p. 50.


[4] CRAIG, William Lane. Em Guarda: defenda a fé cristã com razão e precisão. Tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 217.


[5] WRIGHT, N.T. A Ressureição do Filho de Deus. Tradução: Eliel Vieira.–Santo André (SP): Academia Cristã; São Paulo: Paulus, 2017.


[6] PANNENBERG, Wolfhart. Jesus God and Man. Philadelphia, PA: Westminster Press, 1977, p. 109.


[7] IN: História dos Hebreus. Trad. de Vicente Pedroso. 5 ed. Rio de Janeiro. Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1990.


[8] Anais, XV, 44.


[9] EHRMAN, Bart D. Jesus Existiu ou Não?. Tradução de Anthony Cleaver. 1 ed. Rio de Janeiro: Agir, 2014, p. 50.


[10] CRAIG, Idem, p. 248.


[11] Ibidem, p. 252.


[12] ROPS, Daniel. A Vida Diária nos Tempos de Jesus; Tradução Neyd Siqueira. — 3 ed. rev. — São Paulo : Vida Nova, 2008, p. 148.


[13] CRAIG, William Lane. "The Son Rises Historical Evidence for the Resurrection of Jesus". Sua tese de doutorado que pode ser baixada aqui: https://dokumen.pub/the-son-rises-historical-evidence-for-the-resurrection-of-jesus-1579104649-9781579104641.html.


[14] ____. Em Guarda: defenda a fé cristã com razão e precisão. Tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 252.


[15] ROPS, 2008, p. 148.


[16] IN: Antiguidades, IV, 8. 15.


[17] BARBET, Pierre. A paixão de Cristo segundo o cirurgião. 14 ed. São Paulo: Loyola, 2014.


Bibliografia suplementar:


WRIGHT, N.T. A Ressureição do Filho de Deus. Tradução: Eliel Vieira.–Santo André (SP): Academia Cristã; São Paulo: Paulus, 2017.


POPPER, Karl. The Logic of Scientific Discovery. New York: Routledge, 1959.


LAUTER, Gabriel Girotto. "A HISTORICIDADE DA RESSURREIÇÃO: UM ESTUDO EXEGÉTICO DE 1 CORÍNTIOS 15.1-11." Revista Batista Pioneira 5.2.


PANNENBERG, Wolfhart. Jesus God and Man. Philadelphia, PA: Westminster Press, 1977

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