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  • Wendel J. Silva

Sobre o livro "Glórias de Maria" de Santo Afonso de Ligório


A despeito das muitas edições (estima-se cerca de oitocentas desde sua publicação, em 1750), a obra "Glórias de Maria" não deixa de despertar veneração no coração dos fiéis; e, por outro lado, condenação da parte dos hereges. Dom Afonso de Ligório C.Ss.R., mantém sua voz, ainda hoje, a cantar a Mãe de Cristo, por meio de seus escritos. Conta Fr. Castro C.Ss.R., que padre Afonso, já recurvado pela artrose, às portas da eternidade, emocionou-se ao ouvir a leitura dessa sua doce obra. Com efeito, no breve texto, intento demonstrar àqueles de boa vontade, que tal livro não destoa da fé primitiva, por estar nela embasada, crendo na intercessão do Santo, de modo terno e filial.


A princípio, faz-se mister dizer que a leitura rápida, não meditada ou resumida da obra, não no-la pode apresentar em sua completude. A maior parte das objeções, frutos da má leitura apenas da Advertência e da Introdução, acusando seu autor de "idolatria", ignoram simplesmente partes peremptórias do escrito. Há vários exemplos do oposto. 


Na Parte I, capítulo V, §4, Afonso ensina:

"Confessais também que Maria não é mais que uma pura criatura e que, quanto obtém, tudo recebe de Deus". E continua o Santo: "Não há dúvida, confessamos que Jesus Cristo é o único medianeiro de justiça, porque seus méritos nos obtém a graça da salvação. Mas ajuntamos que Maria é medianeira das graças, e como tal pede por nós em nome de Jesus Cristo [não por ela] e tudo nos alcança pelos méritos dele [sic]" (cf. Ibidem, Idem). 

Não é deusa, portanto, para receber adoração própria de Deus. Mas é Santa, e glória do próprio Deus. Urge perguntar, por quê tantos louvores? E a resposta, mais à frente, a saber: "[...] tudo quanto pudermos dizer em louvor a Maria é pouco em relação ao que merece por sua dignidade de Mãe de Deus". A propósito, título também confessado pelos reformadores. Assim, se se diz que Nossa Senhora é Medianeira, fá-lo de modo subordinado, por ser "doutrina segura" (cf. TANQUEREY. Adolphe. Compêndio de Teologia Ascética e Mística, n. 162). 


Além disso, Afonso expõe alhures que, "é verdade, sentado agora à direita de Deus Pai, no céu, reina Jesus e tem supremo domínio sobre todas as criaturas e também sobre Maria" (cf. Part. I, cap. VI, §1). Na oração que finda o capítulo VII, nosso autor a louva, como "Virgem sacrossanta, entre todas as criaturas a maior e mais sublime"; sem esquecer, entretanto, que Maria Santíssima quer nossa salvação ("desejais a minha salvação"; cf. Part. I, Cap. X, oração), e, por conseguinte, ela não a opera diretamente, uma vez que, como explica Dom Afonso:

"Não que Maria não fosse terrena por natureza, como sonhariam alguns hereges, mas porque ela é celeste pela graça [sic], e excede os anjos do céu em santidade e pureza" (cf. Part. II, Ponto II, §1). Nesse ínterim, "deveis aos pecadores tudo quanto possuís; por causa deles o Verbo de Deus vos elegeu para sua Mãe" (cf. Part. I, VI, II,§3).

Em suma, "não porque Maria tenha mais poder que Jesus Cristo, nosso único Salvador, o qual com seus méritos nos obteve e ainda obtém a salvação [...]" (cf. Part. I, Cap. IV, §3); mas, é a Virgem Santíssima salutar refúgio dos pecadores, por estar intrinsecamente unida ao Verbo, porquanto "Jesus foi fruto de Maria, como disse S. Isabel (Lc I, 42). Quem quer o fruto deve também querer a árvore. Quem, pois, quer a Jesus, deve procurar Maria; e quem acha Maria, certamente acha também Jesus" (cf. Part. I, Cap. V, II, §1).


É que, de tal forma, "a Virgem afastou o pensamento de todas as coisas terrenas, abraçando todas as virtudes; admirável e rápido foi o progresso na perfeição, e assim mereceu tornar-se um digno templo de Deus" (cf. Part. II, Ponto II, §2). Destarte, "vendo-se uma mendiga revestida de custosas vestes, que lhes foram dadas [por Deus], não se envaidece, mas antes se humilha ao contemplá-las diante de seu benfeitor" (cf. Tratado III, §1). No céu, quando Nossa Senhora apresenta-se diante de Deus, continua o Santo:

"[...] de joelhos, a humilde e Santa Virgem adora a magestade divina e abisma-se no conhecimento de seu nada [sic]. Agradece a Deus todas as graças que por mera bondade lhe havia concedido, especialmente de a ter feito Mãe do Verbo Eterno. Imagine e compreenda agora, quem o puder, com que amor a Santíssima Trindade a abençoou!" (cf. Part. II, Tratado I, Parte VIII, Ponto Primeiro, n. 4).

Dessa forma, é indubitavelmente evidente a dignidade gritante de nossa Mãe misericordiosa que, unida ao Filho, como a mais sublime das criaturas, pede por nós a Deus. Ó, Maria, que a todos consolastes, consolai também a mim.




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