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Os Pais da Igreja e o Fogo Purificador

  • Foto do escritor: Islas Porfiro
    Islas Porfiro
  • 19 de set.
  • 35 min de leitura

Tradução do Artigo "The Fathers and the Cleasing Fire" do Pe. Robert Eno para o Irish Theological Quarterly.

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Nos últimos anos, a Doutrina do Purgatório e as práticas devocionais a ela associadas sofreram um eclipse. Alguns católicos têm a vaga sensação de que tanto a Doutrina quanto as Devoções, antes vistas como parte integrante da Fé Católica, foram relegadas a uma posição de marginalidade e estão gradualmente afundando na areia movediça do esquecimento histórico. Esse sentimento, flutuante e disperso como é, tem sua origem no grande silêncio que cerca coisas que antes eram tão proeminentes. O desaparecimento não precisa ser inevitável. Mas a reconstrução Teológica deve começar com o conhecimento dos fundamentos. O que se segue é oferecido na esperança de auxiliar futuros construtores.


I. Considerações Preliminares.


Uma razão para a dificuldade em lidar com as origens da ideia do Purgatório é a complexidade dos fatores contribuintes. Questões como a Ressurreição Geral e a sobrevivência do indivíduo após a morte foram questões que se desenvolveram rapidamente, embora de forma desigual, no judaísmo tardio, no período intertestamentário e na época dos Primórdios do Cristianismo. Não é de se admirar, portanto, que os dados do Novo Testamento que tratam da Escatologia possam ser vistos como confusos e até mesmo conflitantes. Não podemos falar de um processo claro e simples de desenvolvimento unilinear. É compreensível que alguns escritores pós-Bíblicos dos primeiros séculos pudessem se concentrar em uma linha de pensamento bíblica e outros, em linhas diferentes. A proeminência do gênero Apocalíptico nos períodos Intertestamentário e Cristão Primitivo complica ainda mais a questão.

Com a questão dos dados Bíblicos, surge a questão secundária, mas significativa, das Imagens Bíblicas, sobretudo as que envolvem fogo. Os períodos intertestamentário e do cristianismo primitivo também contêm uma riqueza de literatura extracanônica do tipo "Viagens ao Inferno"¹, descrevendo em detalhes sádicos os sofrimentos dos pecadores após a morte. Punições dolorosamente apropriadas ao pecado são a regra e quase sempre concebidas em termos de tortura física. O fogo ocupa um lugar de destaque, mas não exclusivo. Os anjos são frequentemente retratados como os agentes diretos da punição.

Duas passagens particularmente apropriadas para o nosso tema podem ser apresentadas aqui. No "Testamento de Isaac" (5, 21-24), encontra-se o seguinte:

"Então ele me levou a um rio de fogo. Eu o vi pulsando, com suas ondas subindo até cerca de trinta côvados, e seu som era como um trovão estrondoso. Observei muitas almas sendo imersas nele, a uma profundidade de cerca de nove côvados. Choravam e clamavam em alta voz e com grande gemido, aqueles que estavam naquele rio. E aquele rio tinha sabedoria em seu fogo.² Não faria mal aos justos, mas apenas aos pecadores, queimando-os. Queimaria a todos por causa do fedor e da repugnância do odor que os cercava."

E nos "Oráculos Sibilinos":

"... E (Ele) se sentará à direita da Majestade, julgando em seu trono a vida dos piedosos e os caminhos dos ímpios... E então todos passarão pelo rio ardente e pela chama inextinguível; e os justos serão todos salvos, mas os ímpios perecerão por eras inteiras..." (11.243f).

Essas duas obras são datadas de meados do século II d.C. e mostram influências judaicas e Cristãs mistas, manifestando o tipo de ideias que circulavam em seu meio comum.

Influências filosóficas também podem ter estado envolvidas. Por exemplo, a ideia do julgamento dos pecadores é combinada aqui com a noção de uma conflagração geral que põe fim ao mundo.

"... E tereis luz eterna e vida imperecível, quando eu fundir todas as coisas e as separar em ar puro. Enrolarei os céus, abrirei os recessos da terra e então ressuscitarei os mortos..." ("Oráculos Sibilinos", VIII, 410ff).

A ideia estoica da Ekpyrosis (ἐκπύρωσις ["Conflagração"]), a destruição periódica do mundo pelo fogo, envolve um certo aspecto Purificador, a fim de que o mundo tenha uma renovação regular, embora, ao contrário da visão bíblica, seja cíclica. Outra questão diz respeito ao grau de influência de aspectos mais filosóficos da purificação nas visões de Padres como Clemente e Orígenes, que são importantes no início da Tradição do Purgatório.

As Escrituras Canônicas, com seu uso frequente da figura do fogo, pelo menos ofereceram muitas oportunidades (legitimamente usadas ou não) para se ver a sanção divina para os aspectos punitivos ou purificadores do fogo. A mais importante de todas é 1Cor 3,12-15, cuja história exegética foi explorada por Joachim Gnilka.³

"Se alguém sobre este Fundamento constrói um edifício com ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; pois o Dia a manifestará, porque será revelada pelo fogo, e o fogo provará a obra de cada um. Se a obra que alguém construiu sobre o fundamento permanecer, esse receberá recompensa. Se a obra de alguém se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, ele mesmo será salvo, todavia como que através do fogo."

O contexto original é o ataque de Paulo ao faccionalismo coríntio, enfatizando que não pode haver outro fundamento sobre o qual edificar além de Jesus Cristo. Mas então ele prossegue mencionando que os Cristãos podem ter uma variedade de interpretações, boas e más, sobre esse bom fundamento. Muitos Padres aproveitaram este texto como uma oportunidade para falar das boas e más obras dos cristãos e dos respectivos destinos que os aguardam, assim como às suas obras. Note-se que as últimas palavras do texto de Corinto se tornam muito significativas: a pessoa que tem obras más (medíocres?) ainda será salva, embora "quasi per ignem".

Os métodos exegéticos de muitos antigos envolviam pesquisar nas Escrituras outras passagens onde a mesma palavra era usada e então aplicar essas outras à passagem em estudo, mesmo que os contextos das várias passagens não tivessem nenhuma relação, sob o argumento de que Deus era o autor de todas as Escrituras. Outras passagens envolvendo "fogo" foram trazidas para esta questão. A figura do fogo reúne ideias e imagens de Dor, Punição e Purificação. Assim, por exemplo, a Espada de Fogo dos Querubins guardando o Paraíso foi considerada relevante. Para retornar ao Paraíso, você tinha que passar pela espada flamejante (Gn 3,24). Há muitas outras passagens que foram reunidas neste contexto, mas algumas das seguintes são dignas de nota.

"...Quando o Senhor tiver lavado a imundícia das filhas de Sião e purificado as manchas de sangue de Jerusalém do seu meio com um espírito de julgamento e com um espírito de queima (Is 4,4).
"Pois ele é como o fogo do ourives e como o sabão do lavandeiro; Ele se assentará como fundidor e purificador de prata, e purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e prata...” (Ml 3,2b-3).
“Mas, pela mesma palavra, os céus e a terra que agora existem foram guardados para o fogo, sendo guardados para o dia do juízo e da destruição dos homens ímpios” (2Pd 3,7).

Passando da questão dos dados bíblicos para a área mais estritamente sistemática, a hipótese do Purgatório pode ser vista como um aspecto da resposta a uma pergunta que se tornou cada vez mais frequente ao longo dos primeiros séculos. Da preocupação comum com o destino coletivo da humanidade e/ou da Igreja, surgiram novas questões relativas ao destino dos indivíduos. Cristo retornaria e todos se levantariam para encontrá-lo; então viria o julgamento. Mas Paulo já se deparava em 1Tessalonicenses com perguntas sobre o que acontecia com os Cristãos que morriam antes da Parousia.

Em um estudo anterior, indiquei que alguns, como Tertuliano, acreditavam que apenas os mártires entravam imediatamente no Céu. Todos os outros tinham que esperar até a Parousia. Mas as pessoas logo começaram a se perguntar se não haveria algum tipo de recompensa ou punição antecipada: seria correto que o bem e o mal esperassem juntos no mesmo lugar, em algum tipo de Sheol hebraico? A questão se tornava mais premente quanto mais a Parusia era adiada. Para Tertuliano, entre outros, a história de Divas em tortura e Lázaro no seio de Abraão (Lc 16,23-31) tornou-se útil como um indicador de que alguma recompensa e punição antecipadas já estavam de fato ocorrendo. Em geral, a crença generalizada em um estado intermediário com possível punição trouxe à tona outro componente essencial para a visão posterior do purgatório. Recentemente, foi sugerido que a ideia do estado intermediário ajudou a confinar a ideia da ressurreição do corpo com a da Imortalidade da Alma.⁴

É uma tentação inconsciente, ao ler textos Patrísticos, encontrar ou presumir a presença de refinamentos da doutrina posterior. Como sempre, devemos ser cautelosos. O uso do texto de 1Cor 3, por exemplo, parece fornecer a "prova bíblica" perfeita, não para o tipo de Purgatório previsto pela Teologia posterior, mas para um tipo de "universalismo cristão" denunciado por Agostinho no "De Fide et Operibus". Nessa visão, 1Cor 3,15 anunciava que todos os Cristãos, ou pelo menos todos os Cristãos Ortodoxos, seriam salvos pelo menos eventualmente "quasi per ignem", não importando quão más suas vidas tivessem sido. Por que considerar apenas os culpados de peccata levia ou quotidiana como aqueles cujas obras foram queimadas no fogo purificador? Uma outra questão: dado o período ou estado intermediário, é possível que ainda haja alguma fluidez na disposição final dos mortos? Do ponto de vista da Doutrina Católica moderna, dizemos que aqueles que estão no Purgatório têm a certeza de sua Salvação; eles estão simplesmente entre os salvos; eles não podem estar perdidos agora. As Orações dos fiéis podem aliviar seus sofrimentos ou encurtar seu Purgatório. Mas, na visão de alguns na era Patrística, as Orações dos fiéis ainda vivos podem alterar o destino dos mortos? De todos os mortos ou apenas de alguns? Remontando a um período mais Primitivo, pode-se argumentar que nada é definitivo antes da Parousia e do julgamento geral final.


ll. O Fogo Purificador


(a) Os Alexandrinos.

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Em um artigo frequentemente citado de 1902, o estudioso protestante Gustav Anrich chamou Clemente de Alexandria e Orígenes de "fundadores da ideia do Purgatório".⁵ Hoje, mesmo um Teólogo Católico Romano tão conservador quanto o principal estudioso de Orígenes, Henri Crouzel, hesita em chamar Orígenes, em qualquer sentido direto, de fundador da Doutrina do Purgatório como era conhecida na Idade Média Ocidental.⁶ Os fatores que acabamos de enumerar desempenham um papel para os Alexandrinos: o ensinamento sobre uma prova de fogo no final, como encontrado nos Apócrifos, mas também considerações mais oriundas de raízes platônicas.

Utilizando o texto de 1Cor 3 para sua própria teologia, Clemente ensinou que seu Cristão ideal, a quem chamava de Gnóstico, constrói sua superestrutura de ouro e prata sobre o Fundamento da Fé em Cristo (Stromatum Lib. V,4 [PG 9,45]). Clemente também vê o fogo purificador como expiatório, comentando que "os maiores tormentos são atribuídos ao crente" (Ibid. Lib. VI,14 [PG 9,332]). O fogo sábio purifica as almas que passam por ele, em oposição ao fogo "devorador" da punição (Ibid. Lib. VII,6 [PG 9,449]). Na visão de um estudo recente dos ensinamentos de Clemente nessa área, qualquer aspecto expiatório da Purificação após a Morte é muito pequeno e remoto. O caminho para uma "Ressurreição Espiritual" para Clemente começa com o plantio da semente no Batismo com água e continua se desenvolvendo através da Purificação após a morte, que também é um momento interior na superação definitiva da dicotomia corpo-alma.

As obras de Orígenes que chegaram até nós são mais extensas que as de Clemente. Ele tem mais a dizer sobre o assunto em questão, mas, como sempre, é mais difícil de interpretar. Por exemplo, há muito se sustenta que Orígenes era universalista. Se sim, a doutrina da Apocatástase significa, em última análise, que não existe Inferno, mas apenas Purgatório para todos? Para Orígenes, a punição é sempre medicinal, e não vingativa. Presumivelmente, portanto, não há sentido na punição eterna. O fogo purificador, portanto, é importante para ele.

"Mas no 'fogo' e na 'prisão' eles não recebem tanto a 'recompensa de seu erro', mas sim uma ajuda para a purificação dos males de seu erro..." ("Libellus de Oratione" 29 [PG 11,542], neste texto, Orígenes cita Ml 3,2 e Is 4,4).

Segundo Crouzel, Orígenes, em suas obras sobreviventes, comenta 1Cor 3,15 cerca de 38 vezes. Na maioria dessas passagens, o Ouro e a Prata são Boas Obras; a grama e a palha, más ações. Todos devem passar por esta prova final de fogo, até mesmo Pedro e Paulo. Todos chegarão a ela, mas nem todos passarão por ela ilesos como Pedro e Paulo ("Homil. III in Psal. XXXVI.", 1 [PG 12,1337]). Como o Mar Vermelho que destruiu os egípcios, mas salvou os hebreus no Êxodo, o fogo purificador não terá o mesmo efeito sobre todos (ibid.).

Como dissemos anteriormente, as obras da palha e da palha são más ações a serem consumidas pelo fogo. Mas elas não são apenas externas a nós; são parte de nós. E, de fato, o fogo também não é realmente uma entidade externa, seja literal ou figurativamente; é o próprio Deus que nos prova, pois "o Nosso Deus é um fogo consumidor" (Hb 12,29).

"Assim também Ele entra 'como o fogo de uma fornalha' para moldar a natureza racional que foi preenchida com o chumbo do mal e outras substâncias impuras que adulteram a natureza dourada ou prateada da alma, por assim dizer. Nesse sentido também, 'rios de fogo' são considerados diante de Deus, visto que Ele faz desaparecer o mal que permeou toda a alma" ("Contra Celsum Lib. IV", 13 [PG 11,1044]).

Aqueles que construíram "madeira, feno ou palha" devem ser destruídos? Em alguns lugares, Orígenes parece dizer o mesmo:

"O fogo queima, mas não consome completamente aqueles que não têm matéria que precise ser destruída por ele, enquanto queima e consome completamente aqueles que construíram 'madeira, feno ou palha' sobre o edifício... por suas ações, palavras e pensamentos" (Ibid., V, 15 [PG 11,1201-1204]).

Possivelmente contraditória à acusação de universalismo é sua visão de que, se o mal está tão profundamente arraigado a ponto de se tornar uma "segunda natureza", o fogo não pode purificá-lo (Hom. em Lv 8,5), mas outros podem ser purificados. Comentando a visão de Isaías, onde os lábios do Profeta são purificados pelas brasas do altar, Orígenes observa que nós, ao contrário, precisamos de uma purificação total adequada às necessidades de cada indivíduo ("In Leviticum Homilia IX.", 7-8 [PG 12,519]; os versículos citados neste lugar incluem Dn 7,10; Is 50,11; 66,24, bem como o objeto original do Comentário, Lv 16,12).

Todo esse fogo purificador nos machucará, mas é para o nosso bem, assim como as ações dos médicos nos fazem mal, mas são para a nossa eventual restauração da saúde (Hom. in Ez. 8,1).

"... Quanto mais devemos compreender que Deus, Nosso Médico, em Seu Desejo de Lavar os Males de nossas almas, que trouxemos a nós mesmos por meio de uma variedade de pecados e crimes, faz uso de remédios penais de tipo semelhante, até mesmo a imposição de uma punição de fogo àqueles que perderam a saúde de suas almas."("De Principiis", Lib. II,10,6 [PG 11,238]).

Aparentemente, antes de chegar a esse ponto, os seres que deixam a Terra terão que passar um tempo em um estágio intermediário que é retratado por Orígenes, sempre o intelectual, como uma espécie de centro de reeducação ou, como ele mesmo o chama, uma "escola para almas" (ibid. II,11,6 [PG 11,246]).

Orígenes também fala do processo de purificação em termos da espada de fogo do Gênesis e do segundo Batismo, o Batismo de fogo (Mt 3,11).

“Bem-aventurado aquele que é batizado no Espírito Santo e não precisa do Batismo de fogo, e três vezes infeliz aquele que precisa ser batizado no fogo...” (Hom. em Jr 2,3).

Mas Deus, como Fogo, consumirá as obras más, não as pessoas (Hom. em Jr 16,5). O pecador Cristão sofrerá, mas aquele que nunca recebeu o primeiro Batismo não será elegível para o segundo, por mais doloroso que seja.

“Quem, ao deixar esta vida, quiser ir para o Paraíso e precisar de purificação, ele o batiza neste rio... mas aquele que não tiver o selo do Batismo anterior, não o batizará no banho de fogo” (Hom. em Lc 24,2).

Sofrimento ou não, não se pode entrar no Paraíso sem passar por ele.

"Que Ele esteja com você em seu caminho para o Paraíso de Deus, para lhe mostrar como andar no meio dos Querubins e da Espada Flamejante que se volta para todos os lados... Se estes dois guardam o caminho para a árvore da vida, eles o fazem para que ninguém indigno passe por ele e chegue à Árvore da Vida...(Citação do texto de 1 Cor 3 a seguir)" ("Exhortatio ad Martyrium.", 36 [PG 11,609-612]).

b) Os primeiros Latinos.


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Era uma idéia bastante difundida a de que somente os Mártires entrariam no céu sem demora. Tertuliano, em particular, é bastante explícito ao afirmar que todos os outros devem esperar até a ressurreição e o julgamento geral. Tertuliano dá grande importância à parábola de Dives e Lázaro no seio de Abraão.

"Portanto, afirmo que aquela região, o seio de Abraão, embora não no Céu, ainda que não tão profundo quanto o Inferno (inferis), proporcionará, entretanto, refrigério (interim refrigerium)⁸ às almas dos justos, até que a consumação de todas as coisas complete a ressurreição geral com sua plenitude de recompensa" ("Lib. IV Adv. Marcionem.", XXXVI [PL 2,475]).

ou

"... uma espécie de refúgio temporário para as almas dos fiéis, no qual já existe em esboço uma imagem do que está por ser, com a perspectiva de uma espécie de candidatura para um julgamento ou outro" (ibid.)

No contexto da recusa gnóstica em aceitar a necessidade ou mesmo o valor do Martírio, Tertuliano sugeriu sarcasticamente que os gnósticos devem imaginar que o Céu nada mais é do que um carbono da vida terrena – um céu no qual aqueles que se recusaram a se posicionar por Cristo neste mundo serão obrigados a fazê-lo no próximo. O ponto de Tertuliano é que não se pode chegar ao céu sem ser testado (mesmo até a morte), e é precisamente isso que acontece aqui na terra (Scorpiace 10,5). Ao discutir 1Cor 15,51-52 e aqueles que viverão no fim do mundo, Tertuliano reiterou sua insistência de que todos os não mártires devem esperar penes inferos (ou seja, o inferno).

“Pois quem não desejará, ainda nesta vida sem interrupção, uma fuga feliz da morte, embora a transformação que deve ser experimentada em vez dela, para não experimentar o inferno que exigirá o último centavo? Caso contrário, ele terá que adquirir sua mudança após a ressurreição, tendo primeiro experimentado o inferno” (De Resurrectione 42).

O longo tratado de Tertuliano, que defende a corporeidade da alma, também aborda essa questão em vários pontos. Do "descensus ad inferos" de Cristo, Tertuliano declara que "o inferno está abaixo da Terra, e se Jesus pôde passar algum tempo lá, quem somos nós para senti-lo?" ("De Anima" 55,22). Temos escolha?

"Enquanto a terra permanecer, o céu não estará aberto; na verdade, os portões estarão trancados. Quando o mundo tiver passado, os portais do Paraíso serão abertos."

Ao lembrar seus leitores de que Perpétua, em sua visão, viu apenas as almas dos Mártires no Paraíso, Tertuliano também usou a metáfora da espada que guarda a entrada e não permite que ninguém "passe, exceto aqueles que morreram em Cristo e não em Adão" ("De Anima" 55,4).

A questão perene de como ou por que deveria haver punição para os indivíduos antes da restauração do corpo na ressurreição geral não abala as convicções de Tertuliano.

"Todas as almas são transportadas para o Inferno... Lá, elas sofrem punição ou recompensa, de acordo com a história de Dives e Lázaro" ("De Anima" 58,1).

Ele tem certeza de que os pecadores sofrem lá, mas quais pecadores? Em alguns lugares, ele parece estar falando sobre os condenados, os maus, agora definitivamente rejeitados, por exemplo, "É para lá que as almas más são consignadas" (56,8). Ou há um fim para o sofrimento de alguns?

“O juiz poderá então entregá-lo a um anjo de retribuição e ele o lançará na prisão do Inferno, de onde não haverá libertação até que todo pecado tenha sido expiado no período anterior à ressurreição” (33,5)

ou

"... Se entendermos a 'prisão' de que fala o Evangelho como Inferno e o 'último centavo' como o menor defeito que deve ser expiado ali antes da ressurreição, não haverá dúvida de que a alma sofre no Inferno alguma pena retributiva sem negar a ressurreição completa, quando o corpo também pagará ou será pago integralmente” (“De Anima” 58,8) (Referência a Mt 5,25-26).

Embora não esteja totalmente claro, aqueles que são punidos nesse período intermediário parecem ser pecadores graves. Contudo, não é possível equipará-los todos às "almas más", aos condenados, visto que Tertuliano fala da Eucaristia sendo oferecida no aniversário da morte dos fiéis.⁹ Ele fala dessa prática no contexto de desencorajar viúvas a se casarem novamente (Exort. Cast. 11; Mon. 10), ou simplesmente como exemplo de um costume litúrgico não encontrado nas Escrituras ("De Corona" 3,3). Nesses casos, as oblações são claramente declaradas como oferecidas pro mortuis. Assim, retorna a pergunta: por que rezar pelos mortos a menos que algo possa ser feito por eles? Os irrefletidos podem fazê-lo espontaneamente por amor, compaixão e pesar, mas Tertuliano não era irrefletido.

Um texto de Cipriano tem sido continuamente apresentado como prova na longa história dessa controvérsia, a saber, Epístola 55,20, a Antoniano, um bispo que duvida da sensatez de readmitir os lapsi à plena comunhão na Igreja. Cipriano se defendeu da acusação de negligência. Oferecer penitência aos lapsi não enfraquece a determinação dos outros de permanecerem firmes nem induz a um comportamento fraco diante da perseguição.

"Uma coisa é defender o perdão; outra é alcançar a glória. Uma coisa é alguém preso não sair de lá até que 'tenha pago o último centavo'; outra coisa é receber imediatamente a recompensa da Fé e da virtude. Uma coisa é ser purificado e purificado temporariamente pelo fogo, torturado por uma longa tristeza pelos pecados; outra coisa é ter purificado todos os pecados pelo sofrimento. Uma coisa é, finalmente, esperar no dia do julgamento pela sentença do Senhor; outra coisa é ser imediatamente coroado pelo Senhor."

Desde o artigo de Pierre Jay¹⁰ de 1960, a maioria abandonou essa referência ao purgatório. Provavelmente, a referência ao fogo ajudou a persuadir as pessoas nessa direção. Embora não seja uma referência direta, este texto de Cipriano, assim como outros, revela um ponto de vista subjacente conectado a um aspecto do purgatório que passará por um desenvolvimento mais intenso posteriormente, a saber, o aspecto expiatório. Vimos a grande distinção feita por autores Patrísticos a respeito do perdão dos pecados no Batismo e do perdão dos pecados para aqueles já Batizados. Neste último caso, a insistência em sofrer e "pagar até o último centavo" é um fator definitivo e influenciará a ideia do purgatório como um lugar para cuidar da punição temporal devida aos pecados, mesmo aqueles já perdoados.

Alguns outros textos latinos podem ser considerados antes de chegarmos aos principais autores, Ambrósio e Agostinho. Lactâncio, em suas Institutas Divinas (VII, 21), discutiu a questão de como o fogo pode torturar corpos humanos sem destruí-los. Este é o destino dos condenados, diz ele, mas;

“os justos também, quando Deus os julgar, serão julgados por Ele com fogo. Então, aqueles cujos pecados o justificarem, seja por seu peso ou número, serão chamuscados com fogo e queimados. E quando a plenitude de sua justiça e a maturidade de sua virtude forem fervidas e liberadas das impurezas, eles não sentirão o fogo, pois possuem algo de Deus em si que pode, então, repelir e afastar o poder da chama. Tão grande é o poder da inocência que o fogo se esquiva dela sem causar dano, porque recebeu de Deus esse poder de queimar os ímpios e refrescar os justos. Nem se deve pensar que as almas são julgadas imediatamente após a morte. Todos estão detidos em uma custódia comum até que chegue o momento em que o Grande Juiz realizará o exame de méritos.”

Parece que a ideia de algum tipo de fogo purificador era uma ideia difundida e popular entre os Cristãos comuns. Uma das primeiras Carminas de Paulino de Nola (#7; c. 390) afirma:

"(O homem mau será condenado) mas a grande multidão de pecadores não hostis a Deus ressuscitará, não para a Glória, mas para ser submetida ao escrutínio. O homem que deve prestar contas de suas ações e ser aprovado ou condenado de acordo com seus diferentes feitos não pode sentar-se com os Santos... O fogo será o juiz e percorrerá cada ação. Todo ato que a chama não consumir, mas aprovar, receberá recompensa eterna. Aquele que praticou atos que devem ser queimados sofrerá injúria, mas escapará em segurança das chamas; porém, miserável por causa das marcas de seu corpo carbonizado, preservará sua vida sem Glória. Ele foi conquistado pela carne, mas não pervertido na mente (ou seja, não herético); portanto, apesar de negar à lei a fidelidade que lhe era devida por seu envolvimento frequente em muitos pecados, ele jamais será exilado das margens da Salvação, pois preserva a Glória Eterna da Fé."

Este é um texto que de fato dá evidências do "universalismo católico" que mais tarde seria condenado por Agostinho.

O poeta Prudêncio, assim como Paulino, é um exemplo de cristão piedoso, mas teologicamente pouco sofisticado. Ele se refere aqui às chamas do purgatório ou a algum canto menor do Inferno? Seu poema Hamartigenia deve ter feito amplo uso do tipo de apócrifo "Viagens do Inferno". Ele desejava evitar o Inferno, mas confessou sua pecaminosidade "manchado como estou com as manchas da minha conduta" (1,948). Mas ele implorou para não ser entregue a um bando feroz de bandidos que "me mergulharão em cavernas negras, para lá exigirem de mim o último centavo, tudo o que é devido pela minha vida esbanjadora". Há muitas mansões lá, mas ele não pediria um lar na região dos bem-aventurados. Ele ficará satisfeito “se as feições de nenhum ministro do inferno me encontrarem e esta minha alma não for mergulhada nas profundezas das fornalhas e devorada pelas chamas da gananciosa Geena. E que o fogo sinistro me engula no abismo do Averno, pois, para a minha mancha corporal, assim será necessário; mas que pelo menos as chamas sejam suaves e o calor de seu hálito seja suave, que sua fúria se apague e seu ardor moderado. Que outros desfrutem da glória da luz infinita. Quanto a mim, que meu castigo seja leve, meu tormento misericordioso.” Com sua mistura clássica e bíblica, Prudêncio parece estar falando basicamente nos mesmos termos daqueles que falavam da Geena como o Inferno eterno e do "Hades" (Inferi) como o período de espera temporária ou estado intermediário semelhante ao Sheol. No entanto, a descrição de Prudêncio também parece fazer com que seu lugar de "Tormento Misericordioso" pareça permanente.


(c) Padres Gregos posteriores.


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Também no século IV, mas desta vez no Oriente, Cirilo de Jerusalém, pregando ao seu povo, retomou em poucas palavras vários desses temas.

"Segundo a Escritura que acabamos de ler, o Filho do Homem virá ao Pai sobre as nuvens do Céu, deixando um rastro de Fogo que provará os homens. Aqueles cujas Obras são de ouro serão ainda mais esplendorosos; se as ações do homem forem insubstanciais como restolho, ele será queimado como fogo..." ("Catechesis XV. De Secundu Christi Adventu.", 21 [PG 33,900]).

Aqui, mais uma vez, o texto de 1Cor 3 é proeminente, mas o contexto é claramente o fogo do juízo final. Todos devem passar por esse teste, mas você não precisa se preocupar se suas obras forem boas.

Os capadócios não têm muito a dizer sobre este assunto, embora tenham sido influenciados por Orígenes. Tanto para Cirilo quanto para Basílio, o fogo vem no julgamento – um Batismo de fogo – como aludiu em 1Cor 3 ("De Spiritu Sancto" 15, 36). Gregório de Nazianzo também conhece o fogo purificador em relação a 1Cor 3, 15. Escrevendo contra os rigoristas, a quem aconselha que sigam seu próprio caminho, ele comenta:

"talvez nele (isto é, em seu próprio caminho) sejam batizados com fogo, naquele último Batismo, que é mais doloroso e mais longo, que devora a madeira como a erva e consome a palha de todo mal" (Orat. 39, 19).

Este "pyr katharsion" é contrastado com o fogo vingador (Orat. 40,36). Por fim, Gregório de Nissa, que costuma ser o mais abertamente leal às ideias de Orígenes, é também o mais explícito quanto à necessidade de purificação antes de se chegar a Deus. Essa purificação é buscada nesta vida por meio da oração e da busca pela Sabedoria, ou após a Morte, no Fogo Purificador.

“Uma vez que também ele precisa ser libertado por algum remédio das manchas contraídas pelo pecado, por causa delas, o remédio da virtude deve ser aplicado a ele nesta vida presente para curar essas feridas. Mas se permanecer sem cura, foi providenciada sua cura na vida futura” (“Grande Oração Catequética”, 8).

Você deve se tornar um participante da Divindade quando o Fogo Purificador tiver removido as manchas e as tendências ao pecado ("De Mortuis").¹¹


(d) Padres Ocidentais posteriores


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Ambrósio foi diretamente influenciado tanto pelos alexandrinos quanto pelos capadócios. O tema da espada de fogo barrando o caminho para o Paraíso está presente aqui. Como em Orígenes, todos devem passar pela prova, mas os santos não serão feridos nem queimados (Sermão 3,15 no Sl 118). O "Grande Batista" voltará sua espada de fogo contra aquela grande multidão que aguarda às portas do céu. Como no Mar Vermelho, onde os egípcios se afogaram, mas os hebreus foram salvos, alguns passarão pelo fogo relativamente ilesos, mas outros serão apanhados por ele. Ele contrasta ser "queimado" com ser "consumido até a morte", pois há um tipo de fogo que queima os pecados, mas outro que é predestinado para o Diabo e seus anjos (Enarrat. no Sl 36, 26 e Sermo 3,16 no Sl 118). Todos necessitamos de alguma purificação, pois todos nós “tocamos os mortos”, vivendo como vivemos na “região dos mortos” (Sermo 3,12 no Sl 118).

“Todos devem ser provados pelo fogo, quem quer que deseje retornar ao Paraíso... Todos devem passar pelas chamas, até mesmo João, embora fosse Evangelista... Alguns tinham dúvidas sobre sua morte, mas não podemos duvidar de sua passagem pelo fogo, porque ele está no Paraíso e não separado de Cristo... mas a espada de fogo será aplicada muito rapidamente a João, porque nenhuma iniquidade é encontrada naquele a quem a bondade amou. Se havia alguma fraqueza humana nele, o Amor Divino a extinguiu. Aquele que tinha o fogo da caridade aqui não precisa temer a espada de fogo lá... Se nenhuma prata for encontrada em mim, ai de mim! Serei lançado no fogo supremo, para que eu seja completamente queimado como a erva” (Sermo 20,21 no Sl 118).

O fogo é o fogo do julgamento, mas parece prever um julgamento individual.

Outra evidência de que a visão de que teria que haver algum tipo de purificação/punição antes de entrar na Alegria Celestial era difundida e geralmente envolvia 1Co 3,15 também pode ser vista no comentário de Ambrosiastro sobre essa passagem ou no comentário de Jerônimo sobre Isaías 66,24.¹¹ª

Na História Teológica Ocidental, Agostinho está sempre na origem dos futuros desenvolvimentos Teológicos.¹² Ele é frequentemente creditado (como os alexandrinos) como o pai do Purgatório. Na verdade, pode-se argumentar que ele é bastante tradicional e continua com os desenvolvimentos anteriores. As mesmas passagens bíblicas desafiam sua engenhosidade exegética. Nas Confissões (IX,3,6), ele expressou a convicção de que seu falecido amigo Nebrídio estava agora no Seio de Abraão, embora tenha acrescentado: "O que quer que se entenda por 'Seio'". Um pouco mais tarde, em suas Perguntas sobre os Evangelhos (c. 400), ele pareceu mais seguro, mas ainda em linha com a interpretação tradicional. O Seio de Abraão significava "descanso para os pobres abençoados, dos quais o Reino dos Céus é composto" (II,38,1). O grande abismo entre Dives e Lázaro mostrou que Dives e aqueles com ele não poderiam ser ajudados, mesmo que alguém quisesse tentar (II,38,3). Eles permanecerão lá até pagarem o último centavo. Mas, na verdade, o contexto parece ditar "para sempre", não que haverá um prazo para o seu sofrimento. A verdadeira resposta, então, é tentar converter as pessoas nesta vida, enquanto a mudança e o arrependimento ainda são possíveis. Mas ele conclui com outra incerteza: esse sofrimento vem imediatamente após a morte ou no fim do mundo, após a Ressurreição? Isso é "non minima quaestio".

Mais tarde, mas ainda no contexto da questão da natureza da alma após a morte, ele novamente expressou incerteza sobre o "Seio de Abraão". Embora admitindo que a passagem do Evangelho fala claramente de punição para Deus, Agostinho reluta em concluir sobre alguma corporalidade da alma. O contexto da discussão é o Paraíso terrestre em Gênesis ("De Genesi ad Litteram", VIII,5,9). Ao contrário de seus predecessores, Agostinho não estava disposto a atribuir o título de "Inferno" (isto é, "Hades" em oposição a Geena) ao Seio de Abraão. Não havia bons usos para Inferno nas Escrituras, comentou ele (cf. também De Gen XII, 33, 63). Ou existem duas partes de "Inferno"? (Ep. 187, 6; c. 417).

Ele também é tradicional em sua aceitação de orações pelos mortos. Na famosa passagem do Livro IX das Confissões, em que descreve a morte e o sepultamento de sua mãe (IX,13,35-37), expressou alguma preocupação com o destino dela. Ela era uma boa mulher, embora não isenta de defeitos, como ela mesma seria a primeira a admitir. Por isso, ele pediu aos leitores que rezassem por ela e, especialmente, que se lembrassem dela no Altar (ou seja, na oferta da Eucaristia, uma prática já observada por Tertuliano quase dois séculos antes).

Em seu tratado "De Cura pro Mortuis Gerenda" (421), ele discorreu longamente sobre a oração pelos mortos. A pergunta original que evocou essa obra partiu de Paulino de Nola e buscava saber que bem se acumulava para o cristão sepultado na proximidade física de um Mártir ("Depositio ad Sanctos"). Agostinho respondeu que, basicamente, não adiantava nada diretamente, exceto talvez para despertar as orações dos peregrinos vivos pelos mortos sepultados no Santuário. O destino do falecido já havia sido determinado pela vida que ele/ela havia levado neste mundo. Alguns podem ter sido tão bons que não precisavam de Orações; outros, tão maus, que não havia nada a ser feito por eles. Para a grande maioria das pessoas, os medíocres, as Orações podem ajudar.

Voltando a uma questão mais básica, a visão de Agostinho sobre o destino imediato dos indivíduos após a morte também parece mais tradicional – ou seja, ele ensina que existe um estado intermediário em que todos aguardarão a ressurreição, mas no qual, como no caso de Dives e Lázaro, há punição e refrigério prolépticos. Uma passagem inicial em particular (Enarrat. no Sl. 36, Sermo 1, 10) parece ter perturbado os teólogos dogmáticos posteriores. A vida é curta; o Juízo Final pode estar distante, mas o dia da sua morte não.

"Prepara-te para isso; o estado em que partires desta vida será o estado em que entrarás na outra vida. Depois desta curta vida, ainda não alcançarás o futuro estado dos Santos... Ainda não estarás lá: quem não sabe disso? Mas talvez já estejas onde aquele mendigo, outrora cheio de feridas, foi visto repousar ao longe pelo rico orgulhoso e indigno em meio aos seus tormentos.
Seguro nesse repouso, aguardas com plena confiança o Dia do Juízo, no qual receberás também o teu corpo." (a.D. 403).

Uma década depois, essa visão permanecia inalterada ("De Genesi ad Litteram", XII, 32,60). Breves comentários em outros textos do mesmo período poderiam ser entendidos em termos de uma escatologia posterior, mas, na verdade, também deveriam ser inseridos no contexto da crença em um estado intermediário. Tal é, por exemplo, o "Tractatus in Johannem" (49,10), dos anos 416-17:

“... Todas as almas têm, ao deixar este mundo, suas diferentes recepções. Os bons têm alegria; os maus, tormentos. Mas, quando a ressurreição ocorrer, tanto a alegria dos bons será mais plena quanto os tormentos dos maus, mais pesados...” (ver também "De Civitate Dei" XIII, 8, c. d.C. 418).

Por fim, em uma de suas últimas obras, ele reafirmou suas antigas concepções. Mesmo antes da ressurreição geral, as almas são consoladas ou atormentadas "conforme o que fizeram nesta vida" ("De Praedestinatione Sanctorum", XII,24; 428-9 d.C.).

Bem no início de seu ministério clerical, pregando sobre os Salmos, Agostinho expressou visões basicamente tradicionais sobre o texto de 1Cor 3 e as chamas purificadoras. No dia do Julgamento, aqueles que construíram sobre o fundamento de Cristo, mas com capim, feno, etc., serão corrigidos e purificados ("Emendantur", ou seja, "Purgantur"). Sofrerão perdas, mas serão salvos, ainda que como pelo fogo (Enarrat. no Sl 6,3; 392 d.C.). Pessoas Santas construíram com Prata e Ouro sobre o Fundamento que é Cristo. Outros que permanecem Cristãos, que não abandonaram Cristo como seu Fundamento, mas que, no entanto, estão "enredados em assuntos seculares, escravizados por amores humanos de uma espécie ou de outra", constroem em madeira (Enarrat. no Sl 29,9). O fogo da Provação e da aflição (tentatio-tribulatio) testará a obra de todos. Mártires sofreram aqui; eventualmente passarão pelo teste "no fogo". A Moral é: "Nunca permita que este fundamento desapareça do seu Coração."

Poucos anos depois (395 d.C.; Enarrat. no Sl 37,3), ele adotou uma abordagem ligeiramente diferente.

“Alguns homens serão castigados na ira de Deus... Nem todos os que são repreendidos serão reformados; contudo, alguns serão salvos no curso da correção. Isso certamente acontecerá, pois a correção foi especificada nominalmente 'contudo, como pelo fogo'.”

Ciente talvez de que alguns cristãos interpretaram isso como uma brecha para adiar a conversão e a reforma, Agostinho, em uma observação que seria importante para os desenvolvimentos medievais e a infernalização do Purgatório, alertou que esse fogo não deveria ser encarado levianamente.

“... Esse fogo será mais grave do que qualquer coisa que um homem seja capaz de suportar nesta vida... Os males desta vida são muito mais fáceis de suportar... Quanto melhor seria para eles fazerem o que Deus ordena, para evitar sofrer essas penalidades mais pesadas?”

A solução de Agostinho aqui é reformar-se nesta vida em vez de arriscar na próxima.

Tudo isso é bastante tradicional, mas em 413 ele escreveu uma obra significativa: "De Fide et Operibus", na qual rejeitou veemente e claramente uma interpretação do Fogo Purificador e de 1Cor 3,15, que sustentava que todos os Cristãos Ortodoxos seriam salvos – eventualmente – por mais perversas que suas vidas pudessem ter sido. Sua Fé, isto é, sua concordância intelectual com os Artigos de Crença Ortodoxos, garantirá que, embora possam sofrer longa e duramente por seus pecados no fogo purificador, sejam salvos. Em termos simples: nada de Eternidade do Inferno para os Católicos, apenas (na prática!) um Purgatório. A clara rejeição de Agostinho aqui influenciará nossa interpretação do que ele tem a dizer em outra importante obra tardia, o "Enchiridion".

É intrigante a questão de saber se algumas das declarações anteriores de Agostinho (como as das Enarrationes da década de 390) podem ser interpretadas nesse sentido universalista. Se assim fosse, ele agora chegara a uma visão muito diferente. Os "falsamente misericordiosos", como Agostinho os chamava, compreendiam mal a natureza da Fé exigida do Cristão:

"... a Escritura revela muito claramente que a fé de nada serve, a menos que seja aquela Fé descrita pelo Apóstolo como a Fé 'que opera pela Caridade'... a Fé de Cristo, a Fé da Graça Cristã, ou seja, esta Fé que opera pelo amor, quando lançada como fundamento, não permite que ninguém pereça" (- "De Fide et Operibus", XVI, 27).

Cristãos que são "parricidas, mentirosos,... perjuros, etc..." não serão automaticamente salvos pelo fogo na vida futura. Sua única esperança é arrepender-se nesta vida (XVI, 29).

“É óbvio, portanto, que um julgamento de fogo não pode ser prometido a alguém que vive de forma vergonhosa e pecaminosa...” (XXV, 47).

A obra posterior de Agostinho, o "Enchiridion" de 421, repete a condenação expressa em sua obra de oito anos antes (XVIII,67; ver também Ep. 205, 17 do ano 420). Ele desenvolveu uma exegese incomum de 1Cor 3,15 que minimizou a possibilidade de sua interpretação errônea pelos "falsamente misericordiosos". Aqueles nesta vida que cedem à tentação de pecados graves enganam-se a si mesmos se realmente acreditam que, por isso, não abandonaram seu fundamento em Cristo. Por outro lado, aqueles que rejeitaram as tentações, sofreram, "foram queimados" ao perder tudo o que poderiam ter ganho com o pecado: dinheiro, prazer, poder, vingança, ou seja, foram salvos "pelo fogo". Eles preservaram seu Fundamento em Cristo (XVIII, 68).

Ele então faz uma concessão aparentemente relutante.

"Que algo semelhante possa ocorrer após esta vida não é impossível. A questão de saber se tal é o caso é justificada e pode ser solucionada ou permanecer em dúvida: a questão de saber se alguns fiéis são salvos por uma espécie de fogo Purgatorial ("Per ignem quemdam purgatorium"), e isso mais tarde ou mais cedo, conforme amaram mais ou menos os bens que perecem. No entanto, isso não tem nada a ver com aqueles de quem se diz que "não possuirão o Reino de Deus", a menos que, tendo feito penitência correspondente, recebam a remissão de seus crimes" (XVIII, 69).

A partir de uma interpretação tradicional de 1Cor 3,15 anterior em seu ministério Sacerdotal, Agostinho agora, preocupado com uma interpretação "universalista" falsa e perigosa, tornou-se muito mais relutante em reconhecer quaisquer possibilidades de Purificação pós-mortal.

Perto do final deste tratado, Agostinho mencionou novamente sua visão de que, antes da ressurreição geral, existe um estado intermediário envolvendo repouso (refrigerium) ou punição. Ele continuou: (XXIX, 110)

"E não se pode negar que as almas dos mortos obtêm alívio pela piedade de seus amigos vivos, quando recebem o Sacrifício do Mediador oferecido por elas, ou quando esmolas são dadas na Igreja em Seu Nome."

Se não por outra razão, por causa de suas opiniões sobre a importância Dogmática de Costumes Universais e Antigos, Agostinho sentiu-se obrigado a apoiar a prática da oração pelos mortos. Dadas suas opiniões expressas em outros lugares, pode-se perguntar: quais dos mortos obtêm alívio por esses meios? E: alívio de quê? Aqueles que desfrutam do refrigerium no Seio de Abraão não precisam. Aqueles que, de fato, abandonaram seu fundamento em Cristo e levaram vidas perversas após o batismo estão além de tal auxílio. Se tudo isso puder ser legitimamente harmonizado, então deve haver duas classes de pessoas sofrendo no estado intermediário: os condenados e aqueles que, na realidade, são salvos, mas precisam ser punidos por seus pecados menores e purificados pelo fogo.

"E aqueles que de fato recebem tal benefício, recebem-no na forma de uma remissão completa do pecado, ou pelo menos de uma atenuação de sua sentença" (Idem).

Cerca de cinco anos depois, no livro 21, capítulo 26 da "Cidade de Deus" (c. 426), Agostinho renovou sua condenação dos falsamente misericordiosos. Ele apresentou uma interpretação mais elaborada de 1 Coríntios 3, embora a mensagem seja a mesma descrita no Enchiridion. O "fogo" pode ser facilmente compreendido em termos das provações e tribulações desta vida.

“Pois prazeres deste tipo e o tipo terreno de amor, que por causa do vínculo do casamento não incorrem em condenação, serão, no entanto, queimados pelo fogo da tribulação; e o luto e quaisquer outras calamidades que põem fim a tais prazeres estão todos ligados a este 'fogo'. E desta forma a construção trará prejuízo ao construtor, pois ele não manterá o que construiu sobre o fundamento e será atormentado pela perda do prazer que certamente lhe deu prazer. No entanto, ele será salvo 'pelo fogo' em virtude desse fundamento...”.

Parece que é o asceta que, ao contrário, constrói em prata e ouro. O fogo das tribulações desta vida “enriquece um e empobrece o outro; testa ambos, enquanto não condena nenhum”.

Neste último livro da Cidade de Deus, Agostinho manteve a maior reserva demonstrada anteriormente em relação ao fogo purificador após a morte. As almas que construíram em feno e palha experimentam o fogo entre o momento de sua morte e a Ressurreição final?"O fogo pode ser experimentado talvez somente após esta vida, ou tanto nesta vida quanto na outra, ou somente nesta vida e não na outra." A própria experiência da morte ou das tribulações associadas aos últimos dias pode ser parte do sofrimento que nos põe à prova.

Em seus últimos anos, então, a preocupação de Agostinho com os laxistas o levou a dar maior ênfase aos "fogos" desta vida, que testam não apenas o que construímos, mas também se ainda repousamos sobre o fundamento de Cristo. Fogos purificadores após a morte? "Não me preocupo em refutar essa sugestão, porque pode muito bem ser verdade."

Sem entrar em maiores desenvolvimentos, podemos ver na pregação de Cesário, Bispo de Arles (542)¹³, um exemplo típico da situação no final da Antiguidade, com vistas aos desenvolvimentos medievais. Aqueles que são muito perversos vão para o Inferno para o castigo eterno. Mas outros passarão pela corrente de fogo, aparentemente em velocidades variáveis, dependendo de seus pecados (Sermão 167, 6). Este também é um fogo "sábio" ("flamma rationabilis e sapiens poena"). Típico de Cesário é sua afirmação de que tudo isso poderia ter sido evitado pela esmola nesta vida. Aqueles sem pecados passarão ilesos pelas chamas. "Em meio ao fogo ardente que se afasta deles, receberão a prova de seus méritos..." (Sermo 167,7).

A julgar pelo sermão 179 de Cesário, os esforços de Agostinho contra os "falsamente misericordiosos" não tiveram sucesso. Cesário sentiu a necessidade de alertar seu rebanho de que o fogo transitório de 1Coríntios 3 purificava apenas pecados "leves" ("Non capitalia, sed minuta peccata purgantur", Sermo 179, 1). Assim como seu mestre Agostinho, Cesário alertou seu povo para que compensassem seus pecados nesta vida e não subestimassem o sofrimento vindouro, caso não se arrependessem agora. Boas Obras, Obras Corporais de Misericórdia, Esmola, Jejum, frequência à Igreja, "por estas e outras obras semelhantes, as pequenas ofensas são redimidas todos os dias". Caso contrário, "terão de ser torturados por muito tempo naquele fogo de que fala o Apóstolo, para que possam alcançar a vida eterna sem mancha nem ruga" (Sermo 179,4,5,6,8).

No final da Antiguidade, portanto, a imagem do fogo purificador não mudou muito. A crença popular nele, incluindo as esperanças excessivas denunciadas por Agostinho, pode ter se tornado mais forte e amplamente estabelecida. Ainda estamos lidando com chamas purificadoras, cuja duração e intensidade dependem do estado do indivíduo. Esse processo de purificação ocorre no período entre a morte do indivíduo e a Ressurreição geral. Para muitos, é simplesmente uma parte central do Juízo Final. No contexto de um costume universal e de longa data de orar pelos mortos, os únicos seres possíveis que poderiam ser ajudados por tais esforços por parte dos vivos são aqueles que estão na "corrente purificadora de fogo". Com Agostinho, o esforço é claramente feito para restringir os beneficiários àqueles que não são pecadores graves e impenitentes. Exatamente como eles são ajudados é menos claro.


Considerações Finais


Espero que estas páginas sejam suficientes para demonstrar que o período patrístico refletiu bastante sobre a questão de um estado intermediário entre a morte do indivíduo e a disposição final da Eternidade. A inevitável "libido sciendi", embora os dados fossem tão escassos, foi conduzida em uma direção e não em outra pela suposta relevância de certos textos bíblicos. A reação de Agostinho às visões dos "falsamente misericordiosos" reduziu consideravelmente o número daqueles que poderiam ser afetados pelo fogo purificador. O breve período da vida humana seria o tempo em que as ações de um ser humano determinariam seu destino eterno. O fogo purificador, seja nesta vida ou em alguma possível experiência pós-morte, simplesmente acrescentou os toques finais ao que já havia sido essencial e irreversivelmente determinado. As visões de Agostinho foram, em grande parte, responsáveis ​​por moldar as direções futuras dos desenvolvimentos teológicos ocidentais nessa área. Mas, como tantos estudos têm demonstrado, o que os teólogos pensam pode ser bem diferente do que os pregadores pregam e, mais uma vez, desanimadoramente distinto do que a maioria dos cristãos ouve. Mesmo que ouçam, até que ponto suas visões profundamente instintivas são realmente afetadas pelas produções mais cerebrais da Comunidade Teológica?

Perspectivas populares entre alguns cristãos hoje podem se aproximar vagamente das concepções agostinianas, postulando um processo post-mortem de purificação e aperfeiçoamento. Essa tendência, no entanto, dá muito menos ênfase, se é que dá alguma, ao aspecto punitivo. Mas há um sentimento ainda mais vago e difundido no exterior que é análogo às visões dos "falsamente misericordiosos" do século V. Esta é uma visão essencialmente universalista que culminaria simplesmente na rejeição da maior parte do desenvolvimento histórico anterior. Será que tal visão popular é simplesmente sentimentalismo simplista e a recusa em encarar as consequências da maldade humana? Ou será uma compreensão mais profunda e instintiva da plena realidade da Misericórdia e do Amor Divinos, em oposição ao raciocínio humano sobre as exigências da Justiça Divina? De uma forma ou de outra, Orígenes pode ser visto como um triunfo sobre o desenvolvimento de longa data que o havia rejeitado.

Dentro de um contexto teológico mais restrito, os reformadores e seus descendentes rejeitaram o desenvolvimento medieval do Purgatório e a explicação para ele baseada na distinção entre Pecado e o Castigo ainda devido ao Pecado, mesmo quando Perdoado. A severa vingança expressa pelos primeiros Cristãos em relação ao pecado pós-batismal é rejeitada na visão luterana, que sustenta que, embora permaneçamos sempre totalmente pecadores, a Justiça de Cristo nos cobre, de modo que somos totalmente justos ao mesmo tempo. Por que, então, criar teorias desnecessárias sobre o castigo temporal quando nossos pecados já foram cobertos? Os Desenvolvimentos Cristãos Primitivos em sentido contrário seriam simplesmente mais uma evidência do afastamento do ensino de Paulo sobre a Justificação pela Graça mediante a Fé.

(Se) os católicos deveriam reexaminar o caminho anterior que levou ao dúbio desenvolvimento da prática medieval, por outro lado, podem os protestantes rejeitar tão levianamente as evidências Cristãs Primitivas e as preocupações que motivaram tais desenvolvimentos? Isso pode ser visto como parte de sua problemática não resolvida de por que a visão paulina, concebida de forma um tanto seletiva, certamente, poderia ter sido, sob essa perspectiva, tão completamente mal interpretada e ignorada tão rapidamente, se realmente fosse tão central e básica? No mínimo, as primeiras especulações sobre o "fogo purificador" deveriam levar todos nós a nos perguntarmos sobre o que significa participar dos sofrimentos de Cristo (cf. Cl 1,24), seja isso visto como expiação ou como parte essencial do glorioso processo de nossa conformação final a Cristo.


APÊNDICE


Os estudiosos da história da Penitência não podem deixar de notar a diferença significativa com que os Padres encaravam a relativa facilidade do perdão dos pecados no Batismo e o perdão único dos pecados dos cristãos batizados na Penitência canônica. Uma atitude muito mais intransigente, menos indulgente e compreensiva, e até mesmo mais vingativa, é vista neste último caso. Daí a exigência de uma longa, difícil e dolorosa satisfação por esses pecados. Um fator adicional era a noção, frequentemente expressa, de que o cristão tinha a obrigação de sofrer. O Mártir imitava a Cristo ao máximo ao sofrer e morrer; que verdadeiro cristão poderia se recusar a sofrer de maneiras menos graves?

O sistema penitencial da Igreja antiga logo entrou em estado de quase colapso. Cada vez mais pessoas simplesmente adiam a penitência até o leito de morte. Estudiosos argumentam que a ideia do purgatório como o “local” para satisfazer a punição temporal devido aos pecados teria surgido desse impasse.

Em um artigo, Ntedika* chama a atenção para uma visão relatada na História Eclesiástica de Beda, que ilustra esse desenvolvimento. Aqueles que não fizeram a penitência que deveriam ter feito por terem morrido simplesmente retomam de onde pararam na próxima vida (a "Paenitentia Plena et Iusta" mencionada por Cipriano em Ep. 55, 18). No livro 5,12 de sua história, Beda relata a jornada visionária de Dryhtheim pelo mundo inferior. Havia dois grupos de pessoas no estado intermediário; alguns estavam bastante alegres, mas seu guia advertiu: "Este não é o Reino dos Céus como vocês imaginam". Mas também havia muitos que estavam sendo torturados. "Este não é o Inferno como vocês pensam". O último grupo estava “no lugar em que devem ser julgadas e castigadas aquelas almas que demoraram a confessar e a fazer a restituição pelos pecados que cometeram até estarem à beira da morte... Mas porque se arrependeram e confessaram... todos eles virão ao reino dos céus no dia do julgamento; e as orações daqueles que ainda estão vivos, suas esmolas e jejuns e especialmente a Celebração de Missas ajudam muitos deles a se libertarem antes mesmo do dia do julgamento”. Em outras palavras, você tem que pagar pelos seus pecados; se não o fizer nesta vida, deverá fazê-lo na próxima. Portanto, é contraproducente adiar a penitência. Embora seja discutível que a extensão do sistema penitencial para a próxima vida seja ilegítima e basicamente uma obra da imaginação religiosa, também é claramente o produto do mesmo tipo de mentalidade que instituiu o sistema original da Penitência Canônica.


- Pe. Robert Bryan Eno, "The Fathers and the Cleasing Fire.", Irish Theological Quarterly, Volume 53, 1987, No. 3, páginas 184-201.


NOTAS

[1]. Martha Himmelfarb, "Tours of Hell. An Apocalyptic form in Jewish and Christian Literature." (Philadeiphia: Fortress Press, 1985). Primeiro publicado pela University of Pennsyivania Press em 1983.


[2]. Textos tirados de J. H. Charlesworth, "The Old Testament Pseudepigrapha" Volume 1. Apocalyptic literature and testaments.

“Testament of Isaac” W. F. Sunespring.

“Sibylline Oracles”, J. J. Collins. For pre-Christian and non-biblical data, see C. M. Edsman, "Le Baptême de Feu" (Uppsala: Lundesquist, 1940); W. C. van Unnik, “The 'Wise Fire' in a Gnostic eschatological Vision" (in) Jungmann e Granfield, edd. Kyriakon (Festschrift Quasten) Volume 1, pp. 277-88. (Munster: Aschendorfl, 1970).


[3]. Joachim Gnilka, "Ist 1 Kor 3,10-15 ein Schriftzeugnis fur das Fegfeuer?" Eine exegetischhistorische Untersuchung. (Düsseldorf: Michael Inltsch, 1955).


[4]. Joanne McWilliam Dewart, "Death and Resurrection" (Message of the Fathers Series, vol. 22) p. 24 com referência a Paul Hoffmann, “Auferstchung der Toten: Neus Testament" TRE IV, 445 (1979). (Wilmington: Michael Glazier, 1986).


[5]. Gustav Anrich "Clemens und Origenes als Begrunder der Lehre vom Fegfeuer", Theologische Abhandlungen. Eine Festgabe zum 17 mai 1902 fur H. J. Holtzmann. pp. 97-120. (Tubingen: Mohr [Siebeck], 1902).


[6]. Henri Crouzel, "L'Exégese origenienne de 1Cor 3,11-5 et la Purification eschatologique" (em) "Epektasis. Mélanges Patristiques offerts au Cardinal Jean Danielou." Edd. J. Fontaine et Ch. Kannengiesser. (Paris: Bauchesne, 1972) 273-283. Crouzel escreveu vários outros artigos sobre a Escatologia de Orígenes, que deverão ser publicados em um volume da Bottega d'Erasmo de Turim. Há também a tese de doutorado inédita de Lawrence Hennessey, da C.U.A.: "Expressions of Death and Immortality in Homer, Plato and Origen of Alexandria." (1982).


[7]. Klaus Schmole, "Läuterung nach dem Tode und Pneumatische Auferstehung bei Klemens von Alexandrien" (Munstensche Beitrage zur Theologie 38) (Munster: Aschendorff, 1974) pp. 139, 141.


[8]. Hence the title of Alfred Stuiber's noted study. "Refrigerium Interim. Dei Vorstellungen vom Zwischenzustand und die frühchristliche Grabeskunst." (Theophancia Bd. 11) (Bonn: Peter Hanstein, 1957).


[9]. Emil Freistedt, "Altchristliche Totengedächtnistage und ikre Bezichung zum Jenseitsglauben und Totenkuitus der Antike." (Liturgie-wssenchaftiche Quellken und Forschungen, Heft 24) (Munster: Aschendorff, 1928; rp 1971).


[10]. Pierre Jay, “Saint Cyprien et la Doctrine du Purgatoire”, "Recherches de Théologie Ancienne et Médiévale", 27 (1960) 133-36.


[11]. Monique Alexandre, “L'interprétation de Luc 16, 19-31, chez Gregoire de Nysse”, Epektasis, pp. 425-441.


[11a]. Jerônimo, entre todos os homens, também deveria ser contado entre os “falsamente misericordiosos"? Veja John O'Connell, "The Eschatology af Saint Jerome" (Mundelein, Ill.: Saint Mary's of the Lake Seminary, 1948) (Dissertationes ad lauream 16) pp. 156-76.


[12]. O estudo recente mais notável dos pontos de vista de Agostinho é: Joseph Ntedika, "L'evolution de la Doctrine du Purgatoire chez Saint Augustin" (Publications de Iuniversité Lovanium de Léopoldville 20) (Paris: Etudes Augustiniennes, 1966). Também relevante e digno de nota é o estudo mais longo de Ntedika: "L'Évocation de I'Au-dela dans la Prière pour les Morts. Etude de Patristique et de Liturgie Latines." (IVe-VIIIe s.) (Louvain: Nauwelaerts, 1971). Há também um breve estudo recente de Robert Attwell, “Aspects in St. Augustine of Hippo's Thought and Spirituality concerning the state of the faithful departed" (em) David Loades, ed. "The End of Strife", pp. 3-13 (Edimburgo: T. & T. Clarke, 1984). Pierre Jay acredita que Ntedika vê muita evolução no pensamento de Agostinho sobre o assunto. Para Jay, os fogos sempre permanecem os fogos do juízo final. "Saint Augustin et la Doctrine du Purgatoire", RThAMed 36 (1969) 17-30.

 
 
 

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