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  • Dionísio Queiroz

Respondendo às acusações de machismo contra Santo Tomás

Nesta publicação do Instagram [aqui] o dono da página arminiosincero, de forma verdadeiramente vergonhosa, dignas dalguém de ignorância imperdoável, reúne supostas evidências dentro da Suma Teológica que parecem provar o machismo, pedofilia e outras supostas crenças deste magníssimo autor. Eu, por minha vez, com a ajuda do Senhor, o refutei, mostrando sua falcatrua.



Dou honras e graças a Vós Deus, nosso Senhor, que sois verdade com amor, e ofereço meu próprio eu nessa resposta, para que já não seja eu, mas a Verdade amorosa e o Amor verdadeiro que toque o coração deste ignorante, que distorce os Vossos santos, Senhor. 


Este homem aqui distorce absolutamente os dizeres do Santo Doutor Angélico. Primeiro, quando ele cita o texto "a mulher tem naturalmente menor virtude e dignidade que o homem", no caso, essa é justamente uma das teses atacadas pelo nosso Doutor Universal. Ele procede com a metodologia escolástica, primeiro postulando o que vai refutar, e depois a refutação, diferente dos textos acadêmicos hodiernos, onde há o processo inverso. Segundo, quando ele cita "na sua natureza particular, a fêmeia é um ser deficiente e falho", aqui ele esconde, não de propósito, mas por ignorância culpável, que o santo doutor faz uma distinção entre a natureza universal e a natureza particular. A natureza particular de algo é a coisa considerada em sua essência abstrata, e a particular, segundo o ser individual que tem na natureza das coisas. Segundo a natureza universal, diz Santo Tomás, imediatamente depois da citação do nosso amigo: "Mas, por comparação com a natureza universal, a fêmea não é um ser falho, pois está destinada, por intenção da natureza, à obra da geração. Ora, a intenção da natureza universal depende de Deus, universal autor da mesma. Por isso na instituição desta produziu não só o macho mas também a fêmea." No caso, Santo Tomás apenas faz citar a opinião biológica da época, de que o sêmen estaria originalmente destinado para a produção do homem, mas gera a mulher por indisposição de suas forças -- "imperfeição" aqui não se refere a virtudes ou santidade, mas, conforme o vocabulário filosófico, que a coisa não alcançou aquilo ao qual originalmente se destinara. 


De fato, Santo Tomás tem uma bela opinião das mulheres: "Era conveniente que a mulher fosse formada da costela do homem | para significar que deve haver união entre o homem e a mulher. Pois, nem esta deve dominar aquele e, por isso, não foi formada da cabeça; nem deve ser desprezada pelo homem, numa como sujeição servil, por isso não foi formada dos pés." Assim, Santo Tomás mostra que o homem deve respeitar a mulher, não desprezá-la, mas se unir com ela como a sua parceira, e sendo formada não dos pés, nem da cabeça, mas do meio, por isso, é-lhe igual em dignidade. Vê-se que Santo Tomás não despreza as mulheres ou as trata como inferior, mas tão só afirma, conforme a opinião da biologia da época, que, na ordem particular (não na ordem universal), a mulher é gerada pela indisposição do semen, originalmente destinado para a produção do homem. -- De fato, no artigo em que discute sobre o uxoricídio, defende que o marido não pode em hipótese alguma matar sua mulher pega em adultério, para o qual utiliza esse princípio: "o marido e a mulher estão em pé de igualdade".


Terceiro, ele afirma que Santo Tomás compara mulheres a crianças e dementes, razão pela qual seria lícito recusar o seu testemunho num tribunal: "e isto ou por falta de razão, como as crianças, os dementes e as mulheres". É, no entanto, claro que Santo Tomás não afirma que as mulheres carecem de razão, porque participam da natureza humana da qual é essencial, como afirma Santo Tomás, que seja racional. Santo Tomás é apenas levado pela crença da época de que as mulheres eram naturalmente menos inteligentes que os homens (opinião citada já desde Agostinho) em virtude de serem mais emocionais. Mas é certo, para quem deseja tratar esse assunto com humildade, que afirmar que Santo Tomás por isso era machista ou desprezava as mulheres, é incorrer num anacronismo, como se naquela época tal não fosse a opinião corrente dos filósofos, biólogos, cientistas e médicos, como ocorre hoje. Santo Tomás não estava a seguir um suposto desprezo natural seu, mas sim a opinião mais comum, como aliás faz sempre em assuntos de ciência natural. Afirmar que Santo Tomás era péssimo filósofo por aceitar opiniões próprias de sua época é desonestidade intelectual. 


Quarto, aqui vemos novamente outra distorção da parte desta página. Santo Tomás não afirma que o sexo torna as pessoas mais burras, mas que na hora do orgasmo a intensidade do prazer impede o uso perfeito da razão, o que afirma com base em Aristóteles, que tinha esposa e filhos, e ainda assim era tido por Santo Tomás como o maior de todos os filósofos. 


Quinto, e aqui o mais grave, acusando o santo de pedofilia, destacando que Santo Tomás afirma que a idade mínima do matrimônio é, no mais das vezes, quatorze anos para os homens e doze para as mulheres. Não é de se admirar que um homem naquela época tenha dito isso, especialmente porque nas famílias as filhas eram dadas o mais cedo possível para o casamento desde a época da Israel antiga. Todo o honesto que contemplar esse texto entenderá isso. Pressuponho a humildade do leitor, coisa que infelizmente não posso esperar deste que atacou o Santo Doutor Angélico -- não é a este que eu escrevo, mas a vós que me ledes. Ele destaca também que Santo Tomás afirma que o jovem o poderá contrair casamento válido ainda mais cedo se o vigor físico e da razão compensarem a falta de idade. Para esclarecer isso, digo, primeiro que neste artigo Santo Tomás está justamente lutando contra os que afirmam contra a idade mínima do casamento (estes que deveriam ser tidos como pedófilos): "Por isso, pelo direito, tanto civil como canônico, foi proibido contrair casamento antes da idade de discernimento, quando cada uma das partes é capaz de deliberar suficientemente sobre ele e sobre o dever que deve um cumprir para com o outro. E se assim não for, o casamento será nulo"; em segundo lugar, que se case antes dos doze anos é reputado apenas como uma exceção, quando a pessoa tiver as mesmas qualidades de quem tem doze, e a exceção não pode demolir a regra, por isso Santo Tomás não lutava contra a idade mínima de casamento, mas a afirmava, e dizia que se casar mais cedo que a lei permitia não é para o abolimento da lei, mas mera exceção, que não se deve estender a todo caso.


Sexto, ele afirma que Santo Tomás defendia que o marido poderia castigar uma esposa. No caso, tal citação se refere a um artigo onde Santo Tomás, discutindo sobre se o marido, apanhando a esposa em adultério, poderia matá-la, defende que o marido não pode matar a esposa de forma alguma, mas infligir-lhe um castigo. Aqui se vê que Santo Tomás não defende que o marido poderia, a bem querer, castigar sua esposa, mas quando apanhada em adultério -- e de fato, castigo pode ser muito além de agressão física ou verbal, como, naquela época, o marido poderia entregar a esposa a julgamento para que recebesse sua pena.


Sétimo, Santo Tomás é acusado de fender a poligamia, porque defende que seja natural que um homem tenha várias mulhers, mas não que uma mulher tenha vários homens. Ocorre, porém, que Santo Tomás defende justamente o oposto: que um homem tenha várias mulheres (e vice-versa) são pecado mortal, não mais admissível como o era no tempo de Abraão. Ocorre, porém, que há duas formas de pecado: o pecado contra a razão, e o pecado contra a natureza. O pecado contra a razão é todo aquele que atenta contra a subordinação do corpo à alma, e o pecado contra a natureza, que atenta contra a ordem do mundo. No caso, o que Santo Tomás afirma é que um homem ter várias mulheres não constitui pecado contra a natureza, mas tão só pecado contra a razão, porque na ordem natural um homem pode engravidar várias mulheres, e não o oposto, pelo que a poligamia feminina constitui pecado contra a natureza, não pecado contra a razão. 


O sétimo afirma que Santo Tomás tinha um preconceito com a fêmea, porque dizia que as fêmeas não eram oferecidas em holocaustos por serem animais imperfeitos. Já expliquei acima, com a graça de Deus, em que sentido Santo Tomás utiliza de "imperfeito", como não sendo aquilo que era originalmente visado pela força ativa gerativa.


Santo Tomás tinha elevadíssimo respeito pelas mulheres. Não as tratava como objetos, fazendo voto de virgindade; não as tratava com desprezo, pois a todos ensinava e amava. E pelo contrário, a santa de devoção de Santo Tomás era uma mulher, Santa Bárbara, a quem recorria nas chuvas e tempestades, dos quais tinha profundo medo, pois quando criança, sua irmã (mulher) foi morta pelo ataque de um raio, causando no jovem Tomás um trauma profundo. No medo, era a uma mulher que recorria. 


Não queiramos nós entrar na investigação da opinião dos reformadores acerca das mulheres. Penso que vós não ficareis felizes com o que vireis, pois entendereis que o mundo medieval não tem o mesmo pensamento do mundo moderno.


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