Lucas Banzoli vs. JND Kelly sobre a Teologia Eucarística de Tertuliano
- Dave Armstrong
- 21 de mai.
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- Dave Armstrong
Lucas Banzoli é um polemista anticatólico brasileiro muito ativo, que defende basicamente uma teologia adventista do sétimo dia, segundo a qual não existe alma consciente fora do corpo, nem inferno (trata-se do sono da alma e aniquilacionismo). Isso o leva a uma cristologia deficiente e heterodoxa com respeito à natureza humana de Cristo após Sua morte. Ele possui mestrado em teologia, graduação e pós-graduação em história, licenciatura em letras, é professor de história, autor de 25 livros e dono de ao todo seis blogs (agora inativo). Ele está ativo no YouTube.
Esta é a minha 26ª refutação de artigos escritos por Lucas Banzoli. Até o momento, não recebi uma única palavra em resposta a nenhum deles (ou, se Banzoli respondeu a alguma coisa, em qualquer lugar, certamente não me informou). Os leitores podem decidir por si mesmos o porquê. Suas palavras estarão em vermelho vinho. Uso RSV para as passagens bíblicas, a menos que indicado de outra forma. Estou respondendo a um trecho do artigo de Lucas, “Os Pais da Igreja e a Transubstanciação – Parte 1” [Os Pais da Igreja e a Transubstanciação (Parte 1)] (22-8-12).
Se a substância e natureza do pão se transformassem literalmente no corpo de Cristo, então este estaria presente de forma física em um pedaço de pão(!), o que é claramente sem fundamento. Foi por isso que os Pais da Igreja entenderam as declarações de Cristo, de que o pão era o seu corpo e o vinho era o seu sangue, de maneira figurada, e não literal. Como disse Tertuliano (160 – 220): [cita Contra Marcião, III, 19]
Tertuliano afirmou que Deus chamou de “pão o seu corpo”, e em seguida não sugeriu que o pão é literalmente o corpo de Cristo em sentido físico e material, mas sim que aquilo estava em sentido figurado, como ele diz logo em seguida: “...para que entendas que deu a figura de pão ao seu corpo”. Se era uma figura, então o pão era figurativamente o corpo de Cristo, e não literalmente.
Em outra ocasião, Tertuliano reiterou que o pão ser um corpo era uma "figura", e não algo que devesse ser entendido literalmente: [cita Contra Marcião, IV, 40]
Em outras palavras, o pão ser o corpo de Cristo era "uma figuração", e Cristo figurou o corpo no pão, e não tornou-o literalmente o próprio corpo!
Certo; devidamente anotado. Lucas jogou o habitual jogo polemista anticatólico protestante de citar alguns trechos fora de contexto, com a interpretação "desejada", tentando desesperadamente, de alguma forma, magicamente transformar um Padre da Igreja Católica em um protoprotestante. Agora vejamos o que os atuais estudiosos da patrística (protestantes, não católicos) pensam sobre a teologia eucarística de Tertuliano.
O estudioso anglicano JND Kelly:
No Ocidente, a equação dos elementos consagrados com o corpo e o sangue era bastante direta... Tertuliano descreve regularmente [Eg de orat . 19; de idol . 7] o pão como 'o corpo do Senhor'. O pagão convertido, ele observa, [De pud . 9] 'se alimenta da riqueza do corpo do Senhor, isto é, da eucaristia'. O realismo de sua teologia vem à luz no argumento, [ De res. carn. 8]... de que... na eucaristia 'a carne se alimenta do corpo e do sangue de Cristo para que a alma possa ser preenchida com Deus'. (Early Christian Doctrines, San Francisco: Harper & Row, edição de 1978, pp. 210-211)
Ocasionalmente, esses escritores usam uma linguagem que foi considerada como uma implicação de que, apesar de todo o seu tom realista, o uso feito por eles das palavras 'corpo' e 'sangue' pode, afinal, ser meramente simbólico. Tertuliano, por exemplo, refere-se [Eg C. Marc. 3, 19; 4, 40] ao pão como 'uma figura' (figura) do corpo de Cristo, e uma vez fala [Ibid I, 14: cf. Hipólito, Trad. Apost. 32, 3] do 'pão pelo qual Ele representa (repraesentat) Seu próprio corpo'. No entanto, devemos ser cautelosos ao interpretar tais expressões de uma forma moderna. De acordo com os antigos modos de pensamento, uma relação misteriosa existia entre a coisa simbolizada e seu símbolo, figura ou tipo; o símbolo, em algum sentido, era a coisa simbolizada. Novamente, o verbo repraesentare, no vocabulário de Tertuliano [Cf. ibid 4, 22; de monog . 10], manteve seu significado original de "tornar presente". Tudo o que sua linguagem realmente sugere é que, embora aceite a equação dos elementos com o corpo e o sangue, ele permanece consciente da distinção sacramental entre eles. De fato, ele está tentando, com o auxílio do conceito de figura, racionalizar para si mesmo a aparente contradição entre (a) o dogma de que os elementos são agora o corpo e o sangue de Cristo, e (b) o fato empírico de que, para os senidos, eles permanecem pão e vinho. (Ibid p. 212)
Tertuliano define [De virg. vel. 9] a função sacerdotal como de 'oferta' (offerre); a 'oferta do sacrifício' [De cult. feminino. 2, 11]... (Ibid pág. 214)
A palavra que ele [Santo Ambrósio] emprega (transfiguratur), como Tertuliano havia apontado [C. Prax. 27, 7] muito antes, conota a mudança real de algo do que era anteriormente para um novo modo de ser. (Ibid p. 446)
Durante este período, como poderíamos esperar, a eucaristia era considerada, sem dúvida, o sacrifício cristão. (Ibid p. 449)
Philip Schaff observou em sua obra História da Igreja Cristã, Vol. 2 (§ 69. A Doutrina da Eucaristia):
Tertuliano não deve ser entendido como alguém que ensina uma presença meramente simbólica de Cristo; pois em outros lugares ele fala, de acordo com sua abordagem realista geral, numa linguagem quase materialista, de ingestão do corpo de Cristo, e estende a participação até mesmo ao corpo do receptor.
[Nota de rodapé: De Resur. Carnis, c. 8. “Caro corpore et sanguine Christi vescitur, ut et anima de Deo saginetur.” De Pudico. c. 9, ele remete o bezerro cevado, na parábola do filho pródigo, à Ceia do Senhor, e diz: “Opimitate Dominici corporis vescitur, eucharistia scilicet”. De Orat. c. 6: “Quod et corpus Christi in pane censetur”, que provavelmente deveria ser traduzido: deve ser entendido como o pão (não contido no pão).]
Resumo: O apologista protestante brasileiro Lucas Banzoli tenta argumentar que Tertuliano acreditava em uma Eucaristia simbólica. O estudioso patrístico anglicano JND Kelly discorda totalmente.
Tradução de Kertelen Ribeiro
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