top of page

Da oração mental: Definição, Necessidade e Método

Francisco Neto

DA ORAÇÃO EM GERAL:


Antes de adentrarmos propriamente no estudo da meditação, creio que seja salutar discorrer, ainda que brevemente, sobre a oração em geral: Definição e importância.

Oração possui diversas definições, mas fiquemos com esta: a oração é a elevação da mente a Deus para louvá-Lo e pedir-lhe coisas convenientes para a eterna salvação.


É a elevação da mente a Deus, pois é um ato da razão que possui ao Divino Criador como alvo, porque a Ele se dirige e n’Ele deve ser feito; é para louvá-lo e pedir-lhe porque são finalidade do ato de rezar, reconhecer e exaltar a Deus por Ele mesmo ou pelas Suas obras, ou para suplicar-Lhe por nossas necessidades materiais e espirituais, como a saúde e a perseverança final em Seu amor, sabendo que a promessa  "Pedi e recebereis" (Mt 7,7) é referente somente às realidades da saúde espiritual e de nossa salvação, e não aos bens temporais, porque esses bens Deus, em Sua  Providência, pode querer não conceder aos que Lho pedem, pois podem servir para a perdição daquela alma. A oração é necessária de preceito e de meio. Assim expõe Royo Marín:


É coisa clara que há preceito divino, natural e eclesiástico. A. Divino: consta expressa e repetidamente na Sagrada Escritura: "Vigiai e orai" (Mt 26,41). "É preciso orar em todo tempo e não desfalecer" (Lc 18,1). "Pedi e recebereis" (Mt 7,7). "Orai sem cessar" (1 Ts 5,17). "Permanecei vigilantes na oração" (Cl 4,2), etc. B. Natural: o homem está cheio de necessidades e misérias, algumas das quais somente Deus pode remediar. Logo, a simples razão natural nos dita e impera a necessidade da oração. De fato, em todas as religiões do mundo há ritos e orações. C. Eclesiástico: a Igreja manda aos fiéis recitar certas orações na administração dos sacramentos, em união com o sacerdote na santa missa, etc., e impõe aos sacerdotes e religiosos de votos solenes a obrigação, sob pecado grave, de rezar o breviário, em nome dela, pela saúde de todo o povo. (ROYO-MARÍN. Teologia da Perfeição Cristã. Quarta parte; A vida de oração)

O autor ainda expõe algumas situações concretas em que esse preceito obriga, como em tentações muito fortes, o cumprimento da penitência sacramental, em perigo de morte e outras...

De meio:


É doutrina comum e absolutamente certa na Teologia. Há muitos testemunhos dos Santos Padres, entre os que destaca um texto famosíssimo de Santo Agostinho, que foi recolhido e completado pelo Concílio de Trento: "Deus não manda o impossível; e ao mandar uma coisa, nos avisa que façamos o que podemos e peçamos o que não podemos e nos ajuda para que possamos". Sobretudo, a perseverança final, que é um dom de Deus completamente gratuito, não se obtém senão pela humilde e perseverante oração. Por isso, dizia Santo Afonso de Ligório que "aquele que ora se salva; e aquele que não ora, se condena". Eis aqui suas próprias e categóricas palavras: "Coloquemos, portanto, fim a este importante capítulo resumindo tudo o que foi dito e deixando bem estabelecida esta afirmação: que o que ora, se salva certamente, e o que não ora, certamente se condena. Se deixarmos de lado as crianças, todos os demais bem-aventurados se salvaram porque oraram, e os condenados se condenaram porque não oraram. E nenhuma outra coisa lhes produzirá no inferno desespero mais espantoso do que pensar que teria sido muito fácil salvar-se, pois o teriam conseguido pedindo a Deus suas graças, e que agora serão eternamente desgraçados, porque passou o tempo da oração". (ROYO-MARÍN. Teologia da Perfeição Cristã. Quarta parte; A vida de oração)

DEFINIÇÃO DE ORAÇÃO MENTAL:


Meditação é a aplicação racional da mente a uma verdade sobrenatural para nos convencermos dela e nos movermos a amá-la e praticá-la com a ajuda de graça.


"É a aplicação racional da mente a uma verdade sobrenatural" porque usamos da nossa capacidade de imaginar, refletir, discorrer alguma verdade, mas não qualquer uma, uma verdade que se refere às realidades espirituais, por exemplo: a Paixão do Senhor, a beleza das virtudes sobrenaturais, a morte do ímpio e do justo, o inferno, o juízo, o céu; "para nos convencermos dela e nos movermos a amá-la e praticá-la com a ajuda da graça" explica-se pelo fato de que nossa vida espiritual deve estar firmemente alicerçada em convicções sérias acerca de nossa fé, daí a importância do convencimento, e de amarmos aquilo que acabamos de conhecer, porque o mero conhecer não produz méritos para a vida eterna, mas a prática da virtude, com o auxílio da graça, movida pela inclinação da vontade que ama e deseja ser de Deus produz. “Deus retribuirá a cada um segundo o seu procedimento”(Rm 2, 6)


A falta do discurso na meditação provoca seu desaparecimento, podendo fazer o indivíduo cair na distração ou em outros tipos de oração, tais como afetiva e de contemplação. A meditação não é um estudo, sua finalidade não é meramente o conhecer, mas também mover a vontade a amar; contudo, sendo a vontade uma potência cega, ela só pode desejar o que lhe é proposto pela inteligência, daí os fins intelectivo e afetivo da oração mental, conhecer e amar. Se há a falta do elemento afetivo, não há oração de modo algum, e a meditação se reduz a estudo. Por fim, deve haver um propósito firme de praticar  as consequências que se desprendem da verdade meditada, o que deve ser feito com uma súplica a Deus.


As parábolas que Nosso Senhor contava são, em certo sentido, meditações. Perceba: Primeiro Jesus excitava a imaginação dos seus ouvintes, com uma pano de fundo, e contava uma história em cima daquilo, explicando os elementos, e seus discípulos deveriam prestar atenção e depois recolher algum fruto para sua vida.

 

NECESSIDADE DA ORAÇÃO MENTAL:

 

São muitos os testemunhos dos santos e mestres espirituais que confirmam não somente a necessidade moral da meditação para o processo de santificação, mas até sua grande importância para a salvação. Eis alguns:


“A terra está em desolação, porque não há quem se recolha em seu coração a meditar” (Jeremias 12, 11) Dizia Santa Teresa que quem deixa a meditação “em pouco tempo se torna um animal ou um demônio” (Sta.Teresa, Moradas primeiras,, c.I, Obras, IV, p.10.)


“Quem deixa a meditação, portanto, deixará de amar a Jesus Cristo”(Santo Afonso, Prática do amor a Jesus Cristo, p.99. Editora Santuário)


Também Royo Marín disserta acerca da importância da oração mental:


Com razão, pois, afirma Santo Afonso de Ligório que a oração mental é incompatível com o pecado. Com os demais exercícios pode a alma seguir vivendo no pecado, mas com a oração mental bem feita não poderá permanecer nele muito tempo: ou deixará a oração ou deixará o pecado. É, pois, de maior importância para a salvação eterna a prática assídua e cuidadosa da meditação cristã.

É ABSOLUTAMENTE IMPRESCINDÍVEL PARA A ALMA QUE ASPIRE SANTIFICAR-SE.


O conhecimento de si mesmo, a humildade profunda, o recolhimento e solidão, a mortificação dos sentidos e outras muitas coisas absolutamente necessárias para chegar à perfeição apenas se concebem e são moralmente impossíveis sem uma vida séria de meditação bem preparada e assimilada. A alma que aspira a santificar-se entregando-se completamente à vida apostólica com declínio e prejuízo de sua vida de oração, já pode despedir-se da santidade. A experiência confirme com toda certeza e evidência que absolutamente nada pode suprir a vida de oração, nem sequer a recepção diária dos Santos Sacramentos. São legiões de almas que comungam e os sacerdotes que celebram a santa missa diariamente e que levam, todavia, uma vida espiritual medíocre e enferma.


A explicação não é outra além da falta de oração mental, seja porque a omitem totalmente ou porque a fazem de maneira tão imperfeita e rotineira, que quase equivale a sua 53 omissão. Repetimos o que dissemos mais acima: sem oração, sem muita oração, é impossível chegar a perfeição cristã, qualquer que seja nossa estado de vida ou as ocupações as quais nos dediquemos. Nenhuma delas, por santa que seja em si, pode suprir a oração. O diretor espiritual deve insistir sem descanso neste ponto. A primeira coisa que deve fazer quando uma alma se confia à sua direção é levá-la à vida de oração. Não ceda neste ponto. Peça contas de como está indo, que dificuldades encontra, indique os meios de superá-las, as matérias que deve meditar com preferência, etc. Não conseguirá centrar uma alma até que consiga que se entregue à oração de uma maneira assídua e perseverante, com preferência a todos os demais exercícios de piedade. Embora seu exercício diário e prolongado é absolutamente indispensável, está muito longe de sê-lo o método ou procedimento concreto que deva seguir.


(ROYO-MARÍN. Teologia da Perfeição Cristã. Quarta parte; A vida de oração)

 


MÉTODO DA ORAÇÃO MENTAL E ALGUNS AVISOS:


Ao longo dos séculos, diversos foram os métodos propostos para que a meditação fosse realizada. Na antiguidade, repetia-se muitas vezes um trecho do salmo 69: "Deus in adjutorium meum intende" [Vinde ó Deus em meu auxílio]; a partir do séculos XVI já aparecem tantos outros, inclusive os mais populares: o de Santo Inácio e o chamado “método de São Sulpício”, também o de São Francisco de Sales e o de Santo Afonso.


O fato de existirem vários métodos é devido à realidade de que cada alma possui gostos, facilidades e dificuldades diferentes com a meditação. Portanto, não se prenda tanto ao método, ele não é indispensável, mas também não é desprezível, especialmente no início da vida de oração. Trate com seu diretor espiritual sobre o assunto e escolha algum dos métodos. É fácil encontrar o método de Santo Inácio, Santo Afonso ou o de São Francisco de Sales na internet.


Devido à quantidade enorme de formas para fazer a meditação, iremos expor aqui somente o essencial, o que não deve faltar para que a oração seja bem feita, e, depois, alguns conselhos para a prática frutuosa da meditação:


  1. Colocar-se na presença de Deus, imaginando a Pessoa de Cristo perto de você, ou a Inabitação trinitária, por exemplo;( o texto a ser meditado pode ser de algum livro, por exemplo, “Imitação de Cristo”, “Breviário da confiança”, “Preparação para a morte”)

  2. Reconhecer a sua miséria e pedir a Deus a graça de um tempo frutuoso de oração;

  3. Imaginar o mistério que será meditado e, depois de alguns instantes, refletir sobre aquilo, como um cachorro que está a roer um osso.. Exemplo: A mansão celestial, onde estão os santos e os anjos, e perguntar-se “o que fazem os habitantes do céu?”, “por que são felizes? Há dor, há sofrimento?”, “Tenho vivido de forma a merecer tão bela Pátria?”.

  4. Conversar com Deus sobre o que foi meditado, louvá-lo, aspirar ao céu, detestar o pecado, fazer atos de amor, de fé, de humildade e, especialmente, PEDIR. O mais importante da oração é pedir.

  5. No fim da oração, fazer um propósito, concreto: farei tal coisa, deixarei tal situação, tal alimento, farei mortificação daquilo. Sem esse propósito, a oração perde quase todo o seu valor.

 

Agora, alguns avisos sobre a oração de meditação:


As considerações não devem ser muito longas com fadiga; os afetos, colóquios e petições podem ser feitos a qualquer instante da meditação, mas os propósitos e resoluções somente no fim, com o fito de evitar distrações; convém repetir os pedidos muitas vezes e demorar-se neles, pois como foi dito, pedir é o mais importante, porque Deus normalmente só concede a quem pede, e muitas vezes só com uma “santa importunação”; não se deve encurtar ou deixar a meditação por aridez ou falta de consolações; o tempo da meditação varia segundo a vida de cada um: São Francisco de Sales recomenda uma hora de meditação, e assim também Santo Inácio, Santo Afonso recomenda 30 minutos para os iniciantes. De todo modo, o tempo deve ser definido com generosidade, mas não com exagero. Convém tratar com o diretor espiritual sobre isso.


Para finalizar, segue uma oração de Santo Afonso para pedir o dom da oração mental:


Ó Santo e Divino Espírito,não quero mais viver para mim mesmo;

em Vos amar e agradarquero empregar tudo o que me resta da vida.

Com este fim, Vos peçoque me concedais o dom da oração mental.

Vinde a meu coração, ensinai-me vós mesmoa praticá-la como se deve.

Dai-me a força de não deixá-la por tédio no tempo da aridez;

dai-me o espírito de oração,isto é, a graça de sempre orar e de fazer aquelas orações

que sejam mais agradáveis ao vosso divino Coração.

Por meus pecados me havia perdido;mas por tantos sinais de vossa ternura,

reconheço que quereis a minha salvação e santificação.

Quero santificar-me para Vos agradare amar mais a vossa infinita bondade.

Amo-vos, ó meu soberano Bem, meu amor, meu tudo,

e porque Vos amo, dou-me todo a Vós.

Ó Maria, minha esperança, protegei-me. Amém!

 

Comments


bottom of page